Organização original do histórico Porto Pride distancia-se da atual e acusa-a de ‘tomada hostil’ da marca

Sobre o evento Porto Pride que se realizou de 2001 a 2012

João Pacheco Paulo, editor PortugalGay.pt e organizador do Porto Pride 2001 – 2012, enviou um comunicado onde procura “esclarecer que o evento que hoje usa o nome Porto Pride não está de forma alguma relacionado com o evento que usou o nome Porto Pride de 2001 a 2012.

E esse esclarecimento tem uma razão de ser: a inclusão, a seu ver, absolutamente abusiva no histórico do evento que hoje se chama Porto Pride as edições que organizadas entre 2001 e 2012. Estas são edições históricas que “nada têm em comum além da marca registada do nome do evento”, refere João Paulo.

Para entender todo o contexto do que está a acontecer nos dias de hoje é preciso recuar a 2001. O ativista Medalha de Mérito Grau Ouro da Cidade do Porto conta que em 2001 havia no país a única Marcha do Orgulho LGBT+ de Lisboa, da qual fazia parte da co-organização da mesma. No final de uma das reuniões de preparação, José Manuel Fernandes, então presidente da ILGA Portugal, desafiou-o para um arraial no Porto.

João Paulo recorda que “estávamos a falar de um país e de um Porto bem diferentes daqueles em que vivemos hoje. Mas 320km de volta ao Porto, ali para os lados de Coimbra, a ideia começava a ter forma, e chegados ao Porto levamos a ideia e a vontade de realizar uma festa Pride ao nosso amigo Miguel Rodrigues Pereira, então proprietário de um dos bares LGBT mais falados no momento, o Boys’R’Us.”

Reuniram os restantes bares LGBT da cidade (Q-Bar; Him; Moinho de Vento e Café na Praça) e deram o nome de PORTO PRIDE, aquele que foi o primeiro evento Pride celebrado publicamente na cidade. No dia 7 de julho de 2001 nascia assim para o mundo o evento que veio mudar mentalidades na cidade Invicta.

O evento durou até 2012, num formato dentro de portas, mas “com uma entrada simbólica e que permitiu juntar uma diversidade incrível de participantes de todos os estratos sociais e com as mais variadas formas de estar na vida respeitando a segurança de cada pessoa“. Este foi um formato que teve o seu peso sociopolítico quer na comunidade – com a participação de múltiplas associações e grupos que puderam no evento promover as suas ideias de forma perfeitamente gratuita – passando pelas pessoas que animam a noite LGBT que tinham assim uma oportunidade de atuar perante uma plateia muito maior do que o habitual e com meios técnicos diferenciados próprios de uma sala de espetáculos. Importa igualmente referir que este é um evento que também teve visibilidade além portas, “distribuindo pouco mais de 30 mil euros em donativos, primeiro junto da Liga de Amigos do Hospital Joaquim Urbano, entretanto extinto, e depois à Associação SOL“.

O então organizador do Porto Pride refere que o evento terminou em 2012 “por uma confluência de razões“, desde alguma saturação por parte da organização e dos múltiplos obstáculos que surgiam ano após ano, passando pela impossibilidade de ver o evento crescer na cidade, mas também por “alguma apatia do movimento LGBT na altura relativamente ao evento“. Um gasto de energia que “também não fazia sentido [n]um evento que sempre se quis comunitário“.

Entretanto a Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto estabeleceu-se e João Paulo acusa alguma inveja por parte de “muita gente, incluindo Diogo Vieira da Silva que, enquanto vice-presidente de uma [extinta] associação da cidade, tentou desde 2010 (…) minar a excelente relação e coordenação entre o Porto Pride e a Marcha do Orgulho LGBT no Porto.”

Quanto foi decidido fazer a última edição do Porto Pride em 2012, foi também uma oportunidade para fazer balanços e repensar o evento. Foi um ponto de pausa em algo que fizemos de coração durante anos e sabemos que era acarinhado por muitas pessoas na cidade e não só, refere João Paulo.

Cinco anos passados, a organização original do Porto Pride foi surpreendida com o Diogo Vieira da Silva “a conseguir garantir para si a marca Porto Pride, contra a vontade da organização original do evento“. João Paulo reforça, “sem nenhuma coordenação com a organização original. Não houve uma passagem de testemunho, ou de alguma forma alguém decidiu tomar conta do evento… o que aconteceu foi simplesmente uma tomada hostil da marca “Porto Pride” por Diogo Vieira da Silva“, conclui.

O Porto Pride que se realizou entre 2001 e 2012, nunca teve apoios camarários, mas orgulha-se de nas últimas edições obter mensagens políticas dos presidentes da Câmara Municipal do Porto. Este é visto como “um princípio de abertura de portas que até então pareciam fechadas a 7 chaves“.

  • O Porto Pride que terminou em 2012 orgulha-se de ter trazido à cidade DJs de clubes LGBT internacionais, intérpretes de êxitos mundiais, e de ter dado um palco privilegiado à animação LGBT da Invicta.
  • O Porto Pride que terminou em 2012 orgulha-se de ter nas suas 12 edições reunido milhares de convivas vindos um pouco de todo o mundo, num Porto ainda muito longe da atual realidade turística cada vez mais focada no ganho monetário rápido.
  • O Porto Pride que terminou em 2012 foi um catalisador da Marcha do Orgulho LGBT do Porto, sempre a respeitou e sempre trabalhou no sentido de uma maior visibilidade e participação na marcha.
  • O Porto Pride que terminou em 2012 nunca se esqueceu das raízes reivindicativas que marcaram os eventos Pride do século XX.

É neste sentido que João Paulo, organizador do Porto Pride 2001 – 2012, esclarece estas circunstâncias em comunicado, porque “ao ler várias notícias que saíram sobre o evento que atualmente usa o nome Porto Pride poderia ficar-se com a ideia de que estaria de alguma forma relacionado com o evento original. Nada mais longe da verdade“. Aliás, explicita que “de nenhuma forma a organização anterior teve algum dixit no evento atual, e muito menos a organização atual teve alguma contribuição positiva no evento anterior, antes pelo contrário!

A Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto terá ponto de encontro às 15h na Praça da República e marchará até ao Largo Amor de Perdição neste dia 8 de julho.

One comment

  1. Muito mau, realmente. Lamento muito a usurpaçao do nome. Também já aprendi da pior forma que não se deve subestimar as dores de cotovelo alheias.

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