
A World Athletics, o órgão regulador mundial do atletismo, anunciou planos para rever as regulações relativas a mulheres trans e mulheres com diferença no desenvolvimento sexual (DSD). Entre as alterações propostas, destaca-se a reintrodução de testes de verificação de sexo, uma prática que havia sido abandonada pelo Comité Olímpico Internacional (COI) em 1999.
A nova proposta inclui a implementação de um teste de esfregaço bucal obrigatório para todas as atletas que desejem competir em competições internacionais femininas. Este teste visa identificar a presença do gene SRY, localizado no cromossoma Y, que é considerado um marcador crucial no desenvolvimento do sexo masculino.
Segundo a World Athletics, o gene SRY será utilizado como um indicador altamente preciso do sexo biológico, embora permita um processo diagnóstico adicional à discrição da atleta. Esta abordagem visa criar um equilíbrio entre a precisão científica e a consideração pelas particularidades individuais das atletas.
Contexto e controvérsias
A decisão surge quase dois anos após a World Athletics ter imposto uma proibição geral à participação de mulheres trans na categoria feminina e ter estabelecido um limite de 2,5 nmol/L de testosterona sérica para mulheres cis com DSD definidas. Esta medida foi, em parte, uma resposta às ações de outras entidades reguladoras, como a World Aquatics em 2022, e à longa batalha legal entre a World Athletics e a bicampeã olímpica Caster Semenya, da África do Sul.
Impacto nas atletas das novas medidas da World Athletics
A reintrodução dos testes de verificação de sexo tem gerado controvérsia e protestos, especialmente entre atletas transgénero e ativistas dos direitos LGBTQ+. Argumentam que tais testes podem ser invasivos e discriminatórios, criando barreiras adicionais para a participação de atletas trans e com DSD na alta competição.
Por outro lado, a World Athletics defende que a medida é necessária para garantir a equidade e a integridade das competições femininas, alegando que diferenças biológicas podem conferir vantagens desportivas significativas. Esta é, aliás, uma questão que tem vindo a ser contestada.
Perspetivas futuras
A implementação destas novas regras ainda está em fase de discussão e pode sofrer alterações antes de entrar em vigor. No entanto, a decisão da World Athletics já está a moldar o debate sobre inclusão e equidade no desporto, levantando questões complexas sobre identidade de género, biologia e justiça desportiva.
Esta é assim mais uma maneira de perpetuar a longa história de policiamento dos corpos das mulheres no desporto.

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