
Uma nova análise aos “Amantes de Modena” – um par de esqueletos com 1.600 anos encontrados enterrados com as mãos entrelaçadas – revela que o casal é, afinal, do sexo masculino. Quem eram afinal estes homens? E por que foram enterrados com as mãos juntas?
Encontrados há 10 anos num antigo cemitério, os Amantes de Modena foram inicialmente considerados um casal de homem e mulher. Mas, na altura, não foi possível uma determinação definitiva do sexo devido à má preservação dos esqueletos. Esta semana, nova pesquisa publicada na revista científica Scientific Reports mostra que os dois esqueletos eram do sexo masculino, derrubando assim concepções anteriores dos supostos amantes.
Não é incomum ver casais enterrados juntos, incluindo casais colocados em posições de colher ou de mãos dadas. Exemplos incluem os “Amantes de Valdaro”, de há 6.000 anos, também da Itália; ou um casal grego que remonta aproximadamente à mesma época e um casal russo idoso que data de há cerca de 5.000 anos. Já encontrar um casal de homens de mãos dadas é uma raridade.
Segundo o novo artigo, em co-autoria do arqueólogo Federico Lugli, da Universidade de Bolonha, o registro arqueológico é essencialmente desprovido de exemplos nos quais homens são enterrados de mãos dadas. “Esse gesto“, escreveram os autores, “era incomum, ou mesmo sem qualquer representação na arte da altura e mesmo antes dos tempos modernos“. Os autores não sabem ao certo por que os dois homens foram enterrados dessa maneira, mas a “descoberta de dois homens adultos intencionalmente enterrados de mãos dadas pode ter implicações profundas no entendimento das práticas funerárias no final da Itália antiga“.

Além de terem determinado o sexo, os pesquisadores também descobriram que os homens tinham cerca de 20 anos quando morreram. Dadas as evidências limitadas, os autores não foram capazes de descartar uma possibilidade óbvia: os homens eram gays. Dito isso, eles consideraram esse cenário improvável, dadas as normas e leis sociais vigentes na época, conforme explicaram os autores no estudo:
Embora não possamos excluir que esses dois indivíduos estavam realmente apaixonados, é improvável que as pessoas que os enterraram tenham decidido mostrar esse vínculo posicionando os seus corpos de mãos dadas. Particularmente, as atitudes sociais da Antiguidade Antiga e as restrições religiosas cristãs levam à rejeição de qualquer hipótese de manifestação deliberada do relacionamento homossexual. De fato, desde o ano 390, a homossexualidade era desaprovada por lei e, durante o reinado de Justiniano (527-565), o sexo entre homens era considerado um crime.
Em vez disso, os pesquisadores levantaram a hipótese de que os jovens seriam parentes próximos, irmãos ou primos. Como alternativa, os homens seriam soldados que morreram juntos num combate mortal e depois enterrados no que se presume ser um cemitério de guerra. De facto, alguns dos esqueletos enterrados neste local exibiram sinais de trauma, que poderiam estar ligados à guerra, segundo a nova pesquisa.
A razão para o enterro de mãos dadas não é clara, mas o que está claro é a natureza incomum dessa descoberta e o que ela nos diz sobre as práticas de enterro romano. Como tal, a descoberta mostra “uma representação única de compromisso entre dois homens” durante esse período, concluíram os autores.
Fonte: Gizmodo.