Lei Histórica de Autodeterminação de Género Aprovada no Parlamento Português

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Depois de se ver aprovada a lei de autodeterminação de género na Subcomissão para a Igualdade e Não Discriminação – em parte pela ausência do CDS por “motivos de agenda”, a mesma foi submetida em votação em plenário na Assembleia da República e passou na generalidade com votos contra do CDS e do PSD e votos a favor do PS, BE, Verdes e PAN. O PCP absteve-se na votação geral e Teresa Leal Coelho foi a única deputada do PSD a votar a favor de todos os artigos visados em votação. “Um dia histórico” disse, emocionada, Isabel Moreira do grupo parlamentar do PS em plenário. E é mesmo.

Esta lei agora aprovada visa a autodeterminação de género a partir dos 16 anos, sendo então possível fazer a mudança os documentos de identificação no Registo Civil em conformidade com o género determinado pelo próprio ou própria. Muita discussão aconteceu nas redes e colunas de opinião que procura desvirtuar o quotidiano doloroso das pessoas trans em viver legalmente vinculadas a um género que não é o delas. O próprio processo de luta contra a discriminação, internalizada e depois externa, é moroso para qualquer pessoa trans e só depois disso acontece um verdadeiro reconhecimento identitário. O CDS tentou várias vezes, inclusivamente no dia de hoje no Jornal Económico num artigo de opinião escabroso, fazer crer que o que estava em causa era a possibilidade de menores iniciarem, sem a autorização dos pais nem de relatório médico, os processos cirúrgicos de redesignação sexual. É um metafórico arremessar de areia aos olhos do público que devia ser condenado também publicamente.

O que está e esteve sempre em discussão foi a possibilidade de qualquer pessoa se autodeterminar e escolher como quer ser identificada legalmente, sem a necessidade de testes nem relatórios médicos. Para o Estado, na escola, no trabalho. Muitos e muitas tomamos esse direito como garantido porque não passámos pelas agruras que muitas pessoas trans se batalham diariamente e não temos de pensar duas vezes como as instância superiores que aplicam a Lei Portuguesa nos podem percepcionar. Também  foi aprovada a proibição da mutilação genital em bebés intersexo e da manutenção de todas as características morfológicas até que a sua identidade de género pelo próprio ou própria seja manifestada.

Portugal junta-se assim a um conjunto ainda reduzido de países – que incluem a Noruega, Dinamarca, Bélgica, Irlanda e Malta – em que a luta LGBTI está bem representada na legislatura nacional. As pessoas trans sabem quem são. E hoje podem  sê-lo.


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Respostas de 10 a “Lei Histórica de Autodeterminação de Género Aprovada no Parlamento Português”

  1. […] da frente no que toca aos direitos LGBTI. Eram esperadas reações contra a nova lei que dá “a possibilidade a qualquer pessoa  de se autodeterminar e escolher como quer ser identificada legal…”, tal como “proíbe a mutilação genital em bebés intersexo”. Houve, no entanto, uma que […]

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  2. […] um mês depois da aprovação em sessão plenária da Assembleia da República da lei da autodeterminação de género, Marcelo […]

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  3. […] no passado dia 9 de maio que, após votação histórica na Assembleia da República em que foi aprovada a lei da autodeterminação de género, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou a mesma lei, pedindo ao Parlamento que […]

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  4. […] nos aproximamos, após o veto do Presidente da República, da derradeira hipótese de alterar a lei da autodeterminação de género e abranger jovens trans a partir dos 16 anos, vale a pena perceber como um voto favorável no […]

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  5. […] “O que está e esteve sempre em discussão foi a possibilidade de qualquer pessoa se autodeterminar e….“ […]

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  6. […] entre pessoas do mesmo sexo, à adoção e co-adoção por casais homossexuais e da recente lei da autodeterminação de género. O CDS posicionou-se contra estas leis. Sempre. Com excessão de alguns elementos partidário, como […]

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  7. […] Parlamento aprova adoção e apadrinhamento civil de crianças por casais do mesmo sexo2018: Lei da autodeterminação de género2021: Fim da discriminação na dádiva de […]

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  8. […] como agora na Alemanha, a Lei da Autodeterminação de Género foi aprovada em 2018 em Portugal. A lei em vigor visa a autodeterminação de género a partir dos 16 anos, sendo então possível […]

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  9. […] legal foi sendo combatida ao longo das décadas: o casamento, a adoção, o reconhecimento das identidades trans, o fim da discriminação na dádiva de sangue, a criminalização das “terapias de conversão” […]

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  10. […] avanços legislativos notáveis: o casamento entre pessoas do mesmo sexo (2010), a adoção (2016), a autodeterminação da identidade de género (2018) e a proibição das práticas de conversão […]

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