Vandalismo Racista em Escolas e Universidades de Lisboa

Sexta-feira é tipicamente um dia de celebração entre estudantes, independentemente desta pandemia que tudo transfigura. Por isso foi certamente contrastante a esse espírito de libertação a reação de alunas e alunos de várias escolas secundárias e faculdades da região de Lisboa ao chegarem às aulas no último dia da semana.

Durante a madrugada de 30 de outubro foram vandalizadas paredes e muros de vários estabelecimentos de ensino, incluindo a Escola Secundária António Damásio nos Olivais, a Universidade Católica e o ISCTE, todos localizados em Lisboa. As mensagens eram inteiramente racistas e xenófobas e, como tal, não lhes daremos ecos aqui. A reação de repúdio por parte de reitores e associações de estudantes das escolas afetadas foi célere no choque causado por estas ações. Um grupo de estudantes de uma das escolas vandalizadas, a Escola Secundária Eça de Queirós, uniram-se para apagar as mensagens de ódio no próprio dia, juntamente com um professor. 

Apesar de não haver reivindicação de nenhum grupo organizado, não é inédita esta difusão de mensagens de ódio em escolas por Lisboa por parte de grupos de extrema-direita e de ideologia fascista. Também não é coincidência que tais demonstrações tenham vindo a aumentar desde a eleição de um representante dessa mesma ideologia na Assembleia da República e recentemente mais dois (!!!) no Parlamento da Região Autónoma dos Açores. Nenhum destes atos são isolados e, juntamente com a indignação durante os protestos deste ano de sensibilização ao racismo em Portugal, assinalam uma grande afronta à nossa jovem democracia.

O racismo em Portugal esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈

Também se podem perguntar porque um sítio de discussão LGBTI se preocupa com assuntos de xenofobia e racismo sistémicos. Primeiro peço que analisem aprofundadamente a razão dessa inquisição – que eu próprio fiz antes de noticiar este artigo. Segundo, rogo que unam os vários pontos de rutura que se têm vindo a revelar persistentemente nos ideiais de sociedade que temos tentado edificar, baseada na aceitação de todas as nossas diferenças. Terceiro, pergunto porque são tão invisíveis as pessoas não-brancas nas celebrações do Pride em Portugal e que fazem parte da luta diária das pessoas LGBTI. Para um povo que não é racista, facilmente descartamos as suas contribuições e lutas. 

Assumir que somos racistas não é sinal de intolerância propositada. É resultado de uma educação e modelo social que só priveligiam a pele branca e nos ensina a não colocar estas questões desde que somos crianças. Nas escolas, não coincidentemente. Porque nem fomos escravagistas assim tão maus. Porque colonizamos moderadamente. Porque somos educados e educadas a elogiar a glória dos feitos passados do nosso país. Questionar isto hoje não é anti-patriótico. É exatamente o oposto. Não o fazer coloca-nos a todas e todos numa ameaça iminente. Que na realidade já há muito ultrapassou para cá a linha do horizonte.

Fonte: Público; Imagem: Observador