James Webb: Entre o telescópio e a perseguição homofóbica

James Webb: Entre o telescópio e a perseguição homofóbica

Têm sido várias as críticas à decisão da NASA em homenagear James Webb, acusado de estar relacionado com a perseguição anti-LGBTI+ durante a sua administração. Pessoas astrónomas lançaram inclusive uma petição, mas a agência espacial já confirmou que não vai mudar o nome do observatório que desvendou aquela que é a mais detalhada imagem do Universo e que foi fruto de um investimento de mais de três décadas de pesquisa e 10 mil milhões de dólares.

O nome do telescópio Webb tem recebido críticas desde pelo menos 2021, por cientistas que alegam que James Webb esteve relacionado com o chamado Lavender Scare (‘o susto da alfazema’), um período de perseguição da comunidade LGBTI+ nos anos 50 e 60. Como resultado desta perseguição administrativa ocorreram despedimentos em massa com base na orientação sexual de pessoas ao serviço do Governo estadunidense, incluindo na própria NASA.

Convidado para dirigir a Nasa no início da administração do presidente John F. Kennedy, em 1961, James Webb foi a liderou a agência espacial até 1968. O militar, político e funcionário público dos EUA supervisionou o primeiro projeto tripulado de exploração espacial, tal como a primeira tentativa da agência de levar astronautas à Lua: a missão Apollo 1.

Petição pediu a renomeação do telescópio

A comunidade astrónoma criou a petição “Renomeie o Telescópio Espacial James Webb” com mais de 1.700 assinaturas e com o objetivo de mudar o nome do telescópio. É uma petição criada pela comunidade astrofísica das universidades de Washington, de Nova Hampshire e de Chicago, além da organização JustSpace Alliance. Nesta consta um artigo da Scientific American que acusa James Webb de ser “responsável por implementar a política federal da altura: a purga de indivíduos LGBT do mercado de trabalho (…) Enquanto pessoa em posição de chefia, Webb foi responsável por políticas postas em prática sob a sua liderança, incluindo as de índole homofóbica quando se tornou administrador da NASA.”

Nos últimos anos, muitos de nós levantámos objeções à escolha de James Webb como homónimo deste telescópio”, lê-se na petição. “Antes de atuar como administrador da Nasa, Webb foi Subsecretário de Estado durante o expurgo de pessoas queer do serviço governamental conhecido como ‘o susto da alfazema’. As evidências de arquivo indicam claramente que Webb estava em conversas de alto nível sobre a criação dessa política e as ações resultantes”, alega.

A petição cita ainda evidências como o interrogatório do funcionário da Nasa Clifford Norton, interrogado pela agência espacial e exonerado no ano de 1963 por “suspeita de homossexualidade”, quando a organização se encontrava sob a direção de Webb. “O registo histórico é claro: sob a liderança de Webb, pessoas queer foram perseguidas“, conclui.

Apesar da contestação, a NASA anunciou em setembro passado que não irá alterar o nome do telescópio. Bill Nelson, o administrador actual da agência, afirmou não ter encontrado “evidência que justifique mudar o nome do telescópio espacial James Webb.”

A decisão da agência foi mal recebida por várias equipas astrónomas que condenaram também a falta de transparência de todo o processo. Johanna Teske, astrónoma no Instituto de Carnegie, em Washington DC, disse: “Sem conhecer que factores foram considerados, é difícil respeitar a decisão de manter o nome.”

Chanda Prescod-Weinstein, uma das investigadoras responsáveis pela petição, escreveu no dia do lançamento das primeiras imagens do telescópio: “O dia de hoje é agridoce. Estou tão entusiasmada pelas novas imagens e tão zangada com a NASA. Os líderes da NASA recusaram, com teimosia, reconhecer que a informação pública sobre o legado de James Webb significa que ele não merece ter um grande observatório com o seu nome.”

A escolha do nome para o grande telescópio partiu de Sean O’Keefe, antigo administrador da NASA, em 2002. A decisão foi recebida com surpresa, tendo em conta que, normalmente, os telescópios da NASA são batizados com o nome de cientistas. A escolha de O’Keefe teve por base o papel de Webb em garantir que a NASA mantivesse a ciência como “uma parte chave do seu portfólio nos anos 60, mesmo enquanto o programa de exploração espacial humana Apollo sugava a maior parte da atenção e orçamento da agência.”

“Ou James Webb era um administrador extremamente incompetente e não sabia que o seu chefe de segurança interrogava funcionários nas instalações da Nasa, ou sabia exatamente o que estava a acontecer e, de certa forma, supervisionava o interrogatório de alguém por ser gay”, disse Prescod-Weinstein. A petição termina com: “O legado de liderança de Webb é, na melhor das hipóteses, complicado, e, na pior, cúmplice da perseguição“.

Dada a resposta negativa da Nasa, cientistas ponderam colocar informações sobre ações de teor LGBTIfóbico nos agradecimentos de artigos científicos em que seja utilizados dados do telescópio.

One comment

  1. Aí ai! bem do gênero mesmo. Perder tempo criando ataques fake, em propósitos de vida das pessoas.
    Imaginem quantas gerações dedicadas a este projeto.
    “Se não são capazes de ajudar, não atrap”F…u”!

    Melhor chamar o telescópio de “Elvira rainha do infra”!

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