Na semana passada, durante a conferência TED Women 2017, o ator Justin Baldoni fez uma poderosa apresentação sobre o que significa ser-se homem. Começou por afirmar estar cansado de representar o papel de macho, símbolo vigente de força e coragem. Mas encaixa num estereótipo de masculinidade tóxica que não só magoa as mulheres mas também os próprios homens. Prosseguiu dizendo que ressentiu a extrema sensibilidade do pai durante o seu crescimento. Porque não o ensinou a ser homem o suficiente e a rejeitar as qualidades nele que considerava femininas. Porque não o ensinou a trabalhar com as mãos. A praticar tarefas que fossem sinónimo de virilidade. Uma sensibilidade que agora lhe dá a coragem para ser vulnerável.
Mas é um caminho difícil e sinuoso. Os homens são ótimos conversadores: sobre desporto, política, mulheres. Mas sobre eles próprios, para além das conquistas vãs, é-lhes impossível. Mostrarem-se fracos. Em sofrimento. Chorar. Desesperar. Amar. Porque essas qualidades são atribuídas às mulheres. O recente percurso de Baldoni enquanto ativista feminista levou-o a ter centenas de milhares de seguidores. Quase exclusivamente mulheres. Decidiu então fazer um teste sociológico: começar a colocar publicações sobre o seu treino de ginásio e outros assuntos considerados masculinos e os homens começaram a aparecer. Mas quando partilhou uma foto a beijar a sua mulher e depois de uma seguidora fazer tag ao seu namorado num comentário, este último respondeu-lhe que tinha de deixar de o assinalar em “merdas gay” como aquela. Baldoni ripostou questionando-o como é que mostrar amor pela mulher era gay, “como se ser gay fosse ser-se menos homem“, e, para sua surpresa teve uma agradável surpresa quando o comentador pediu desculpa e agradeceu-lhe o espaço dado para ser ele também vulnerável.
Enquanto homens estamos predefinidos socialmente para não pedir ajuda a outros homens, mesmo os amigos e familiares mais próximos. Porque é sinónimo de vulnerabilidade. De feminilidade. Mas quando finalmente se ganha a força suficiente para demonstrar fraqueza, os outros homens reveem-se nesse mesmo impedimento por eles impostos socialmente e deixam cair as barreiras. Caem as máscaras que tiveram de usar para serem considerados homens o suficiente. Mas chega. Baldoni termina, depois de exigir aos homens para quebrar o telhado de vidro que eles próprios instalaram, por pedir às mulheres que os ajudem a celebrar a sua vulnerabilidade e que não desistam deles num percurso árduo de contrariação de séculos de formatação.
Há poucos dias defrontei, algures numa rede social, um homem a perguntar, sarcasticamente, se existia masculinidade tóxica. Como se algum tipo de masculinidade pudesse ser efetivamente má. Como se as expetativas de virilidade nos homens colocadas não fossem nada senão positivas. Como se a luta do feminismo fosse exclusivamente endereçada às mulheres e não aos homens. A masculinidade tóxica existe. E afeta todos os homens. Menospreza-os. Silencia-os. Mata-os. Todos os dias.
Enquanto homem passei toda a minha juventude e adolescência a tentar encaixar-me num papel de género que considerava ser-me destinado. A reprimir tudo aquilo que constituía a minha verdadeira personalidade para não dar nas vistas e tentar passar despercebido. Fui machista. Fui misógino. Fui homofóbico. Agora, enquanto orgulhoso homem gay e ainda mais orgulhoso feminista, peço também eu desculpa. Não só a mim mesmo por me ter aprisionado durante décadas, mas principalmente às pessoas que me rodeavam e afetei, consciente e inconscientemente, na minha tentativa frustrada de me encaixar no papel que considerava ter sido escolhido para mim. Mas cabe-nos a nós, homens, escolher os nossos papéis e aceitar que o masculino e o feminino está presente em todos e todas. Cabe-nos a nós decidir quem somos. E quem vamos ser nesta batalha pela igualdade. Se não formos aliados – a marchar, a levantar a voz em uníssono, a reconhecer o privilégio e, acima de tudo, estar dispostos a perdê-lo – continuaremos a ser inimigos. Esta luta não é só de algumas ou alguns. É nossa.