Gretas, rachas e outras aberturas

Tive uma conversa muito interessante que faz todo o sentido partilhar convosco. Sobre nós, enquanto pessoas feministas e ativistas, sobre livros, leituras, sobre espaços, portas e aberturas de mentalidade e, vá, sobre vulvas!

©Enric Vives-Rubio

Lorena Travassos, luso-brasileira a residir em Lisboa há vários anos, criou a Greta – Livraria feminista e a nossa conversa começou logo pelo nome. Segundo Lorena, há muitas pessoas que não gostam e acham uma palavra “agressiva, feia”.

Mas, para Lorena, essa palavra, nas suas diferentes leituras, possibilidades e até diferenças entre Portugal e Brasil, enriquece e espelha as intenções deste projeto.

Afinal uma greta é o quê?

in  https://dicionario.priberam.org/greta 

E que Greta é esta?

A Greta é “uma livraria e espaço para venda e discussão de material produzido por mulheres”, ainda em construção.

Eu diria que mais que preencher um vazio, a Greta junta-se, com a sua intenção e ação, a um movimento crescente de alimentar o universo feminista em Portugal (mas não só), abrindo todas as frechas, estalando todos os esmaltes, rachando todas as barreiras, alargando mentes estreitas. Criando mais espaço para ter acesso a material produzido por mulheres sobre mulheres em toda a sua diversidade.

Se existem fendas e falhas na igualdade e na justiça, temos de continuar a fazer delas novas aberturas para ocupar mais espaço e mais liberdade, reforçando aquilo que nos une e combatendo em conjunto aquilo que nos trava nessa ocupação. E a existência deste tipo de projetos é mais uma marca para essa união e força.  

Nesse sentido, vemos que este projeto ambiciona a ser mais que uma livraria. Esta é a porta para uma ideia mais vasta de “espaço de referência sobre discussão de género”, com lugar a debates, workshops, cursos e outros eventos que possam surgir.  

Ao mesmo tempo, é notória a importância de ser um projeto da língua portuguesa, transfronteiriço, transatlântico, que pretende juntar a produção literária de mulheres de diferentes países que habitam este espaço diverso da fala/escrita portuguesa, evocando a marca do colonialismo e convocando estas mulheres de língua portuguesa para a discussão e para a reflexão conjunta.

Neste momento, este projeto está a dar os primeiros passos e precisa da nossa ajuda. Foi criado um crowdfunding para a criação do site. Este site será o primeiro espaço da livraria, sendo que o objetivo é posteriormente passar para um espaço físico, em que livros, pessoas, ideias, educação e ativismo possam habitar em segurança. E em todo o seu feminismo.

Portanto, desta Greta, nascem pontes. A interseccionalidade é o mapa deste espaço, em que as diferentes lutas e as diferentes frechas se encontram e unem na construção de um “mundo mais justo e ético”, em que feminismo e direitos das mulheres caminham com luta anti-racista, direitos LGBTI e democracia.

Porque, diria eu, só com interseccionalidade podemos ser realmente feministas.

Longa vida para a Greta – Livraria feminista, com toda a sorte, com muitas pessoas a contribuir agora e depois ainda mais a juntarem-se para continuarmos a luta, a discussão, a leitura. Grata, Greta!