
Das ausências completas sobre a população LGBTQIA+, à reposição do guia “Direito a SER nas Escolas”, passando pela inclusão da identidade de Género na Constituição ou o reconhecimento legal de pessoas não binárias, os programas eleitorais para as Eleições Legislativas 2025 diferem entre si e são espelho da importância dada à proteção das minorias. E se nalguns casos a estratégia é holística, noutros a sua ausência é consequência de recuos e desinteresse.
Analisámos assim os programas e propostas eleitorais com foco nas propostas para as pessoas LGBTQIA+ em Portugal. Num contexto de crescimento do conservadorismo e ataque a direitos conquistados, é essencial perceber onde se posicionam os partidos de cariz democrático no combate à discriminação e na promoção da igualdade.
Dado que muitos programas repetem propostas de 2024, optámos este ano por um formato único onde reunimos as principais medidas de cada partido. Basta escolher abaixo os destaques de cada partido e, para quem quiser ler na íntegra as propostas, cada secção tem acesso aos respetivos programas.
AD (PSD + CDS)
Tal como o da CDU, o programa da AD não apresenta referências diretas às questões LGBTQIA+. As propostas inserem-se num quadro mais generalista de combate à discriminação. Mas a coligação liderada por Luís Montenegro e com Nuno Melo tem um historial problemático face à defesa dos direitos da população LGBTI+ portuguesa.
Por exemplo, Luís Montenegro já associou a orientação sexual ao abuso sexual de crianças quando era deputado do PSD em 2004. Também em 2015, o então deputado e líder parlamentar do PSD admitiu incluir referendo à adopção por casais gay no [próximo] programa eleitoral.
Também Nuno Melo acusou a RTP em 2020 de ter sido colonizada para “destilar ideologia e promover essencialmente o que cheire a esquerda”.
Em 2023, o PSD, então na oposição, votou contra a criminalização de ‘práticas de conversão sexual’ contra pessoas LGBTI+.
Já na legislatura que cessa, PSD e CDS votaram pela retirada de guia sobre identidade de género das escolas.
Propostas relevantes:
- Combate a crimes de ódio e discriminação contra todas as minorias.
- Promoção da inclusão no desporto, independente do género ou condição física.
- Ações para combater a exclusão social de pessoas em situação de sem-abrigo.
A ausência de medidas específicas deixa em aberto a efetiva prioridade política das questões LGBTQIA+ para a AD. O historial de posicionamentos e votações quer do PSD como do CDS é igualmente preocupante.
O programa proposto pela AD pode ser consultado na íntegra aqui [.pdf].
Bloco de Esquerda (BE)
O Bloco de Esquerda, liderado por Mariana Mortágua, mantém uma postura ativa e vanguardista na defesa dos direitos LGBTQIA+, reforçando propostas anteriores e apresentando novas medidas para combater a discriminação.
Principais propostas:
- Formação obrigatória da Função Pública em direitos LGBTQI+.
- Criação de centros de referência LGBTQIA+ nos principais centros urbanos.
- Plano nacional de Housing First para pessoas trans em situação de sem-abrigo.
- Acesso facilitado a medicamentos de prevenção do VIH (PrEP e PEP) em todo o país.
- Permitir às pessoas intersexo, não-binárias e de género diverso que não haja identificação de sexo no seu documento de identificação.
- Inclusão explícita da identidade e expressão de género no artigo 13.º da Constituição.
- Educação Sexual obrigatória e atualizada nas escolas.
- Criação de uma lei-quadro para a autodeterminação de género.
- Capacitação e financiamento estável de associações LGBTQIA+.
- Realização de um inquérito nacional sobre diversidade populacional.
- Reconhecimento legal de identidades LGBTQIA+ na atribuição de asilo.
O Bloco destaca também o o seu histórico no Parlamento como força motora dos avanços conquistados.
O Manifesto Eleitoral do Bloco de Esquerda pode aqui ser lido na íntegra [.pdf], bem como o seu programa eleitoral [.pdf], em continuidade com o apresentado em 2024.
CDU (PCP + PEV)
Tal como em 2024, a CDU não inclui no seu programa propostas que explicitem a população LGBTQIA+. No entanto, mantém um histórico de apoio consistente à comunidade em votações finais parlamentares e insere a luta contra a discriminação numa visão holística dos direitos humanos.
Compromissos principais:
- Combate a todas as formas de discriminação, incluindo por orientação sexual e identidade de género.
- Promoção da igualdade no trabalho e nos salários.
- Garantia do direito à livre vivência da identidade e orientação sexual de jovens.
- Prevenção e combate a preconceitos sociais e institucionais.
A CDU defende a igualdade como princípio estruturante de uma sociedade democrática e inclusiva. O seu programa pode ser consultado na íntegra aqui [.pdf].
Iniciativa Liberal (IL)
A Iniciativa Liberal, liderada por Rui Rocha, defende a liberdade individual e a diversidade como pilares fundamentais, mas apresenta poucas medidas direcionadas especificamente às necessidades da população LGBTQIA+.
Ao longo dos anos, a relação da IL com a comunidade LGBTQIA+ e feminista tem sido problemática, com vários dirigentes e políticos a serem denunciados por linguagem ofensiva. O partido, na altura, desresponsabilizou-se.
Também Rui Rocha terá usado linguagem menos própria (“paneleirote” e fez piada sobre violência doméstica) numa conta de Twitter/X entretanto apagada.
Importa também referir que, durante a legislatura que agora cessa, a IL juntou-se a outros partidos que votaram pela retirada de guia sobre identidade de género das escolas.
O programa proposto pela IL pode ser consultado na íntegra aqui [.pdf].
Principais propostas:
- Defesa ativa dos direitos humanos e da comunidade LGBTQIA+ na União Europeia.
- Reformulação das consultas de saúde sexual para serem inclusivas e livres de discriminação.
- Promoção de uma sociedade baseada na liberdade de escolha individual, sem imposição de normas coletivas.
A IL coloca essencialmente a responsabilidade da proteção dos direitos na esfera individual, confiando nesta fórmula para a defesa de liberdades básicas.
LIVRE (L)
O LIVRE, tal como em 2024, apresenta uma abordagem transversal aos direitos humanos, integrando de forma clara a defesa das pessoas LGBTQIA+ em várias áreas da sua proposta política. O partido liderado por Rui Tavares posiciona-se assim como um dos que apresenta mais propostas concretas para a comunidade LGBTQIA+.
Principais propostas:
- Revisão Constitucional para incluir identidade de género, expressão de género e características sexuais no princípio da igualdade.
- Criação de uma Lei-quadro antidiscriminação específica à comunidade LGBTQIA+.
- Inclusão transversal das questões LGBTQIA+ nas políticas públicas.
- Alargamento da gestação de substituição a todas as pessoas.
- Reconhecimento legal de pessoas intersexo e revisão do registo civil para incluir géneros não-binários.
- Reforço da Estratégia de Saúde para pessoas LGBTQIA+.
- Proteção reforçada a requerentes de asilo LGBTQIA+.
- Apoio financeiro estável a organizações LGBTQIA+.
- Reforço no combate ao bullying e exclusão social de crianças e jovens LGBTQIA+ ou percecionadas como tal.
O LIVRE sublinha ainda a importância de combater a exclusão social e garantir voz política a todas as pessoas. O seu programa eleitoral pode ser lido na íntegra aqui [.pdf].
Partido Socialista (PS)
O PS, sob a liderança de Pedro Nuno Santos, apresenta uma estratégia robusta e detalhada de reforço dos direitos das pessoas LGBTIQA+, face ao que considera ter sido um ano de recuos.
Principais propostas:
- Educação para a Cidadania obrigatória e reforçada nas escolas.
- Garantir o combate ao bullying, discriminação e discurso de ódio nas escolas, designadamente repondo o guia “Direito a SER nas Escolas“.
- Reforçar a literacia e a sensibilização sobre a comunidade LGBTIQA+ em contexto escolar, garantindo que as comunidades educativas são seguras e promotoras da igualdade, diversidade e inclusão.
- Formação específica para autoridades no reconhecimento de crimes de ódio.
- Rede de cuidados de saúde especializada e multidisciplinar.
- Recolha de dados estatísticos para orientar políticas públicas de combate à discriminação.
- Fomento de boas práticas de inclusão no Estado, empresas e sociedade civil.
- Implementação da Diretiva da Igualdade no Emprego que estipula o direito à não discriminação nem ao assédio em contextos laborais com base na orientação sexual.
O PS propõe uma abordagem integrada que aposta na prevenção, educação e proteção dos direitos já conquistados.
O programa eleitoral do PS pode ser lido na íntegra aqui [.pdf].
Pessoas-Animais-Natureza (PAN)
O PAN, liderado pela Inês Sousa Real, apresentará um programa baseado na continuidade das propostas de 2024, altamente focadas na promoção dos direitos LGBTQIA+.
Principais propostas:
- Incluir a identidade de género, a expressão de género e as características sexuais na Constituição Portuguesa.
- Regulamentação da Lei de Autodeterminação de Género nas Escolas.
- Neutralidade de género no registo civil.
- Campanhas de sensibilização junto de famílias e escolas sobre as questões LGBTQIA+, com o objetivo de prevenir e erradicar o preconceito e a violência contra crianças.
- Proibição de cirurgias não consentidas em pessoas intersexo, independentemente da idade.
- Financiamento estável a associações LGBTQIA+.
- Alocar verba específica no Orçamento do Estado para as questões LGBTQIA+
- Combater ao isolamento da população LGBTQIA+, especialmente em meios não urbanos.
- Criação de espaços de atendimento integrados para vítimas de violência LGBTQIA+.
- Alteração dos critérios de habitação pública para abranger realidades familiares LGBTQIA+ diversas.
O PAN aposta assim na educação, na saúde e na estabilidade financeira do movimento LGBTQIA+.
O programa eleitoral do PAN, quando for apresentado, poderá ser lido na íntegra aqui.
A importância do voto informado
Os direitos das pessoas LGBTQIA+ não são garantidos de forma automática — dependem de políticas públicas, de compromisso político real e da nossa capacidade coletiva de mobilização.
A 18 de maio – ou antes com voto antecipado – o momento é de escolha: reforçar o caminho da inclusão ou aceitar recuos e omissões. A nossa voz nas urnas é também um ato de resistência, de esperança e de construção de um país mais livre e diverso. Dia 18 de maio faz valer o teu super-poder e vota! 🗳️🌈

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