O IndieLisboa 2017 tem início hoje e nos próximos 11 dias irá trazer à capital centenas de filmes. Entre filmes de ficção, documentários, curtas e outros, a oferta da variedade é forte aposta do festival que, como não podia deixar de ser, traz em 2017 “filmes que reflectem sobre a questão de género, os diferentes lugares da mulher na sociedade, os novos paradigmas da sexualidade e a libertação de ideias e preconceitos, para uma rota que interessa a mulheres e homens.”
Aqui ficam algumas sugestões:
- Femmes femmes (1974, Paul Vecchiali): Filmado em 16mm, num apartamento fechado, com toda a equipa a trabalhar de graça e feito à base de improvisação, Femmes femmes é uma sátira onde Hélène Surgère e Sonia Saviange interpretam
duas actrizes falhadas que transformam as suas vidas numa peça permanente. Entre muito álcool e um fascínio doentio pelas estrelas dos anos 1930, as duas mulheres vivem num mundo tão claustrofóbico quanto charmoso. O filme terá impressionado tanto Pasolini que este, no ano seguinte, com Salò o le 120 giornate di Sodoma, fez uma pequena homenagem a Vecchiali, ao convidar as suas duas actrizes. (sessões: 2017-05-03 15:30 e 2017-05-12 21:30)
- Change pas de main (1975, Paul Vecchiali): Change pas de main é a segunda
parte do díptico feminino de Vecchiali, depois de Femmes femmes. Uma mulher proeminente na política recebe, em casa, um filme pornográfico protagonizado pelo seu filho. Para tentar descobrir quem está a chantageá-la, contrata uma detective particular. Este policial erótico foi, à data da estreia, encarado como um filme de sexploitation, pela representação gráfica do sexo, mas Vecchiali nunca o renegou, pelo contrário. Um filme de pendor feminista que se diverte a inverter os formalismos do cinema de género. (sessões: 2017-05-05 19:00 e 2017-05-06 18:30)
- Venus (2016, Lea Glob, Mette Carla Albrechtse): Como resposta a um casting, mais
de cem mulheres de Copenhaga, entre os vinte e os trinta anos, apareceram para falar da sua sexualidade, os seus desejos, as suas fantasias, as suas frustrações e os seus medos. O filme era para ser outro, mas as realizadoras Mette Carla Albrechtsen e Lea Glob (co-realizadora de Olmo e a Gaivota, IndieLisboa 2016) perceberam que o material era demasiado bom para ser desperdiçado. Venus é um filme que tes- temunha, candidamente, a franqueza de uma confissão, sem julgar, nem meter medo ou vergonha: um espaço seguro para a sexualidade feminina. (sessões: 2017-05-05 21:45 e 2017-05-14 19:15)
- Cipka (2016, Renata Gasiorowska): Uma rapariga prepara-se para uns momentos a sós com a sua cipka [rata], a banheira já está cheia, já se fumou um charrinho, mas, de repente, tudo sai do sítio. (sessões: 2017-05-06 21:45 e 2017-05-09 19:15)
- Grave (2016, Julia Ducournau): Justine é uma vegetariana zelosa mas, quando sai da casa dos pais e entra na escola de veterinária, defronta-se com o mundo das violentas praxes académicas.
Desesperada por encaixar, ela prescinde dos seus princípios e come carne pela primeira vez. Este é o princípio de uma espiral destruidora que conduz Justine ao canibalismo. Grave é um dos fenómenos recentes do cinema de terror francês e, em várias das suas exibições, o filme tem provocado indisposição e vómitos a membros do público. Uma metáfora sobre a passagem à idade adulta, o conformismo e o sexo. (sessões: 2017-05-06 23:00 e 2017-05-11 21:45)
- Once More (1987, Paul Vecchiali): Once More é uma tragédia, movida pela alegria
da comédia musical: é um filme que evoca o cinema de Jacques Demy. Composto por dez episódios, que retratam um momento da vida de Louis a cada ano, entre 1978 e 1987, o filme conta (em extraordinários planos-sequência) a história de um homem de quarenta anos que deixa mulher, filhos e emprego pela liberdade que nunca tivera, apaixonando-se por Frantz. Este foi o primeiro filme francês a retratar a SIDA na comunidade homossexual. (sessões: 2017-05-10 15:30 e 2017-05-12 18:30)
- A Cidade do Futuro (2016, Cláudio Marques e Marília Hughes): Cláudio Marques e Marília Hughes (Desterro, IndieLisboa 2013) propõem, em A Cidade do
Futuro, um objecto feito de oposições. Por um lado, o documentário: a maior migração compulsória depois da Segunda Grande Guerra, quando cerca de 73 mil pessoas da região Norte da Baía foram deslocadas, para a construção da barragem do Sobradinho, durante a ditadura militar do Brasil; por outro lado, a ficção: três jovens, dois rapazes gay e uma menina grávida, formam uma família fora dos padrões e mal vista pela comunidade. Um filme sobre os mecanismos da mudança. (sessões: 2017-05-12 19:00 e 2017-05-13 18:00)
- Benjamin Smoke (2000, Jem Cohen e Peter Sillen): Quem é Benjamin? Sem apelido conhecido, era vocalista drag queen dos Opal Foxx (renomeados Smoke e cuja música está entre o country, o punk e o jazz), uma criatura renegada, etérea e
acelerada, homossexual, dependente de drogas, com VIH e Hepatite C. Benjamin Smoke é o retrato de uma pessoa que se encaminha para a morte, depois de ter vivido uma vida sem freios e sem nunca pedir desculpa por ser quem era. Jem Cohen e Peter Sillen, com a ajuda de Patti Smith (a madrinha musical de Benjamin), fazem deste canto do cisne um documentário muito pouco ortodoxo. (sessão: 2017-05-13 21:45)
Bom cinema!
Nota: Obrigado à organização pelo contacto!