
Por esta altura já todas as pessoas sabem que a Marvel Comics é, e sempre foi, a grande pioneira da representação LGBT em comics. Não deixa de ser irónico que apesar de ser a editora mais rentável de todas, a par da DC Comics, continue a tomar a dianteira na batalha pelos direitos das pessoas LGBT desde muito cedo. Os X-Men, em particular, foram, desde a sua génese em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby, símbolos de uma luta partilhada por todas e todos que se sentiam marginalizados pela sociedade. Algo que se foi tornando mais obviamente endereçado a minorias durante a era de Chris Claremont nos anos 80 e a apresentação de personagens como Storm, Nightcrawler e Wolverine.
A importância de um dos X-Men originais, Bobby Drake – conhecido por Iceman/Homem de Gelo – se revelar homossexual, depois de cinquenta anos de história, não é menosprezável. Tudo aconteceu quando uma versão mais jovem de Bobby Drake, proveniente de uma linha temporal alternativa, faz o seu coming out e confronta o seu “eu” mais velho sobre a sua orientação sexual. Depois de se debater com isso desta forma tão concreta e de décadas de dúvidas, o Bobby original sai também do armário e, como resultado, obtém a sua própria revista. Fracas vendas iniciais da revista levaram ao seu cancelamento, eventualmente revogado quando o sucesso inesperado das compilações da mesma obrigou ao seu retorno em 2018.

A revista é assinada pelo escritor Sina Grace, um homem gay proveniente de uma família do Médio Oriente. Esta tentativa da Marvel Comics de dar oportunidade às minorias de assinarem as suas próprias histórias e se representarem a elas mesmas na cultura popular revela-se assim bem sucedida e não apenas um interesse de nicho. E Grace continua agora a trilhar novos caminhos para a personagem e para os X-Men em geral ao apresentar a primeira personagem mutante que também é uma fabulosa drag queen.
Ela chama-se Shade e os seus poderes de teletransporte são coadjuvados por um magnífico leque – não sem um “thwoorp“, cortesia de Katya Zamolodchikova. Não é por acaso que existem tantas referências a RuPaul’s Drag Race, o reality show de competição entre drag queens americanas que já vai na sua 14ª temporada, contando com All Stars, e conquistou recentemente o mainstream ao passar da exibição no canal gay Logo para a VH1. O próprio visual de Shade é declaradamente inspirado em drag queens como Shea Coulée, The Vixen e Dax Exclamation Point – que dedicou a sua carreira ao cosplay de personagens da Marvel. Também não é coincidência que Grace já tenha confirmado a presença na próxima DragCon.

Não deixa de ser irónico que com a aceitação das pessoas LGBT tanto nos comics e na televisão, o cinema ainda não tenha seguido estes passos e ainda esperamos pelo primeiro super-herói LGBT nos filmes da Marvel Studios. Pode ser que, à semelhança dos comics, ele venha mesmo a ser Iceman e venha acompanhado pela fabulosa Shade. Shantay you both stay!
Fonte: PinkNews
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