Há textos que acertam plenamente naquilo que queremos escrever e este “Pedro Arroja: o Rei dos homofobicus otarius” de Guilherme Duarte é exemplo genial disso.
Mas comecemos pela fonte, o economicista Pedro Arroja – que tem comentado no Porto Canal e que já na semana passada tinha levantado polémica ao chamar de “esganiçadas” às mulheres de relevo do Bloco de Esquerda – voltou a ser centro de nova polémica ao opinar no mesmo canal sobre a adopção por casais do mesmo sexo e, digamos, o sexo dos anjos. Vejam:
Toda a argumentação de Arroja roça o ridículo e, para além de ter uma visão machista da sociedade («Uma mulher sozinha não sabe para onde é que há-de ir»), possui uma homofobia baseada na ignorância mais ou menos consciente. Notei, tal como Guilherme Duarte, um certo escárnio na discrição da mulher envolto num toque de tentação mal-explicado.
Mas o grande perigo de Pedro Arroja – e de outros como ele – é o tempo de antena que estas pessoas recebem. Os órgãos de comunicação que lhes decidem dar voz acabam por ser cúmplices de toda esta narrativa de ignorância e de ódio que, é certo, lhes traz audiências e ‘cliques’, mas que, mais que isso, servem muitas vezes de validação a ideias que algumas pessoas ainda tem em Portugal. E em vez de se dar espaço à educação, à ciência, à discussão e ao aprofundamento de temas sociais, é-nos dado este lixo. Como prova, basta ver a quantidade de comentários homofóbicos e machistas que facilmente são encontrados nas páginas destes vídeos ou dos jornais de comentários.
É certo que este é um delicioso e tentador lixo – afinal de contas, aqui estamos a falar sobre esta pessoa – mas queremos, mais que tudo, denunciar o perigo que estas vozes têm com o seu alcance e influência. A passividade de alguns jornalistas é igualmente notável. Mesmo num espaço de opinião, o jornalista terá o dever de chamar à atenção qualquer incongruência que o discurso do comentador possua, tal como levantar questões pertinentes quando a mensagem é de claro ódio a um grupo de pessoas. O silêncio não pode servir de desresponsabilização. Valha-nos ao menos um sorriso amarelo.
Nota: Obrigado à Sandra pela partilha do artigo do Por Falar Noutra Coisa.
Actualização 07/07/2016:
“A Entidade Reguladora para a Comunicação Social considerou que as declarações do comentador Pedro Arroja sobre a adopção de crianças por casais homossexuais devem ser “enquadradas no âmbito da liberdade de expressão e de opinião”, ilibando assim aquele o Porto Canal de qualquer sanção numa deliberação recente sobre o assunto.”

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Muito bom o post do Guilherme, do qual raramente gosto daquilo que escreve. Não sou muito apreciador de humor negro.
Relativamente ao prof. dr., simplesmente não o sigo nem vejo. Não dou qualquer tempo de antena. Compreendo a passividade da jornalista. Não estamos perante um grande canal e qualquer reação menos esperada custar-lhe-à, certamente, o lugar de trabalho. Por vezes, ignorar, é o melhor remédio. E é isso o que faz. Ao contrário de outros colegas seus, não deturpou a informação, mentiu, …
Pois, o problema é que há outros jornalistas que têm a mesma posição e em canais de maior relevo. Preocupante, estas vozes não podem continuar a ter tempo de antena. Um abraço, Paulo ☺
Em canais de grande destaque a situação já é diferente. Sobretudo quando se trata de jornalistas com renome. Mas por defender os seus ideais, Manuela Moura Guedes foi afastada, embora durante anos não a suportasse. Outros, também sofreram algumas ameaças :/ O conceito de democracia é muito relativo. Pelo menos, no que diz respeito à nossa. Abraço, Pedro 😉
Não tinha tanta certeza, a opinião do Sousa Tavares sobre a adopção, por exemplo, embora dada noutro estilo, não é diferente da deste senhor. E ele fala semanalmente em horário nobre da SIC.