O Sangue Dos Homens

A doação de sangue por parte de gays ainda é um tópico polémico que vai surgindo nos meios de comunicação de vez em quando. Depois de décadas de educação ainda existe o preconceito em relação ao sangue gay.

Ao fim de três décadas em que o conhecimento quanto às doenças sexualmente transmissíveis foi aumentando a grande velocidade, nomeadamente em relação ao VIH, em que a ideia de “grupos de risco” foi substituída pela de “comportamentos de risco”, ainda existe a desinformação de que os gays não deviam dar sangue.

Se é verdade que na década de 1980, numa altura em que o VIH era um tema tabu, em que não se conheciam em concreto as origens da doença, os tratamentos eram quase inexistentes e onde os homens gays foram as principais vítimas de tudo isto, é igualmente verdade que em três décadas houve uma evolução no conhecimento sobre a matéria enorme. Enorme também foi o esforço pela educação sexual das pessoas, fazê-las entender que eram os seus comportamentos que as colocavam em risco de infecção (especialmente o sexo sem protecção e o uso de seringas usadas, entre outros).

Fomos ensinados desde cedo nas nossas escolas que não há grupos de risco e, no entanto, surge por vezes esta falsa-polémica. Ainda há pouco tempo foi denunciado que estavam a perguntar aos dadores de sangue nacionais se eram ou tinham tido relações homossexuais, negando-lhes a sua doação caso respondessem afirmativamente.

Este caso em particular foi desde logo refutado pela Comissão Europeia que afirmou que esta discriminação vai contra a legislação da União Europeia (e é cientificamente infundada, acrescentamos nós). Esta descriminação, para além de colocar em causa a base da doação de sangue tão necessária numa sociedade, corre o risco de desinformar toda a população, voltando a mesma a acreditar nos grupos de risco e, assim,  a descuidar-se ela nas decisões que a protegem, podendo assim voltar a repetir comportamentos de risco perigosos.

Nos EUA ainda existe hoje em dia esta discriminação (obrigado à Ana pelo link <3), numa altura em que os testes ao sangue são tão rápidos como fidedignos, por lá ainda é recusado sangue a homens gays, só por serem gays, mesmo que não apresentem qualquer comportamento de risco. E isto é perigoso porque cria a ilusão de que apenas alguns de nós,  pela nossa natureza, estamos sujeitos a ser infectados. Uma sociedade moderna deverá evoluir no sentido do justo, da verdade, da informação relevante. E estes preconceitos continuam a combater décadas de estudos e ensinamentos.

Para terminar e para ficar claro, todos estamos sujeitos ao VIH, sejamos heterossexuais, homossexuais, etc, a partir do momento em que temos comportamentos de risco, nomeadamente sexo desprotegido e partilha de seringas usadas (entre outros). Para mais informações não deixem de passar pelo site da Associação Abraço.