A Desculpa De José Rodrigues Dos Santos

Este é um texto particularmente difícil de escrever, porque a figura de José Rodrigues dos Santos não consegue obter grande simpatia ou respeito profissional da minha parte. No entanto, o referido jornalista cometeu uma enorme gafe que me obriga a escrever sobre o dito. Em pleno Telejornal de ontem, ao afirmar que o agora deputado Alexandre Quintanilha “foi eleito, ou eleita, pelo PS”.

Quem assistiu a todo o jornal deve ter reparado no triste lapso, mas deve igualmente ter reparado na discordância da imagem de promoção da reportagem com o texto que era dito sem mencionar nomes, criando alguma confusão sobre quem era realmente mencionado (o deputado Quintanilha, de 70 anos, ou a deputada Domicília Costa, de 69 e aposentada). Ora, o jornalista confrontado com esta discrepância e provavelmente (!) devido a uma falta de comunicação com o resto da equipa jornalística da RTP, tentou “acertar o que era dito com as imagens prévias da reportagem, acrescentando a expressão “ou eleita” ao texto que estava a ler. Foi esta a impressão original que tive antes da polémica ter rebentado nas redes sociais, ou seja, um erro claro e infeliz que podia ter sido facilmente emendado logo a seguir à reportagem dos vários “deputados-surpresa”.

A direção da RTP já emitiu um esclarecimento em relação ao episódio que, para além de não ser claro, não explica “exactamente” o que aconteceu:

No Telejornal de ontem, por lamentável equivoco, decorrente de um erro não intencional, foi referido que o deputado mais velho eleito para o parlamento era uma mulher. Na verdade, esta associação aconteceu porque na peça fazia-se referência a uma mulher eleita pelo Bloco de Esquerda, uma pensionista de 68 anos.

Nem foi referido “precisamente” que o deputado era uma mulher, nem a deputada do BE tem 68 anos. A direção da RTP perdeu aqui uma possibilidade de deixar bem clara a sua posição sobre o que aconteceu realmente naquela noite, mas assim só veio ajudar à confusão e alimentou a polémica. José Rodrigues dos Santos é uma figura polarizante, sem dúvida, e, por mais que me custe escrevê-lo, parece-me que o lapso foi por mera incompetência dele e da sua equipa, não foi um acto homofóbico.

O jornalista já veio apresentar o seu lado da história, que bate com a ideia original que tive. No entanto, acrescenta:

“Não sabia que Quintanilha era homossexual nem me interessa”, disse. “Eu não quero saber da orientação sexual nem do partido político de ninguém. Para mim não é relevante”.

É aí que começo a ter problemas com ele neste caso (não seria a primeira vez, aleluia!), porque ele, como jornalista devia saber, nem que seja por responsabilidade, a importância da visibilidade das pessoas LGBT. Quando lutamos por uma sociedade mais justa e igual e a queremos apresentar como tal a milhões de pessoas num ecrã de televisão, convém entender o peso e a influência que pode ter quando afirma algo daquela forma. Porque, sim, claro que todos nós idealizamos uma sociedade em que a orientação sexual de alguém realmente não importa, mas não são esses os dados que Rodrigo dos Santos, como jornalista, devia saber na ponta da língua: a homofobia ainda existe de forma generalizada na sociedade portuguesa e todos os dias há pessoas a sofrer por serem LGBT. É essa a responsabilidade de qualquer jornalista e, como tal, a desculpa de Rodrigues dos Santos de pouco (nos) vale.

Actualização 20/01/2016:

O jornalista foi ilibado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Fontes: Público, Diário de Notícias, RTP e Notícias ao Minuto (fotografia).