Antologia Queer: Dar visibilidade a personagens que durante séculos foram renegadas ao silêncio

Pormenor da capa do livro “Antologia Queer” (Imaginauta, 2019)

Nesta antologia podemos ler variadas personagens queer, vibrar com elas, torcer por elas, viver com elas. Viver, também e na realidade, connosco.

Seis histórias de ficção especulativa protagonizadas por pessoas queer e com autoria de jovens, é esta a base para a iniciativa da Antologia Queer, que, em parceria de seleção com a esQrever, será lançada pela Imaginauta no Fórum Fantástico 2019.

É esta a introdução da mesma, pessoal como os livros que, folha após folha, nos são próximos e fazem parte de nós:

A leitura sempre foi uma das minhas paixões e desde que aprendi a ler busco histórias que me prendam noites fora. Na realidade, antes de conseguir ler já eu folheava livros inteiros para tentar descortinar aquilo que queriam contar e aos poucos fui-me deixando levar. À medida que fui crescendo percebi que, apesar da variedade de estilos, havia uma lacuna em todos eles: pessoas Queer. Personagens cuja identidade não seguia a da maioria heterossexual e cisgénero, cuja expressão de género seguia outros caminhos para além daqueles que eram socialmente aceites. Na busca incessante por personagens que se destacavam, que eram diferentes da maioria, nenhum daqueles livros arriscava ou sequer colocava a hipótese de contar a história de uma personagem Queer. Ela não existia, invisível no mundo literário. Se me surgia alguma personagem Queer era quase sempre como vilã e esta tornou-se numa mensagem que se foi entranhando na mente. Ela era invisível, desprezável, repugnante. E eu com ela.

Só muito mais tarde consegui ter acesso a livros que abordavam e exploravam histórias com personagens LGBTI e abertos a uma cultura Queer realmente visível e livre de preconceitos. Todo o processo de maturação e de desconstrução sobre aquela primeira imagem deu-se com a ajuda daqueles livros em que, pela primeira vez, empatizei com alguém gay, alguém lésbico, bissexual ou trans. Conheci-lhes as ânsias, os receios, a coragem, o amor. E revi-me em muitos deles. Afinal não eram invisíveis, afinal nem todas ambicionavam destruir o mundo.

Afinal eram, de resto, como quaisquer outras personagens.

Mas foi essa pequena diferença que abriu todo um mundo de contos e histórias que nunca tinha lido. E é aqui que entra esta Antologia Queer, na qual, a convite da Imaginauta e com o André Nóbrega e a Sandra Gomes, tive a oportunidade de participar na seleção dos contos. Através desta colectânea é dada visibilidade a personagens que durante séculos foram renegadas ao silêncio e sem que a sua sexualidade seja o ponto focal do enredo ou o aspecto mais marcante ou interessante das suas personalidades. Aqui podemos lê-las, vibrar com elas, torcer por elas, viver com elas. Viver, também e na realidade, connosco. Porque não são os mundos longínquos que nos separam, não são as naves espaciais, os fantasmas ou a magia. Somos nós que, ao lê-los, embarcamos numa viagem exótica de empoderamento, reconhecimento e de um gozo absoluto por descobrir todas as histórias que até aqui desconhecíamos.

Viremos então mais umas páginas e tomemos-lhes o gosto.


O lançamento da antologia decorrerá no dia 12 de outubro pelas 14h30 no Fórum Fantástico que decorrerá na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro e contará com uma apresentação de várias pessoas que permitiram a criação deste livro. Apareçam!

Capa do livro Antologia Queer pela Diana Marques.

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