Ontem começou a quarta edição do Queer Porto, a irmã mais nova e eclética do festival lisboeta, mesmo em plena Baixa da cidade no Teatro Rivoli. Sendo a primeira vez que tive oportunidade de comparecer a esta edição a Norte, não deixa de ser obrigatório afirmar o quão refrescante é ver estas iniciativas não só descentralizadas, mas também ainda mais ambiciosas e arrojadas.
A programação já tinha começado antes da sessão de abertura e um dos filmes em competição era “Les Garçons Sauvages” de Bertrand Mandico, uma alucinação conjunta de cinco rapazes – interpretados por atrizes – que viajam com um perverso Capitão de barco para uma ilha misteriosa onde a sua sexualidade desabrocha. Esta trip de ácidos tem tanto de bom quanto de insólito na forma como aborda os temas de identidade de género, de forma alegórica e muitas vezes doentia. Sempre no reino da fantasia e do pesadelo sexual como se de uma mistura sórdida entre Spike Jonze e Pasolini se tratasse. Apesar de um desfecho pouco convincente existem imagens do filme que ficam para sempre, sejam elas da intoxicação inebriante de uma árvore que esguicha sémen ou da transfiguração feminina dos corpos que acontece naquela ilha.
Para sessão de abertura os curadores do Queer Porto escolheram “Bixa Travesty“ do qual já escrevemos extensamente na últimas semanas, tal é a minha obsessão (pouco saudável) por Linn da Quebrada no último mês. O sucesso reproduziu-se por aqui e aplausos irrompiam expontaneamente em momentos chaves do discurso da ativista revolucionária brasileira, símbolo maior da nossa comunidade tanto lá quanto cá. A festa continuou nos Maus Hábitos, local de eleição da população queer do Porto, onde Linn atuou inclusivamente a semana passada. Assim se abriram as hostilidades para o que prometem ser cinco dias plenos de visibilidade nas mais diversas áreas artísticas.