Maria Eduarda Titosse: “As pessoas inclusivas dentro da Igreja são uma minoria”

Maria Eduarda Titosse foi uma das personalidades que constituiu o painel da Conferência Internacional “Fé na Igualdade” promovida pela ILGA Portugal. Pastora na Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, deu início à sua participação afirmando que a sua Igreja “é inclusiva“. Como minoria religiosa em Portugal, a Pastora relembrou que “houve mortes, perseguição, cortes nas famílias que deixaram de falar com as pessoas, empregos que foram perdidos. Eramos, portanto, também uma minoria perseguida“.

Mas a palavra-chave no seu discurso manteve-se na inclusão da sua Igreja e é por a defender que, explicou à plateia, pode ter “uma pastora ordenada. A minha Igreja tem cerca de 6 pastoras ordenadas, somos 40% do corpo pastoral.” Este é um claro ponto de diferença em relação à Igreja Católica onde os cargos de liderança são ocupados exclusivamente por homens.

Sobre a temática discutida, Maria explicou que essa inclusão estende-se também “a pessoas com orientações sexuais diferentes“, sendo que “são acolhidas na comunidade e têm cargos diretivos“. A Igreja de Cristo, disse-nos, deveria estar na linha da frente a defender quem a sociedade exclui. E relembrou que Jesus foi a pessoa que disse “não descriminais, venham a mim todos os que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei“.

A Pastora quis deixar claro que existem diferenças entre os conceitos de ‘cristianismo’ e ‘cristandade’. “Cristianismo são pessoas tentando seguir Cristo e viver uma Fé e uma relação com Deus. Cristandade são as instituições e grupos de pressão que tentam conservar o poder sobre as pessoas e as suas vidas.” E continua: “Na verdade, o cristianismo sempre foi uma minoria. As pessoas dentro da Igreja que são inclusivas, que tentam amar e não excluir – quer nas Igrejas católicas, quer nas protestantes – são sempre uma minoria.”

Por isto importa para Maria que “as pessoas que têm Fé e pregam o Amor devam ser as primeiras a não discriminar.” Acontece que, em nome da Fé, “muitas vezes oprimimos cruelmente as outras pessoas“, reitera. “O cristianismo diz “ama o teu próximo como a ti mesmo”, mas a cristandade escolhe uns para serem irmãos e outros para serem uma outra coisa.”

Como contra-ponto, a Pastora explicou que tenta chamar a atenção para esta questão na sua Igreja, pois acha “impossível que Deus nos peça que, em nome da Fé, odiemos ou repudiemos qualquer pessoa.” A imagem idealizada de Jesus mantém-se forte na sua intervenção: “Jesus foi uma pessoa inclusiva que viveu e defendeu as margens da sociedade, os mais fracos, aqueles que estavam mais desprotegidos. Foi alguém que olhou outro nos olhos e lhe disse “eu amo-te e estou aqui para te defender”“.

O problema que Maria vê é precisamente nas diferenças entre o que é dito e aquilo que é feito pelas instituições. E então lançou a questão: “Porque é que as Igrejas o fazem?” A resposta é para si simples: “Porque vivemos na ditadura da maioria. Aquilo que numa sociedade é belo e justo é decidido pela maioria.” E o que acontece é que também nas instituições, como as Igrejas, existe uma maioria que, por medo, “acham que devem ter os privilégios e discriminam“.

Por fim, de forma a mostrar “a imagem que a cristandade dá de Cristo é errada“, a Pastora Maria Eduarda Titosse, desafiou o público presente na conferência a ler a Bíblia e – espalhando o que disse Wajahat Abbas Kazmi sobre o Corão minutos antes – “ver que na Bíblia não há nada que diga que outra pessoa tenha que ser discriminada.” Será?

 

Fonte: Imagem.

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