Queer Lisboa 22: “Martyr” de Mazen Khaled

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Muitas vezes o filmes mais interessantes de um certame como o Queer Lisboa são os menos óbvios. Aqueles em que existe uma certa ambivalência temática na forma como abordam a experiência queer. Este filme libanês, Martyr de Mazen Khaled, encaixa perfeitamente nesse perfil.

Retrata a vida de um grupo de amigos, jovens adultos, no Líbano. Navegam entre trabalhos sem encontrar um lugar que os valorize, sentem a pressão da família em cumprir o papel que lhes foi atribuído e encontram apenas refúgio uns nos outros e no oceano que os libera. Mas um deles não aguenta tamanha repressão e acaba por falecer de forma abrupta num mergulho que se revela ser o seu último.

Martyr não é um filme gay, ainda que a relação entre duas das personagens principais seja obviamente homoafetuosa. É um filme sobre masculinidade e como a toxicidade das expetativas impede o crescimento destes rapazes que se destinam a nunca serem homens. Apesar da sociedade lhes dizer que já há muito o deviam ser e estão a desperdiçar a vida a tentar encontrar-lhe um rumo.

Khaled encena o filme como um ritual desde o início ao fim. Da forma como filma o corpo do falecido, como se fosse ele, já sem vida, o foco de todo o filme. Cada poro, cada pêlo, cada gota de mar a secar. E durante o seu funeral os rituais mantêm-se no cantar ferido de uma mãe destroçada, na limpeza do cadáver para preparar o encontro com Alá, nas danças amargas entre os amigos que se despedem do companheiro de vida. Um filme fascinante em que a imagem é a única verdade que interessa.

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