O beijo icónico de Kelley O’Hara após a vitória no Campeonato do Mundo

No passado domingo, a Seleção Nacional Feminina de Futebol dos Estados Unidos conquistou o seu segundo Campeonato do Mundo consecutivo – o quarto no geral -, tornando-a assim na equipa com mais vitórias na história. Foi um dia monumental no mundo desportivo, mas as atenções desdobraram-se também para as comemorações após a vitória, nomeadamente os inúmeros beijos. Um deles tornou-se icónico dado que marcou a saída do armário de uma das campeãs.

Não é nenhum segredo que a seleção norte-americana de futebol inclui inúmeras mulheres lésbicas, bissexuais e queer. Por exemplo, é conhecida a relação da co-capitã Megan Rapinoe com a estrela de basquete Sue Bird; Ashlyn Harris e Ali Krieger, companheiras de equipe, estão noivas; Jill Ellis, a treinadora lésbica da equipa, acabou de se tornar a primeira a ganhar dois títulos do Campeonato do Mundo. No entanto, com toda esta incrível visibilidade dentro e fora do campo, houve um momento que surpreendeu todo o mundo: Kelley O’Hara.

O’Hara, defesa da equipa campeã, não tinha ainda saído do armário até ao passado domingo. Aliás, a última relação que lhe era conhecida publicamente, há quase uma década, era precisamente com um homem. O momento em que ela decide festejar beijando a sua namorada (não se sabe ainda o seu nome), tornou-se assim no instante em que ela assume o seu Orgulho.

E para percebermos como este momento é importante, importa recordar como foram tratadas outras atletas no passado. Como por exemplo a tenista Billie Jean King, que foi denunciada num processo em 1981 e acabou assim tornando-se na primeira atleta feminina a sair do armário (contra a sua vontade). Ou Babe Didrikson Zaharias, dupla medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1932, que foi criticada pela sua aparência masculina, casou-se com um homem e morreu de cancro com a sua “amiga próxima” a seu lado. Estes exemplos repetem-se ao longo da história desportiva, até tão recentemente como Caster Semenya que já foi questionada, testada, negada vezes sem conta se é uma “mulher verdadeira”.

É por todas elas e pelas atletas futuras que este beijo conta. A visibilidade e os exemplos de afecto e amor ainda são essencialmente invisíveis do grande público durante quase todo o ano. É também para combater este silenciamento que se celebra, contracorrente, o Mês do Orgulho LGBTI.

Não se trata aqui apenas de representação no desporto ou nos meios de comunicação. O impacto que imagens como as de O’Hara têm no subconsciente social é enorme, porque desconstroem papéis de género, desconstroem como uma mulher deve ou não comportar-se em público, desconstroem ainda quem uma mulher deve amar. Acrescentar novas realidades ao universo do que é o Amor, social e politicamente, e para além do heterossexual, apenas o fortalece e o torna verdadeiramente universal.

Um dia deixaremos de abrir uma checklist interminável para conseguirmos explicar quando e onde percebemos ser pessoas LGBTI. Um dia deixaremos de ser denunciadas pelo que somos. Um dia deixaremos de ter que nos sentar com os nossos pais e mães em lágrimas para termos uma “conversa difícil”. Com o momento icónico pós-jogo de Kelley O’Hara, estamos hoje um pouco mais perto desse dia. Obrigado, Kelley.

Fonte: Glamour.


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