Falar em segurança em geral, está comummente associado à violência, nomeadamente física. Infelizmente, não é de forma alguma o único tipo de violência que existe. A violência manifesta-se de variadíssimas formas, umas mais visíveis outras muito menos e quando chegamos a um nível de micro agressões percebemos que este é um problema de uma gravidade estrutural social enorme. Para as populações minoritárias e em determinados locais este problema é acrescido e quando falamos de características que podem não ser visíveis a dificuldade em salvaguardar a sua protecção é bastante maior.
Quando se fala em espaços seguros, falamos em espaços que, para além daquilo que o mundo normaliza enquanto violência, procuram diminuir consideravelmente os níveis de micro agressões bem como a fricção identitária de cada um com o mundo que rodeia. Estes espaços são importantes porque ajudam a criar ferramentas pessoais internas e individuais para que cada um possa usar num mundo, que infelizmente, é mais agreste e violento. São espaços que se destacam pela posição comum dos seus elementos tomam, mas também por reunir pessoas que em si, são seguras. Pessoas que também procuram conquistar um mundo mais luminoso e equilibrado. Procurar este equilíbrio é, muitas vezes, um trabalho árduo, implica ter a capacidade de ir desmontando cada privilégio social e pessoal para conseguir ser cada vez mais inclusivo às diferentes necessidades. Este processo pode ser moroso, mas é necessário. É um porto de segurança para muitos.
No meu caso, enquanto pessoa de identidade não normativa, procurar um espaço de aceitação foi de muita importância, tornou-se uma conquista sentir que podia pertencer a algum lugar sem duvidar da minha própria existência. Entretanto acabei por iniciar voluntariado na ILGA Portugal e consequentemente a colaborar com o GRIT, um grupo pertencente à associação que é dedicado na sua essência a questões de identidade de género. Enquanto grupo, temos apostado num continuo de conversas e debates públicos que são realizados no CentroLGBT. Este espaço torna-se, para nós, um espaço seguro onde podemos transmitir e receber pessoas de um modo mais alargado e tentar colaborar de forma educativa para a população. Por outro lado, a criação de um grupo destes também sugere um espaço de partilha mais pessoal e que seja potenciador destas pessoas enquanto pessoas que são, nas suas mais variadas situações ou contextos. Foi assim que acabamos por apostar num Grupo de Partilha dedicado a quem vivência diversas questões ao nível identitário. Para mim, tornou-se uma experiência muito grata fazer parte desta construção e deste projecto.
Um espaço seguro, mais do que transmitir segurança emocional, permite a qualquer pessoa desenvolver as suas ferramentas pessoais para lidar com dificuldades que a sociedade traz consigo, permite a sua construção pessoal e o contacto com pessoas que entendam e que transmitam confiança. Este é um dos grandes objectivos nestas construções. São necessárias e muito. É importante pensar que para diversos contextos sociais (e/ou problemáticas) é importante criar todo um conjunto de mecanismos para salvaguardar a protecção de cada um.
É importante tornar isso uma realidade prática e não apenas teórica.