A coragem de Jonathan Van Ness: sobre ser sobrevivente de abuso sexual e viver com VIH

Jonathan Van Ness, o nosso favorito de todos os rapazes da série Queer Eye, voltou a mostrar porque é que merece esse reconhecimento e muito mais. O mais feminino e corajoso dos rapazes já tinha admitido durante o Pride deste ano que se identificava como não binário, mas desta feita abriu o jogo em relação a algo ainda completamente tabu na comunidade LGBTI e, principalmente, nos homens gay: Jonathan revelou que vive com VIH desde os 25 anos.

Numa entrevista cândida ao New York Times falou de vários outros episódios que marcaram a sua vida e que estão pormenorizados na sua biografia intitulada Over the Top, que sairá já dia 24 de setembro. Revela também que foi abusado sexualmente por um rapaz mais velho da igreja que frequentava e que isso o levou mais tarde na sua vida a uma espiral de auto-destruição com drogas, incluindo metanfetaminas, e trabalho sexual.

A exposição destes tópicos por alguém que neste momento parece indestrutível e tem a luz da ribalta toda nele, ainda fresco do sucesso incrível de Queer Eye, é quase inédita no culto da celebridade e de Hollywood. E a franqueza com que demonstra tamanha vulnerabilidade é a derradeira demonstração de força e de coragem, servindo inevitavelmente de inspiração para muitas pessoas que poderão estar a passar por episódios semelhantes.

Para além de demonstrar mais uma vez a importância das vítimas de abuso sexual relatarem as suas histórias e pedirem ajuda antes que seja tarde, Jonathan atira uma pedra no charco na discussão do VIH e da discriminação que as pessoas VIH positivas sofrem não só da sociedade no geral, mas principalmente das pessoas na comunidade, muitas a continuar a estigmatização do vírus e de quem com ele como se estivéssemos ainda nos anos 90.

Se queremos caminhar para a erradicação do VIH temos de começar a acolher de braços abertos todas as pessoas que vivem com ele e que a ele sobreviveram, bem como estarmos informados de todas as formas de prevenir a transmissão do vírus. E acima de tudo perceber que alguém VIH positivo em tratamento e com carga viral indetectável não o pode transmitir. Devemos a quem pereceu antes de nós erradicar a doença, mas acima de tudo a estigmatização das pessoas que vivem com ela. E devemos também a pessoas como Jonathan Van Ness um agradecimento eterno por tentarem aos poucos derrubar essa discriminação.

Fonte: The New York Times

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