“Chavela”: O Documentário Que Capta A Vida Do Ícone Mexicano LGBTI

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Chavela Vargas foi uma cantora costa riquenha que, tendo-se mudando ainda jovem para o México, tornou-se num marco da música ranchera. E se de início se vestiu, cantou e comportou como a sociedade no final da década de 1950 esperava que uma mulher o fizesse, a verdade é que Chavela sempre se sentiu transvestida na sua apresentação inicial: vestidos, maquilhagem, cabelo comprido. Rapidamente percebeu que não poderia trair a sua natureza rebelde que manteve desde criança e apresentou-se ao mundo de calças, cabelo curto e a cantar temas que antes só eram permitidos aos homens. Nascia assim o ícone Chavela.

É este o ponto de partida do documentário que estreia agora em Portugal, de Catherine Gund e Daresha Kyi, em que, através de uma filmagem caseira de Gund, se parte para a descoberta e reconhecimento de uma mulher pioneira que desafiou os estereótipos de género. Para Chavela sobreviver num mundo culturalmente misógino e machista ela tinha que ser “mais macho que o maior dos machos“, desenvolvendo uma imagem de mulher poderosa e até violenta, com um certo orgulho nas armas que possuía.

Não deixa de ser curioso que, através da entrevistas a várias pessoas amigas e antigas namoradas de Chavela, percebemos a sua mudança de posição quanto ao afirmar-se lésbica. Se de início defendia ser um assunto privado e que não interessava falar, porque a sua música falava por si, levou décadas até se assumir como tal. Vêmos assim uma mulher de orgulhosas rugas com oito décadas de existência a afirmá-lo perante a comunicação social sem hesitações, “sou lésbica e não tenho que ter qualquer vergonha nisso“.

Este é um passo que precisou de décadas para o dar em consciência, depois de marcar a cultura musical mexicana durante mais de vinte anos, depois de namorar Frida Kahlo e roubar as mulheres de políticos influentes, Chavela perdeu quase tudo devido a problemas de álcool e foi esquecida. As pessoas pensaram, inclusive, que teria morrido. E foi quase isso que lhe aconteceu. Sem dinheiro, sem palco, Chavela definhava no esquecimento.

Mas foi através da fidelidade de amigas e companheiras que conseguiu quebrar o ciclo de autodestruição, conseguindo ressuscitar a sua vida, o seu palco, dando um concerto pela primeira vez em mais de uma década na inauguração de um espaço boémio na Cidade do México. A partir daí pisou grandes palcos – alguns deles interditos à sua figura desde então pela controvérsia que representava – na América Latina e na Europa, culminando num concerto no Olympia em Paris.

Este é um documentário que importa ver, para fãs de Chavela e para quem quiser conhecer a história de vida desta imponente figura, disruptiva, controversa e pioneira. Ao ouvirmos a sua voz a cantar temas dedicados a outras mulheres, para lá de nos envolvermos na sua voz grave e poderosa, entendemos o quão revolucionária foi esta mulher em inúmeras formas de luta. Devemos-lhe isso. E em troca ela apenas pede que não esqueçamos o seu nome e que a escutemos. Assim seja, Chavela.

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Nota: Obrigado à Leopardo Filmes pelo convite 🙂

Fonte: Imagem.

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