Faz Muito Tempo

Faz muito tempo que não me sento em frente ao computador para escrever… Sim, hoje em dia já caiu em desuso escrever num papel com caneta… É uma das várias consequências de nos encontrarmos a vivenciar a era da tecnologia, somos os felizardos que viveu para ver nascer a 8º maravilha do mundo: a internet!

Contudo, surgem diversas situações que são necessárias refletir… Viver nesta era que permitiu avanços a nível da medicina, da ciência, maior acesso às ferramentas essenciais da educação, também teve as suas consequências tais como o aumento da dificuldade aquando da exposição da nossa vulnerabilidade.

Enquanto Ser Humano é difícil expormos a nossa vulnerabilidade, ou seja, demonstrarmos aos nossos pares que somos frágeis e delicados. Principalmente que somos sensíveis aos vários estímulos de diferentes naturezas das quais somos bombardeados exaustivamente diariamente.

Hoje em dia relacionamo-nos com os demais mediante as redes sociais, aparelhos tecnológicos, já não exige um contacto íntimo e pessoal, mais direto… Comunicamos através de likes, posts, snaps, e muitos mais, que confesso mesmo eu sendo uma jovem de 22 anos não sei nem de metade das ferramentas e redes sociais que temos ao dispor!

Já me defrontei com pessoas com o dobro da minha idade terem grupos de amigos via snapchat, a partilharem e exporem situações da sua vida mediante um post no facebook, e a procurarem gostos e opiniões sobre si mediante o instagram. Quando sou confrontada com estas situações sinto-me como se não pertencente à sociedade atual…

Confesso que talvez seja ingénua ao ponto de pretender encontrar uma mulher com paciência para o meu mau-feitio, para as minhas complexidades, para a minha forma rebelde de pensar, para sorrir comigo, para me ouvir, por exemplo, num supermercado, na rua, num café, num estádio de futebol, num transporte público… Mas tenho de recorrer à tecnologia para tal. Bolas, esta Era só veio atrapalhar a minha utopia de encontro romântico!

Para dificultar ainda mais, sou pertencente a esta minoria, designada comunidade LGBTQ. E, falo desta forma, porque é errado existirem estas minorias ou mesmo maiorias numa sociedade, na qual deveria permanecer a igualdade, a justiça, e prevalecer a diferença dos sujeitos apenas mediante a sua personalidade, bem como características intrínsecas!

Diferenciarmo-nos dos demais pela sexualidade, pelo que fazemos na esfera pessoal, íntima e privada, ou seja, com quem nos deitamos, o que fazemos, onde fazemos, que na
verdade só me diz respeito às pessoas envolventes na relação, é errado! Não devemos justificações a ninguém sobre a nossa vida e esfera privada, intima, pessoal. É neste ponto específico de respeito pelo próximo que as pessoas na atualidade teimam em não refletir…

Já não basta a luta incessante que existe referente à beleza, ao aspeto físico, que infelizmente ainda é muito dolorosa, pois os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade são irreais, e muitos outros problemas de diferentes dimensões, como a familiar, profissional, económica, o indivíduo LGBTQ ainda tem de estar aberto a julgamentos e preconceitos dos demais. É extremamente injusto!

Por mais difícil que seja para mim admitir, a fonte de conhecimento primordial nos dias que correm são os média. Tudo o que é exposto, relatado e apresentado num telejornal, ou num jornal, revista, internet, é dado como verdadeiro… Portanto, uma das “armas” que devemos utilizar para alterar este pensamento preconceituoso enraizado na sociedade é a mediante a comunicação social!

Neste quase último ano na qual estive sem escrever, confesso que me senti incompleta! Mas também permitiu-me refletir sobre muita coisa que ouvi e vi acontecer pelo mundo… Por vezes, gostava de não pensar e refletir tanto, mas se tal acontecesse perdia a condição de ser humano, algo da qual me orgulho muito!

Começando no Brasil, na qual foi tomada uma decisão aterrorizadora, especialmente para mim que sou uma estudante de psicologia, surge a permissão da Justiça brasileira para que os psicólogos realizem as suas terapias de “reversão sexual”. Afirmam que não permitir a realização de tal terapia afeta a “liberdade científica do país e por consequência o seu património cultural, na medida em que impede e inviabiliza a investigação de aspeto importantíssimo da psicologia qual seja a sexualidade humana”.

Então e relativamente ao sujeito alvo de tal terapia… À sua angústia, sofrimento, mau estar, alguém refletiu sobre isso? Como é que é possível em pleno séc. XXI assistir ainda a estas afirmações retrogradas sobre a sexualidade humana? Como é que é possível estas decisões acontecerem? Sinto me perplexa, chocada com estas barbaridades! #HomofobiaÉDoença

Agora vamos dar um saltinho ao Egito, não podemos é ficar lá muito tempo… Passo a explicar, a homossexualidade é proibida! Sim, leu bem, no passado fim do mês de Setembro o Conselho Supremo afirma que “a homossexualidade é uma doença e uma vergonha, pelo que é melhor ocultá-la”, não permitindo assim a comunicação social egípcia de transmitir informação  sobre homossexuais, só se for um caso de um homossexual arrependido. Que desgraça, que vergonha! Existe mais aqui neste país, sempre que alguém aparenta ser homossexual é detido, e acusado de, preparem-se para o nome pomposo que utilizaram, libertinagem. É ou não é um nome com um certo requinte linguístico? Inacreditável que isto aconteça na presente atualidade, na qual somos evoluídos em tantos campos, esferas e dimensões, mas depois na sexualidade humana somos altamente retrogradas!

Informa-se que na Chechénia abriu um campo de concentração para gays, no entanto a lista de entrada já é tão extensa que prevêem abrir mais campos. Ironias e sarcasmos à parte, isto é simplesmente ridículo! Pessoas russas que são gays, ou que simplesmente aparentam (já agora alguém me sabe dizer o que é isto de aparentar ser-se gay!?), são detidas nestes campos onde são torturadas, isoladas e muitas vezes assassinadas, um completo genocídio de homossexuais!

Podemos questionar o líder da Chechénia, o Sr. Ramzan Kadyrov, sobre esta situação. Contudo ele afirma que são falsas estas alegações, afirma que homossexuais simplesmente não existem no seu país, porque será? No comunicado que saiu para a imprensa, o porta voz de Kadyrov afirma o seguinte “Se tais pessoas existissem na Chechênia, a lei não teria que se preocupar com elas, já que os seus parentes teriam enviados para um lugar de onde nunca voltariam”. Como reagir a esta tamanha atrocidade à civilização humana?

Não vamos assim tão longe, na China embora a homossexualidade já tenha sido retirada da lista de transtornos mentais, os jovens e adolescentes da comunidade LGBT, como resultado de uma grande pressão social, ainda são submetidos a terapias de conversão. Tal como afirma o diretor dos direitos LGBT na Human Rights Watch, Reid: “Já lá vão 20 anos desde que a China despenalizou a homossexualidade, mas as pessoas LGBT continuam a ser submetidas a um isolamento forçado, medicação, e mesmo choques elétricos para tentarem mudar a sua orientação sexual”.

Essas terapias de conversão consistem em: forte violência verbal, como chamar os sujeitos homossexuais de doentes, pervertidos, afirmar que nunca serão felizes, nem ter família; na medicação forçada, são dados comprimidos e injeções, que causavam má-disposição, náuseas e vómitos, em paralelo enquanto os efeitos são sentidos, obrigam o sujeito a assistir a pornografia gay, tendo como objetivo promover uma associação cognitiva no sujeito entre algo prazeroso com um mau-estar interno. Ou seja, atribuir uma conotação  negativa a algo que é atribuído como positivo, prazeroso; e os choques elétricos, que basta este testemunho para conseguirmos visualizar mentalmente tamanha desumanidade com esta terapia:

Pediram-me que me sentasse numa cadeira, com as mãos e braços amarrados com tiras de couro. Depois a enfermeira e o médico ligaram os cabos aos meus pulsos e estômago, cabos estes que estão conectados a uma máquina. A enfermeira configurou um ecrã à minha frente onde estava a passar pornografia gay. O médico disse-me para assistir às imagens que estavam a passar e pediu para me concentrar no conteúdo do vídeo. Alguns minutos depois, ligaram a corrente elétrica. Os meus braços, os pulsos e a cabeça ficaram sem energia, mas a parte mais dolorosa foi o meu estômago. Eles repetiram os choques elétricos seis ou sete vezes, durante esta sessão.

Os EUA também são fãs de campos religiosos associados à conversão gay, onde os jovens ficam isolados do mundo externo, enclausurados numa restrito espaço, onde existe a terapia de reorientação sexual por via da espiritualidade. Sustentam a eficácia ou funcionalidade de tais campos, com argumentos religiosos, afirmam que as condutas gays são um pecado, que a homossexualidade vai contra a palavra de Deus e não está biblicamente correto. Como reagir a tais afirmações descabidas? E mais, como associar a religião com a sexualidade humana?

Mas será que alguém pensa em todas estas pessoas que já sofreram, e que ainda sofrem com tais barbaridades legalizadas nos vários locais do globo terrestre? Caramba, apenas queremos ser felizes, queremos igualdade, queremos experienciar o amor, queremos descobrir quem somos livremente! Apenas peço, e sei que sou ainda uma jovem de 22 anos, que por favor deixem o mundo ser um lugar colorido e diversificado, deixem que os sujeitos independentemente, da sua identidade de género, sexualidade, peso, altura, estatuto social, habilitações literárias, casta social, história de vida, vivam e maximizem as suas capacidades, e acima de tudo que se descubram ao máximo!

Agora que escrevi, sinto-me mais completa! Em modo de conclusão e para reflectir, cito Erik Erikson: “In the social jungle of human existence, there is no feeling of being alive without a sense of identity.

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