Jöel Pinto editou no passado ano o livro “Os Meus Dois Pais“, um romance que retrata a vida de um casal por vinte anos vista pela perspectiva de uma criança. Entre a sua paixão pela escrita, a evolução social em Portugal e problemas com a divulgação do livro, foi esta a entrevista que nos deu:
Com o livro “Os Meus Dois Pais” editado, quem é o seu autor? Fala-nos um pouco de ti e o que te levou a escrever o livro.
Chamo-me Joel Rodrigues Pinto. Nasci em Maio de 1975 em Tourcoing, França, bem lá no Norte junto à Bélgica. Como a fábrica de fiação onde os meus pais trabalhavam encerrou, eles decidiram regressar a Portugal, ao distrito de Viseu, a uma pequena vila chamada Penedono, onde abriram um restaurante, tinha eu 5 anos.
Estudei em Penedono, Trancoso e Viseu antes de ir para o Porto onde me licenciei em Relações Internacionais. Entretanto fui trabalhando num call center e quando acabei a universidade, comecei a trabalhar como jornalista, a minha paixão. Foi nessa altura que me surgiu a ideia de escrever um romance. Propriamente dita, a ideia deste livro começou num sonho e só algumas semanas depois, numa noite de insónia, escrevi o Prólogo. No dia seguinte, mostrei-o ao meu companheiro (estamos juntos há já 20 anos) que não gostou doque leu e me aconselhou a esquecer o assunto.
Não o fiz e, semanas depois, escrevi os primeiros capítulos. À medida que ia desenvolvendo a história, ia tendo outros sonhos e a história foi ganhando vida. Demorei cerca de 4 anos a escrever as 533 páginas; claro que não escrevia todos os dias ou todas as semanas. Sempre que bloqueava, parava. Relia tudo o que tinha escrito e só meses depois retomava a história. Quando acabei, lembro-me de ter chorado de alegria, imprimi o livro e fechei-o numa gaveta.
Não é fácil editarmos um livro em Portugal. O investimento é todo dos autores e nenhuma editora aposta num nome desconhecido. Apesar disso, socorri-me de uma campanha de crowdfounding, incentivado pelos colegas de trabalho e em menos de um mês consegui angariar o dinheiro necessário. O processo foi relativamente rápido e em pouco mais de seis meses, recebia os meus exemplares.
Lamento, no entanto, ter optado pela editora que escolhi, na medida em que o apoio deles é inexistente e nunca se prontificaram a agendar sessões de apresentação do livro. Nunca o divulgaram (com excepção da página na internet) e nunca tiveram em conta as iniciativas que lhes apresentei.
E o que nos conta o livro, dedicado ao teu companheiro Gerson e que tanto empenho te deu?
O livro fala sobre o amor de Eduardo e Tiago, visto pelos olhos de Rodrigo, filho de Tiago. Quando Eduardo e Tiago viviam um amor intenso, e depois de uma traição de Tiago, aparece alguém para os separar. Anos mais tarde reencontram-se e a educação de Rodrigo está agora acima de tudo e de todos.
Este é um livro que nos fala de amor, acima de tudo, e de como pode uma criança ser educada por dois homens, os seus dois pais como ele assim os considera.
Muitas pessoas me perguntam se este livro é autobiográfico. Não é… mas também é verdade que coloco um bocadinho de mim em todos os personagens que criei, na forma como falam, como pensam e como reagem a diversas situações.
Nestes últimos anos Portugal tem tido uma evolução nos direitos das famílias e da adopção, como tens assistido a estas mudanças desde que começaste a escrever a história?
Que evolução essa…! Quando comecei a escrever o livro não se falava de casamento entre pessoas do mesmo sexo, nem tão pouco de adopção. À medida que se ia falando no assunto, eu ia abordando a questão no meu local de trabalho e foi nessa altura que eu senti que tinha que ir para a frente com este projecto. Quando o livro foi editado começava-se a discutir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, daí eu ter insistido com a editora para o lançamento o quanto antes e até beneficiar de publicidade gratuita para promover mais vendas. Nada disso acabou por acontecer e eu apercebi-me que a editora não tinha qualquer interesse em promover o livro (nem o meu, nem o de outros autores que fui entretanto conhecendo), o que foi desmoralizante para mim. Acabei por ter apenas alguma publicidade em sites e através de instituições ligadas aos LGBT.
No lançamento, tive o apoio de quase todos os meus amigos e colegas de trabalho, o que para mim foi extremamente gratificante e convidei para a apresentação duas colegas de trabalho que tiveram um papel importante na edição deste livro: uma delas, também autora de dois romances e outra que foi a primeira pessoa a contribuir para o livro na plataforma de crowdfounding.
Mais tarde, tentei apresentar o livro em várias FNAC, cuja visibilidade seria mais importante, mas todas elas recusaram a ideia, com a justificação que já tinha efectuado uma primeira apresentação.
Mais de um ano depois do lançamento se passou e gostaria agora de continuar esta história, no momento em que terminou, juntando-lhe outros personagens e outras estórias; apenas gostaria de ter mais tempo para me dedicar à escrita, uma coisa que sempre adorei.
A continuação desta história poderá então ter em conta a evolução que o País teve nos últimos anos? Que reacções tens obtido dos leitores? Comentam também essa dificuldade de verem a mensagem destes livros chegar ao consumidor?
Tenho recebido reacções muito positivas através da página do livro no facebook e sinto que as pessoas leram com muito carinho aquilo que eu escrevi e que, de qualquer maneira, se sentiram tocadas com várias passagens.
Não querendo desvendar muito da história, ela termina com o casamento de Rodrigo e aquilo que eu gostaria era de continuar essa história a partir deste ponto e desenvolver uma outra polémica, não forçosamente ligada à temática LGBT, mas que manteria como elos de ligação a presença de Eduardo e Tiago nesta história.
Recebo sempre algumas mensagens de pessoas que me dizem que procuram o livro nas várias livrarias e que não o encontram, o que para mim é triste, se bem que acabam sempre por o encomendar online.
Onde poderemos então encontrar o livro? Alguma mensagem final aos leitores?
Para comprar o livro de uma forma mais rápida aconselho a loja Wook, é sempre mais barata do que nas livrarias e têm sempre descontos. Poderão igualmente encontrar a página do livro no Facebook. Espero que quem leia este livro tenha o mesmo prazer que eu tive ao escrevê-lo.
Nota: Obrigado ao Joël por entrar em contacto connosco 🙂