“And then we danced”: Ninguém poderá ficar igual depois do amor

Foi após o episódio de violência sobre o movimento pacífico que assinalava o dia internacional contra a homofobia, transfobia e bifobia em 2013 na Geórgia que o realizador Levan Akin começou a construir a ideia que viria a concretizar-se neste filme.

A questão da repressão contra a comunidade LGBTI numa sociedade ainda demasiado ortodoxa é brilhantemente ilustrada pela mão da metáfora num conflito entre a dança tradicional do país e do protagonista Merab, que apesar do seu talento é reiteradamente advertido pela sua falta de masculinidade, essencial aos olhos dos tradicionalistas que dão voz à imposição do cânone.

Merab é despertado pela chegada de Irakli e o olhar de ambos vai crescendo para a inevitabilidade do seu desejo.  

A paixão de Merab faz com que este se descubra na sua sexualidade e na sua personalidade. Ao longo do filme, muitos são os planos e cenas em que podemos testemunhar a felicidade do apaixonar-se, a vulnerabilidade que isso lhe traz, mas também o sentido e a luz, quando à sua volta tudo parece demasiado difícil, já escrito, inevitável, repetido e sem esperança. 

A alegria da paixão é também o acordar para a possibilidade para lá das dificuldades ou circunstâncias de cada um. E esse despertar deve, sempre, independentemente do final infeliz da história de amor, revelar-nos, fortalecer-nos. O assumir da identidade como único caminho para a expressão do que somos, para que o nosso ser único se cumpra, acrescente e contrarie o medo. Ninguém poderá ficar igual depois do amor. 

É comum que filmes sobre a temática LGBTI tenham finais infelizes. Esta história de amor tem, sim, um desenrolar triste, mas termina com a felicidade maior da descoberta, da superação e da paixão como motor. 

Nunca poderá ser de mais lembrar que a repressão e o preconceito são formas de negarmos e restringirmos a expressão do outro, a sua descoberta e o seu caminho. Muitas vezes alimentados pela própria dificuldade de crescimento de quem também a si nega essa capacidade de evolução. A tradição, para que seja engrandecida, só fará sentido se nela se puder refletir cada um de nós. Assim como numa família, numa cultura ou sociedade é importante estarmos atentos à beleza maior que é a possibilidade da sua raiz poder vir a ter várias formas de flor, contrária à negação que é escudar-se tornando-se estéril, embrutecida. A personagem da amiga de Merab e do seu irmão vão felizmente dar-nos alguma esperança neste sentido e inspirá-lo também. 

O amor só nos poderá tornar mais inteiros, menos ausentes. 

And then, let’s dance.

Tatiana Azevedo