Nestes últimos dias tem havido uma controvérsia enorme nas comunidades gay e geek desde que Brendan Eich se viu obrigado a deixar o cargo de CEO da Mozilla, detentora do popular browser Firefox. Tudo porque foi (re)descoberto que anos antes Eich doou dinheiro à Prop 8 que pretendia (e conseguiu-o momentaneamente) tornar ilegais mais uma vez os casamentos entre pessoas do mesmo sexo no Estado da Califórnia.
Se por um lado não estão em causa as qualidades como profissional, nomeadamente na área da programação, Eich, ao subir ao cargo de CEO de uma empresa que se declara apoiante da liberdade e da igualdade, recebeu quase de imediato o confronto das comunidades gay que protestaram e que veio a dar no popular site OK Cupid bloquear o Firefox de utilizar os seus serviços.
As reações pela internet e os comentários que surgiram rapidamente se extremaram e, mais uma vez, fiquei chocado com o grau de ódio que ainda existe em relação à comunidade gay, ainda para mais de um grupo de pessoas informado, os geeks. De referir que estas comunidades, sendo completamente distintas na sua essência, não são obviamente exclusivas, sendo que a Mozilla emprega muitos gays que também são geeks (ou será que é ao contrário?).
O cargo de CEO de uma empresa passa por representá-la e Eich, ao ter ideiais opostos ao que a Mozilla acredita, nunca poderia ser um bom representante da mesma. Por isso é com naturalidade que o vi a sair depois da pressão que a controvérsia lhe causou.
Li muitos comentários (e até respondi a alguns aqui) que não entendiam a razão de tal abandono, que a liberdade de expressão estava posta em causa, que os seus ideais apenas a ele pertenciam e que ele tinha sido alvo de bullying por parte da comunidade gay.
Ora, o que acontece é que Eich não é apenas um homem com uma opinião preconceituosa, ele doou dinheiro para ver reduzida a liberdade de um grupo de pessoas, ou seja, agiu activamente contra os direitos universais perante a lei da comunidade gay. E é esse o problema, é que não foi apenas uma opinião que, de qualquer das formas, poderia sempre ser confrontada, a liberdade de expressão não impede que haja reações ou confrontos com pessoas que opinem de outra forma.
Mais, Eich recusou admitir a sua homofobia e o apoio que lhe fez há uns anos, não havendo qualquer hipótese de mudança de ideia que é, no final de contas, aquilo que queremos, que as pessoas percebem que não somos monstros nem têm nada a temer por existirmos como somos, iguais como eles perante a lei. Obama, por exemplo, nunca sendo contra a comunidade gay de início começou por ignorar os temas até que percebeu que não mais o podia fazer e assumiu mais tarde o seu apoio aos direitos dos gays. Eich não mudou, Eich permanece um homofóbico. Foi essa teimosia orgulhosa de Eich que acabou por derrubá-lo. E ainda bem.
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