A Eurovisão E A União Dos Povos

Hoje é dia da segunda semi-final do Festival da Eurovisão (às 20h na RTP e em Eurovision.tv) onde a nossa Leonor Andrade cantará Há Um Mar Que Nos Separa. Quem seguiu a primeira semi-final na terça-feira não deve ter escapado às várias bandeiras arco-íris que se misturavam no público com as dos países a competir pois não é segredo nenhum que desde há vários anos que o festival é seguido por milhares (milhões?) de pessoas LGBT. Não é de estranhar pois é um momento, mesmo que de ilusão, em que os países e os seus povos se unem e todos dançam, festejam e sofrem em conjunto, independentemente da cor da sua bandeira.

A ligação à população LGBT tornou-se completamente incontornável em 1998 quando a transsexual israelita Dana International venceu o festival com o tema Diva. Momento altamente polémico que, depois de outros concorrentes e momentos de apoio à população LGBT, só viu o nível de popularidade ser ultrapassado no ano passado por Conchita Wurst que ganhou igualmente o festival com o seu Rise Like A Phoenix.

Este ano não é diferente e, embora num estilo mais clássico, a Rússia apresenta-nos (a lindíssima) Polina Gagarina e o tema A Million Voices. A letra não deixa de ser um enorme piscar de olhos às pessoas LGBT (e não só) quando canta We are the world’s people, different yet the same (somos as pessoas do mundo, diferentes mas iguais) e, assim, apresenta-se já como uma das canções favoritas a vencer o festival.

Tendo em conta a pressão crescente que tem existido na Rússia contra as pessoas LGBT não deixa de ser estranho (ou até suspeito) que tenha sido enviada uma canção com uma mensagem que, na realidade, vai contra aquilo que a Rússia, como País, tem feito contra os seus próprios cidadãos. Tem havido, portanto, discussões sobre as motivações da escolha da canção, se deve ser apoiada ou, como até já aconteceu anteriormente, é justificado um protesto contra a canção. Apesar das suspeitas levantadas não deixa de ser válido pensar que esta canção possa ser um símbolo de rebeldia contra um regime que persegue o seu povo, dando esperança e força àqueles que a ouvirem, mesmo que apenas por três minutos. Serão três minutos em que todos festejarão o vislumbre de um sonho, em conjunto com os restantes povos europeus. Unidos na luta.

Como já foi aqui escrito, a portuguesa Leonor Andrade participará hoje na segunda semi-final e será este o tema:

Por uma questão de orgulho nacional (e porque a canção em si não é má de todo), esperamos que consiga a difícil tarefa de alcançar a final de sábado. Mas, bandeiras à parte, os nossos olhos vão estar igualmente atentos à espanhola Edurne e o seu Amanecer: