7.21 – Am I vital if my heart is idle, am I doomed?*

* Excerto de “Doomed”, de Moses Sumney

Esta semana começo o 7.21 falando-vos de Moses Sumney, que angariou algum reconhecimento em 2014, quando lançou o seu EP de estreia, “Mid-City Island”, criado sem quaisquer outras colaborações, e que lhe permitiu evidenciar a sua voz e os seus poemas através da criação de um ambiente de certa forma étereo e extremamente pessoal, vindo desde então a desenvolver a sua música continuando a explorar este universo sonoro e emotivo.

Os seus trabalhos deixam transparecer alguma sensação de solidão, que refletem as próprias experiências de Moses, que começou a explorar o mundo da música quando, após uma mudança, com a família, da Califórnia para o Gana quando tinha 10 anos de idade, encontrou uma forma de aliviar um pouco da solidão acarretada com essa transição através da composição de canções a capella. É ainda desta forma que Moses aborda a criação musical, formando primeiramente um conceito total na sua mente para só depois entrar em estúdio e incorporar eventuais alterações aos arranjos e instrumentação.

Embora seja frequentemente classificado como um artista R&B, Moses rejeita as categorizações imediatas, considerando que tal limita a perceção que se pode obter e toda a variabilidade existente, relevando que as questões raciais podem muitas vezes influenciar essa categorização. Ainda assim, identifica-se mais com o termo folk, apesar dos comentários que já recebeu relativamente ao que algumas pessoas entendem ser uma dissonância entre o seu aspeto físico e o estilo musical em que esperariam que estivesse envolvido.

Em outubro do ano passado Moses lançou o seu segundo EP, “Lamentations”, onde concretiza as suas intenções enquanto músico, que são criar música triste e ignorar mensagens de positivismo, algo que contradiz as suas aspirações iniciais de utilizar a sua música para transmitir, de forma mais direta, esperança e mensagens comoventes, no estilo de uma das figuras que o influenciam, India Arie. Ao longo do seu percurso, Moses apercebeu-se que o seu próprio caminho se afastava das suas intenções iniciais, enquanto explorava as limitações do amor e da intimidade. Sem prejuízo, mantem um espírito de abertura quanto à interpretação das suas letras, e embora afirme que o seu intuito é exatamente o de transmitir a mensagem tal e qual como se pode ouvir nas suas canções, não se incomoda com interpretações alternativas, notando inclusive que, independentemente de quão triste seja uma música, algumas pessoas conseguem sempre encontrar nela alguma esperança.

Já este ano, Moses Sumney lançou “Doomed”, a música que trago hoje, onde continua a explorar o seu próprio caminho, numa abordagem a que é impossível ficar indiferente.

Falo-vos agora de RAC, a sigla que representava Remix Art Collective, um grupo de remixers fundado por André Allen Anjos, um português originalmente do Porto mas agora estabelecido nos Estados Unidos da América. Após um período inicial em que RAC reuniu algum reconhecimento, especialmente através da criação de remixes de alguns artistas conhecidos, e do lançamento do EP “Don’t talk to”, em 2013, que figurava já algumas musicais originais, RAC passou a designar o projeto a solo de André Anjos, tendo lançado o seu primeiro álbum, “Strangers”, em 2014. Paralelamente aos remixes que continuam a fazer parte das suas criações, e que lhe mereceram um Grammy para Best Remix Recording em 2017, com “Tearing me up”, além da nomeação para a mesma categoria que já tinha conseguido em 2016, com “Say my name”, RAC mantem-se ainda ativo no lançamento de música original, tendo lançado singles individuais mensalmente durante um período em 2015, do qual faz parte esta “3AM” que trago hoje, um fantástico exemplo de uma música pop com a voz de Katie Herzig. Para este mês está previsto o lançamento daquele que será o seu segundo álbum, “Ego”, ao qual vale certamente a pena ficar atento.

Finalmente, um foco dirigido a Kwamie Liv, uma cantora e compositora com origens entre a Dinamarca e a Zâmbia e atualmente baseada em Copenhaga. Após o lançamento, em 2014, do seu EP de estreia “Lost in the girl”, que permitiu dar a conhecer a sua voz subtil aliada a uma sonoridade que já foi descrita como um encontro entre M.I.A e Lana del Rey, Kwamie tem vindo a lançar algumas músicas isoladas, como é o caso de “Pleasure This Pain” que integra a playlist de hoje, mantendo uma sonoridade sem muitos artifícios que cria um ambiente ao invés de exigir atenção apenas para um momento particular.

Além dos nomes já citados, a playlist desta semana inclui ainda o pop fantástico de MARLENE, as influências eletrónicas de Steed Lord que remetem para os anos 80, uma balada impressionante de Sinead Harnett e o ritmo atual e despreocupado de Finn Matthews, neste 7.21.

 

Os destaques visuais desta semana vão para Moses Sumney, num vídeo envolvente que se adequa na perfeição à música, Steed Lord numa abordagem exuberante característica deste grupo, e Kwamie Liv, num vídeo animado que convida à liberdade de interpretação.

Enjoy!

Moses Sumney – Doomed

 

Steed Lord – Curtain Call

 

Kwamie Liv – Pleasure This Pain ft. Angel Haze

 

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