EUA: Primeiros dados do Census indicam disparidades profundas sobre pessoas LGBTI

Pormenor gráfico do Daily Beast.

Os resultados são ainda preliminares, mas indicam que as disparidades que a população gay, lésbica, bissexual, trans e intersexo norte-americana enfrentou antes da pandemia se instalar continuaram por 18 meses. Para alguns grupos, essas disparidades aprofundaram-se.

De acordo com os dados, recebidos entre 21 de julho e 13 de setembro de 2020, as pessoas LGBTI relataram ser mais propensas do que a restante população a perder emprego, a não ter o suficiente para comer, a estar em alto risco de despejo e a enfrentar dificuldades em pagar despesas domésticas básicas, de acordo com a pesquisa que mede como a população norte-americana enfrentou a pandemia através de marcadores económicos.

Anteriormente, nenhuma grande pesquisa do governo tentou capturar as experiências económicas de pessoas LGBTI. Até este Census, as análises realizadas eram limitadas a estudos de “casais do mesmo sexo”, uma questão que o Census começou a analisar em 1990, embora com sucesso limitado, dado que deixava de fora uma parcela significativa de pessoas LGBTI. A falta de dados precisos sobre a população como um todo — e particularmente sobre pessoas trans, um grupo que foi cronicamente subpesquisado — dificultou qualquer resposta federal a desigualdades persistentes.

As tendências que emergem nos dados agora recolhidos são consistentes com o que outras pesquisas encontraram antes da pandemia como a discriminação no emprego, subremuneração, práticas discriminatórias de empréstimo e outras políticas que resultam numa mobilidade económica limitada para as pessoas LGBTI.

De acordo com uma análise das quatro primeiras divulgações de dados da pesquisa do Census, até 23% das pessoas LGBTI e 32% das pessoas trans relataram ter perdido o emprego no mês anterior ao Census ter realizado o seu questionário. Comparativamente, cerca de 15 a 16% das pessoas não LGBTI relataram o mesmo.

Cerca de 12% das pessoas LGBTI disseram que às vezes ou muitas vezes não tinham o suficiente para comer. Para a restante população o número estava entre 6% e 7%, e para pessoas trans esse número chegou aos 24%. Cerca de 31% das pessoas LGBTI disseram ter dificuldade em pagar as despesas domésticas básicas; para pessoas não LGBTQ+ foi de 23%.

A insegurança habitacional prevaleceu em todos os grupos, tendo mais de 40% das pessoas afirmado que eram muito ou um pouco propensas a enfrentar despejo até o final de setembro ou outubro.

Estas são disparidades sistémicas que observámos antes da pandemia, mas que a pandemia não apenas as aprofundou, como também as ampliou”, disse David Schwegman, professor assistente de políticas públicas e administração da American University, que realizou pesquisas sobre casais do mesmo sexo e discriminação habitacional.

Contar com pessoas marginalizadas para entender melhor os problemas que enfrentam não significa necessariamente que seu sofrimento será abordado por meio de políticas, observou Dean Spade, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de Seattle. Lamentavelmente, as pessoas trans estão habituadas a que serviços sociais não as incluam ou não sejam projetados com elas em mente. É por isso que as pessoas trans, por exemplo, estão a ajudar-se mutuamente a pagar procedimentos médicos que não são cobertos por seguros, abrigando aquelas que vivem em situação de sem-abrigo e criando redes de ajuda mútua. “Estamos a ajudar-nos mutuamente a sobreviver”, explicou Spade.

Ainda há desafios significativos com os dados. Por exemplo, o tamanho das amostras é pequeno, uma questão que impediu comunidades marginalizadas, incluindo mulheres asiáticas, nativas americanas e mulheres das ilhas do Pacífico, de serem representadas em várias pesquisas nacionais.

O Census Bureau disse em comunicado que atualmente não tem análises adicionais a oferecer sobre os dados, embora tenha lançado conclusões de que as pessoas LGBTI são efetivamente mais propensas do que a restante população a enfrentar dificuldades económicas. “O foco principal tem sido coletar e divulgar dados em tempo útil, mas há planos no futuro para lançar dados que fornecerão contexto adicional”, disse a agência.

O outro desafio tem sido elaborar perguntas de uma maneira que leve em conta as lacunas de conhecimento que as pessoas podem ter sobre qual terminologia melhor as descreve. A pesquisa do Census, por exemplo, pede às pessoas entrevistadas que escolham qual a melhor expressão que as representa: “gay ou lésbica”; “bissexual”; “algo mais”; “não sei”; ou “heterossexual, não gay nem lésbica”. Em tentativas passadas de formular estas questões, descobriu-se que pessoas heterossexuais identificavam-se incorretamente, pelo que frases adicionais foram adicionadas para melhorar a clareza.

A pesquisa também pergunta se as pessoas se descrevem como masculinas, femininas ou trans, e algumas pessoas transg podem não querer identificar-se, dado o aumento de leis contra as mesmas em todo o país, disse Schwegman.

O problema para as políticas relacionadas à pandemia que estão a ser negociadas no Congresso neste outono é que estes dados podem chegar tarde demais, explicou Bianca D.M. Wilson, investigadora de políticas públicas do Williams Institute.

Passaram 18 meses desde o início da pandemia, e se tivesse sido esse o ponto de partida, não estaríamos hoje a olhar para um tamanho de amostra que criasse problemas para todas as análises que queremos fazer para entender uma experiência transespecífica”, disse Wilson.

Recordamos que nos Estados Unidos da América, as pessoas que se identificam como LGBT subiu para o valor recorde de 5,6%, sendo que a nova estimativa subiu mais de um ponto percentual em relação a 2017 e a maioria das pessoas LGBT afirma-se bissexual.


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One comment

  1. Essa questão – persistente – no âmbito financeiro, não se refere apenas em época de Crise Sanitária, mas na ênfase da sexualidade dada no cotidiano das pessoas! Muitas vezes é “gasto tempo e energia” para ser “aceito” como homossexual ou bissexual, prejudicando a formação escolar e acadêmica! Muitos colegas e conhecidos, de atuação profissional insatisfatoria, via de regra, não exerciam/não exercem a sexualidade em sua plenitude: mesmo se a paquera fosse correspondida, buscavam/buscam se firmar como “hetero”!

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