Foi ontem no Teatro Rivoli a grande sessão de encerramento da quarta edição do Queer Porto com a atribuição dos palmarés aos filmes em competição. O júri atribuiu Melhor Filme a Soldiers. Story from Ferentari de Ivana Mladenovic com menção honrosa para The Rest I Make Up de Michelle Memran. O público escolheu o documentário de Caroline Berler, Dykes, Camera, Action! com o seu voto. Com alguma pena que vejo 1985 ficar de fora das premiações mas a subjetividade da arte assim o obriga.
As honras de filme de encerramento coube a Shéhérazade de Jean-Bernard Marlin, filme da Semana da Crítica de Cannes, e que conta a história de Zach, um rapaz abandonado pela mãe em Marselha e que vive entre lares e instituições de correção. Na sua última chance de colocar a vida nos eixos conhece Shéhérazade, uma prostituta de rua com quem tinha andando na escola torna-se o seu chulo ao mesmo tempo que por ela se apaixona.
Este pedaço de cinema verité, que em muito faz lembrar as obras dos irmãos Dardenne, é emocionalmente violento e uma história incrível de redenções travadas por circunstâncias de vivência social que não se podem controlar ou transfigurar. O destino daquela personagens parece fatalmente traçado pelo meio em que cresceram e pelas pessoas que se rodearam. Não é de todo um filme queer e muitos no final questionaram-se a razão pela qual ele teria sido escolhido para integrar a programação, ainda para mais com a existência de uma personagem terciária que era uma mulher trans prostituta e viciada em drogas – não propriamente o retrato mais original de uma pessoa T em cinema e já a roçar a miséria facilitista. Mas o filme é efetivamente extremamente bem conseguido a nível artístico e quase nos faz esquecer esses faux pas.
E a festa encerrou no habitual Maus Hábitos com a promessa de mais uma edição para o ano e com uma vontade de crescimento para este festival de visibilidade Queer no Porto que ainda vai no início. Até para o ano.