No Armário do Vaticano: Novo Livro Relata Podres e Hipocrisias Homofóbicas da Igreja Católica

Durante quatro anos, o jornalista Frédéric Mártel entrevistou 1500 testemunhas sobre os hábitos pouco bíblicos dos homens que povoam o Vaticano. Foram centenas de padres, 50 bispos, 40 cardeais, em 30 países diferentes e com 80 colaboradores, tudo sobre cinco pontificados diferentes. Se tinha livre acesso aos corredores mais escondidos do Vaticano, é natural que agora isso venha a terminar. Em entrevista ao Público, Mártel falou sobre o seu livro, No Armário do Vaticano — Poder, Hipocrisia, Homossexualidade, e de como todas as portas que anteriormente estavam abertas se fecharam.

Sobre a hipocrisia da homofobia por parte de homens da Igreja, homossexuais, praticantes ou não diz: “O facto de serem homofóbicos liga-se à sua homossexualidade: é o recurso ao segredo, para mascarar uma homossexualidade reprimida e mal assumida. Quando ela se explicita, porque há desejos, é sempre culpabilizada. Ela pode atingir formas de ódio de si e de esquizofrenia verdadeiramente surpreendentes”

Diz que o grau de negação por parte destes homens é o de uma homossexualidade (não) vivida que remonta à dos anos 50, repleta de vergonha e imersa em segredos hediondos. Sobre os escândalos de pedofilia ressalva novamente o facto de não haver qualquer relação com a orientação sexual dos agressores, apesar de na Igreja esse número ser muito mais elevado. Uma questão de acesso, é óbvio. E a pedofilia só será erradicada com uma maior abertura da orientação sexual – e uma total aceitação da mesma – por parte do mais altos cargos hierárquicos, muitas vezes silenciados nestes horrendos casos de abuso infantil sob a chantagem dos perpetradores e da ameaça destes em revelar a vida secreta de quem pode algo fazer. E sobre o Papa Francisco diz: “Para compreender o que se passa neste momento no Vaticano, é preciso compreender que devemos enfrentar uma espécie de complot, uma espécie de cabala contra o papa Francisco, urdida pelos cardeais de extrema-direita, extremamente homofóbicos, que criticam em Francisco o seu liberalismo em relação aos costumes, que é, apesar de tudo, muito relativo, em relação aos imigrantes, à pena de morte, ao meio ambiente”.

Mas a hipocrisia não acaba aqui. Os segredos, também escondidos por toda a imprensa do Vaticano, adensam-se. Festas de drogas (chemsex), orgias, prostituição – muitas testemunhas de Mártel eram jovens prostitutos identificados em hospitais de Roma – são recorrentes. E o VIH conhece neles a maior população de risco de toda a cidade: “Descobre-se de maneira assombrosa que, primeiro, os padres são quem menos utiliza preservativos; em segundo, sabe-se, através dos médicos, que é a população mais em risco em Roma; e por fim descobre-se que um número importante de padres e seminaristas morreu de sida durante a epidemia. Eis então um segredo bem guardado e que é de uma tristeza absoluta. Como me disse um médico especialista em VIH, o problema é que, quando eles chegam ao hospital, já estão com doenças oportunistas“.

A sordidez desta hipocrisia é perfeitamente inenarrável. Inacreditável que passados séculos de milhares e milhares de mortes e ainda mais abusos por eles causados, continue a ser dada carta branca a estes Senhores de batina; para que tudo possam fazer. Sem consequências. Com toda a impunidade consagrada por (um falso) Deus. Condenam veementemente a homossexualidade enquanto a praticam de forma descontrolada, pondo em risco a vida de seminaristase prostitutos num jogo de poder perfeitamente pérfido. Apesar de muitos acharem que o Papa Francisco tudo vai mudar, isso é bastante dúbio, principalmente tendo em que conta que o liberalismo do Papa não parece alguma vez conseguir vir a apanhar a realidade social em que se pretende inserir. Enquanto isso o anacronismo ganha, mais vidas se gastam e perdem. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Fonte: Público

Deixa uma resposta