O Melhor de 2020: As Nossas Escolhas Culturais

Duvido que alguém se esqueça de ter vivido o ano de 2020 e não tenha sido o mais difícil de ultrapassar em memória recente. Com a pandemia da COVID-19 todos os dias se transformaram em semanas, semanas em meses, meses em anos. E se começamos a vislumbrar alguma luz ao fundo do túnel com a primeira administração da vacina em Portugal e no resto do Mundo, a realidade é que existiram momentos que nos trouxeram alegria e regozijo ao longo do ano. A arte e o entretenimento foram mais importantes que nunca numa altura em que nos encontrávamos fechadas em casa e com uma socialização diminuta ou inexistente. Estas foram as pérolas que salvaram o nosso infame ano de 2020.

ÁLBUM DO ANO: Chromatica de Lady Gaga

Foi o mais votado da equipa esQrever e a razão é óbvia: numa altura em que estávamos (e continuamos) impossibilitadas de ir a uma discoteca expurgar os demónios pela dança e encontrar comunhão nos corpos a partilharem a mesma vontade, Lady Gaga lançou um disco que nos fez criar as nossas próprias pistas de dança em nossas casas ou em exercícios ao ar livre. Pessoalmente foi a banda sonora das minhas corridas higiénicas e ajudou a exaltar sentimentos de esperança quando ela parecia diminuta. Por isso um grande obrigado ao reino electrizante de Chromatica.

Logo a seguir, e não surpreendentemente, tivemos também os outros álbuns disco do ano: Disco de Kylie Minogue e What’s Your Pleasure de Jessie Ware, ambos a saberem reinventar o estilo clássico da música disco dos anos 70 para 2020 com resultados bem diferentes mas igualmente extasiantes. A fechar os mais votados tivemos também o último disco das HAIM: Women in Music III, que também soube elevar os espíritos quando estes estavam mais em baixo.

Menções Honrosas:
– Perfume Genius – Set My Heart on Fire Immediately
– Empress Of – I’m Your Empress Of
– Rina Sawayama – SAWAYAMA

SÉRIE DO ANO: Hollywood

Num ano em que nos fez ver mais televisão que nunca, o streaming salvou-nos os dias. E a mais votada de todas as séries foi Hollywood de Ryan Murphy e Ian Brennan, uma reinvenção da era clássica do cinema de Hollywood quando a diversidade era colocada de lado em prol de uma sanitização do que era normativo. Murphy, que este ano entregou vários produtos com graus vários de sucesso, conseguiu criar uma nova Hollywood clássica que ousou incluir pessoas que iam contra o sistema, altamente racista, misógino e homofóbico. E ficamos no final a indagar se nos tivéssemos visto mais cedo representadas no grande ecrã se não estaríamos hoje mais visíveis também fora dele.

A morder os calcanhares de Hollywood tivemos outras três séries incríveis: Mrs. America, um recontar das lutas feministas dos anos 70 com um elenco de mulheres incríveis que incluía Cate Blanchett, Sarah Paulson, Uzo Aduba e Tracy Ullman; The Crown na sua quarta (e talvez melhor) temporada a viajar para os anos 80 e a ver o embate entre a Elizabeth de Olivia Colman e a Thatcher de Gillian Anderson; e Sex Education, que na sua segunda temporada, soube ultrapassar-se a si mesma e a usar os trunfos anteriores para elevar a discussão sobre sexualidade de forma livre e descomplexada, particularmente na adolescência, onde tudo isso parece impossível.

Menções Honrosas
– We Are Who We Are
Visible: Out on Television
Veneno
– Better Caul Saul
– Queen’s Gambit
Ratched
– Dead to Me
– I Am Not Okay With This
– Grace And Frankie
– Gentleman Jack
The L Word: Q Generation
– Schitt’s Creek

O melhor de 2020 esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈

FILME DO ANO: Disclosure e A Secret Love (empate)

Como não podia ser neste ano de confinamento as nossas escolhas foram dois documentários que não estrearam em cinema mas sim na Netflix. Disclosure delinea a conturbada história das pessoas trans no cinema e televisão norte-americanas enquanto A Secret Love conta o romance lésbico de décadas de duas octagenárias que se conheceram a jogar basebol profissional durante a Segunda Guerra Mundial. Ambos os documentários entregam poderosíssimos testamentos do espírito humano e da sua vontade maior de ser visto e amado.

A reinvenção de Little Women de Greta Gertwig também teve um grande número de votos, com a sua visão mais feminista da história das irmãs March a conquistar um lugar nos nossos corações e memórias, particularmente nas interpretações inesquecíveis de Saoirse Ronan e Florence Pugh.

Menções Honrosas:
Alice Júnior
Retrato de uma Jovem em Chamas
– JoJo Rabbit
– Feministas

Nos livros não se encontrou um consenso mas ficam aqui algumas sugestões da nossa equipa para levarem novas leituras para 2021: Criminal Intentions de Cole McCade; Green Creek de T.J. Klune; The Making of Jonty Bloom de Barbara Elsborg; Boyfriend Material de Alexis Hall; The Devil Inside por Nicky James; Amantes de Buenos Aires de Alberto S. Santos; Rubyfruit jungle de Rita Mae Brown; King Kong Théorie de Virginie Despentes; Ambições de Ana de Castro Osório; Pão de Açúcar de Afonso Reis Cabral; Homossexualidade e Resistência no Estado Novo de Raquel Afonso; They love each other de Hugh Nini & Neal Treadwell; Find Me de André Aciman; As Estradas São Para Ir de Márcia.

Esperamos encontrarmo-nos novamente em 2021 e que este seja um ano bem mais celebratório e recompensador que 2020. Até já 🙂

Votantes: Sandra Gomes, Maria Amélia, Zé Tó, Ana Vicente, Nuno Gonçalves, Filipe, Diogo Pereira, Ana Teresa, Pedro Carreira, Nuno Miguel Gonçalves.