
A história entre Sam Smith e Madonna recua a fevereiro, quando a rainha da pop defendeu a estrela não binária de comentários homofóbicos e gordofóbicos. Smith tinha vindo a receber insultos pela sua aparência há semanas e Madonna tomou uma posição. Como não podia deixar de ser, o ícone fê-lo em palco para máxima exposição e efeito: nos Grammys. Madonna chamava assim a palco Sam Smith e Kim Petras para uma performance do hit Unholy.
O próprio discurso empoderador de Madonna acabou por ser o centro das atenções da noite, com inúmeros artigos e comentários a surgirem sobre a sua aparência. De certa forma, mostravam que os ataques a Smith são também eco dos seus. Afinal de contas, Madonna é chamada de ‘demasiado velha’ desde os anos 1990. E, tal como há 30 anos, Madonna não recua.
So watch what you say or I’ll split your banana
No dia seguinte aos Grammys, Sam Smith e Madonna – que se declararam “S&M” – encontraram-se num estúdio para gravar a canção de house pulsante de dois minutos e meio “Vulgar”.
A faixa é inspirada no ballroom e segue apenas vagamente a estrutura de uma canção pop convencional. Com versos próximos do rap, o hook consiste na palavra Vulgar dita cinco vezes para que fique bem cimentada e apropriada pelas próprias vozes. Tudo isto em cima de uma batida EDM e umas cordas épicas e de inspiração oriental.
Lançado durante o Mês do Orgulho, e a 6/9 *wink wink*, “Vulgar” é uma declaração transgressiva. Uma que, ao contrário de “Popular” – colaboração entre The Weekend, Madonna e Playboi Carti – não é desenhada para o grande público.
Sam Smith e Madonna têm quebrado regras ao longos das suas carreiras
Tanto Sam Smith como Madonna têm, ao longo da suas carreiras, recusado conformarem-se com as restrições que a indústria lhes exigiu. Se, por um lado, Madonna envelheceu com tanta “graça” quanto se poderia esperar de uma iconoclasta que, no auge da sua fama, lançou o livro visual SEX sobre as suas fantasias sexuais. Já Smith, artista não binário, tem vindo a subverter as noções tradicionais de género e atreveu-se a fazê-lo também enquanto desafia os padrões corporais socialmente aceites.
Numa altura em que as pessoas LGBTQ se tornaram alvos de extremistas de direita, a própria existência de Smith é um ato de resistência e “Vulgar” uma reivindicação.
I do what I wanna, I go when I gotta
I’m sexy, I’m free and I feel
No final de Vulgar, Madonna lança um “Go fuck yourself”. Se o barrete servir, seja pela seu rosto ou pelo corpo de Smith, é mesmo essa a intenção do duo. Sem desculpas e somente com Orgulho.
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