Violência Sexual: Pedidos de apoio À ‘Quebrar o Silêncio’ aumentaram 21% em 2020

Apesar de a maioria dos casos ser de homens na casa dos 30 anos, começamos a ver cada vez mais jovens na casa dos 20 anos que procuram apoio – Ângelo Fernandes.

A Associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de abuso sexual e que marca hoje o quarto ano de atividade, recebeu nesses anos um total de 371 pedidos de ajuda e o número de pedidos aumentou 21% só no último ano.

A pandemia da Covid19 poderá ter precisamente influenciado alguns dos novos casos, dado que, segundo Ângelo Fernandes, presidente da associação, “para muitos homens o trabalho e as atividades fora de casa são uma forma de gerir o impacto traumático do abuso. São estratégias que, segundo os próprios homens, os ajudam a manterem-se ocupados e a evitar que a sua mente seja assaltada por flashbacks do abuso, memórias indesejadas, pensamentos cíclicos e sentimentos dolorosos.” O confinamento que a pandemia da covid19 trouxe impediu assim “os homens de usarem estas estratégias, o que os torna mais susceptíveis e vulneráveis“. Além disso, para alguns homens, o confinamento potencia sintomatologia depressiva e o aumento significativo de ansiedade, que os pode colocar em momentos de crise.

No ano 2020 a associação registou 120 pedidos de ajuda e, apesar de a grande maioria dos casos que lhes chega ser de homens na casa dos 35 anos, tem notado um crescente números nos pedidos por jovens na casa dos 20 anos. Alcançar este novo grupo de homens é assim um dos objetivos a que a associação se propões dado que são pessoas “que precisam do nosso apoio.” Relembramos que a maioria dos homens que procura a ajuda da associação ronda os 35 anos, o que significa que passou “cerca de 20 anos em silêncio por causa do abuso” de que foi vítima.

Muitos dos homens que chegam à ‘Quebrar o Silêncio’ é a primeira vez que partilham a sua história. “Há um tabu silenciador sobre a realidade dos homens que foram vítimas de abuso. Este silêncio isola as vítimas e impede que procurem o apoio de que necessitam”, refere Ângelo Fernandes.

Se no passado a associação chegou a dar apoio psicológico mensal a cerca de 14 vítimas, o número subiu hoje para os 20 a 24 atendimentos regulares por mês.

Em 2021 a ‘Quebrar o Silêncio’ continua a expandir a atividade na área da prevenção da violência sexual, nomeadamente contra crianças através de um conjunto de workshops dirigido a pais e mães, e também com ações de formação para docentes. “Recebemos [67] solicitações de pais e mães que procuram saber como agir de forma preventiva e proteger as suas crianças.” Para 2021, a associação acabou por adaptar esta iniciativa ao formato Zoom, uma vez que continua a ter várias pessoas e entidades interessadas. “Sabemos que as escolas têm um lugar central na vida das crianças e que o pessoal docente necessita de ferramentas para agir de forma preventiva e também em caso de abuso. É importante não esquecer que uma em cada cinco crianças é vítimas de violência sexual”, reforçou o presidente da associação.

Atenta à forma como é feita a comunicação a notícias de abuso e violência sexual, em 2021 a ‘Quebrar o Silêncio’ irá lançar precisamente um guia e um site para os órgãos de comunicação social com orientações para a escrita de notícias e artigos deste teor, e publicar ainda o primeiro artigo científico sobre violência sexual e Perturbação de Stresss Pós-Traumático em homens vítimas de abuso sexual.

Contactos ‘Quebrar o Silêncio’:
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt
Site da Associação

Fotografia por kilarov zaneit.

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