Sobre A Intolerância Gay

Hoje trazemo-vos mais um artigo escrito pelo Nuno (obrigado, mais uma vez, por tudo) que se foca numa das maiores incoerências que o ser humano pode ter: ser hostil para com os seus semelhantes, neste caso específico, a homofobia que muitas vezes se vê de pessoas gays para outras pessoas gays. Leiam:

“I rise up to the sky. You threw me down but I’m gonna fly. And rise like a phoenix, out of the ashes, seeking rather than vengeance… retribution”

Sendo orgulhosamente homosexual, talvez hoje mais que nunca, gosto de pensar que sou também por definição mais tolerante no que toca a questões sociais e de aceitação de tudo o que foge à normativa do que é regente. No entanto quando a vitória da “mulher barbuda” Conchita Wurst aconteceu há pouco mais de um mês confesso ter sido dos primeiros a desqualificá-la como aberração kitsch tornada em boneco político de uma Europa liberal preocupada com a ascensão da extrema direita e descriminação para com a comunidade e defensores dos direitos LGBT.

Tudo independente da qualidade da música e da mensagem que invoca. Essa parece que só fez sentido quando surgiu online o video do cover da mesma pela artista que talvez mais admiro no mundo, Tori Amos.

Aí finalmente tudo se materializou na compreensão total do simbolismo óbvio mas de um impacto tremendo que ela conjura. O mito da fénix sempre me atraiu desde criança, seja ele contado na sua forma mais tradicional ou na versão Marvel Comics.

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Esta última inspirou-me inclusivamente a levar essa atração adolescente ainda mais avante e tatuá-la no meu braço há uns anos atrás quando eu próprio, perdoem-me o cliché da expressão/situação, renasci.

Depois desse momento revi Conchita na sua gloriosa actuação e percebi que não se tratava de um simples gesto político ou de desesperante egotismo, mas sim uma confissão pessoal feita num púlpito popular para todos verem e, se para tal estiverem inclinados, nela se reflectirem. A realidade é que a “não naturalidade” de Conchita ou da persona que criou para se metamorfosear é uma afirmação tremenda sobre a individualidade e celebração da diferença em tudo o que é humano, qualquer que seja a sua origem ou forma de expressão.

Assim comecei a pensar na própria descriminação que existe dentro da comunidade gay para com membros que a ela pertencem. E ela consegue tão ou mais dilacerante que a oriunda dos sectores mais conservadores e intolerantes que pretendem ver na homossexualidade um indício apocalíptico do final dos tempos. Uns porque querem combater estereótipos da pior forma possível negando a sua existência em lugar de louvá-los abertamente, outros porque exageram nesses mesmos excessos para se tornarem em algo que eles próprios não acreditam, chegando inclusivamente a desdenhar o suporte da causa por pessoas que não pertencem à comunidade LGBT.

E por isso é que a figura de Conchita, tão frontal e sem pudor, pode ser tão elusiva no seu intuito e alvo. Mas na realidade ele é tremendamente simples, e tal como a própria afirma no discurso de aceitação do prémio, e de pura união. Entre TODOS os membros da “comunidade” gay, sejam eles mais os mais exuberantes ou os mais reservados e todos os que caem no meio, e aqueles que se juntam em uníssono pela defesa dos direitos humanos.

Para finalizar deixo as palavras da brilhante e veterana comediante Dawn French aquando da visita de Wurst ao talk-show britânico de Graham Norton: “O fenomenal em ti é que levantas tantas questões e no entanto és também a resposta a todas elas”.

Não podia concordar mais com ela.

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