Casa Qui abre primeiro apartamento de autonomização para jovens LGBTI do país

No próximo dia 10 de dezembro de 2019 – Dia Internacional dos Direitos Humanos – a Casa Qui – Associação de Solidariedade Social, inaugurará, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, o primeiro apartamento de autonomização para jovens LGBTI do país. ReAJo – Resposta de Autonomização para Jovens LGBTI é o seu nome.

Através do seu Gabinete de Apoio à Vítima para Juventude Lésbica, Gay, Bissexual, Trans ou Intersexo (GAV-JLGBTI), a Casa Qui identificou a necessidade de uma valência de acolhimento para dar resposta a situações-tipo para as quais não há qualquer resposta a nível nacional.

Assim, este apartamento surge como um espaço seguro ajudando a colmatar algumas situações de risco ou perigo, como por exemplo jovens em situação de expulsão de casa após revelarem a sua orientação sexual ou identidade/expressão de género. 

Este apartamento de autonomização, para jovens entre os 16 e os 23 anos, terá 2 quartos individuais para permanência até 6 meses e 2 quartos individuais para permanência até 2 anos. Contará com a equipa técnica multidisciplinar e especializada do GAV-JLGBTI e parceiros estratégicos de forma a atuar em situações de emergência/crise e em situações que possibilitarão construir com o/a jovem um projeto de autonomia de vida. 

Ao nível nacional, as várias associações com intervenção LGBTI em Portugal têm recebido, ao longo dos anos, relatos de situações de violência familiar. Diversos estudos nacionais e internacionais mostram que a juventude LGBTI apresenta mais fatores de risco como a rejeição e discriminação escolar, a falta de apoio parental e violência familiar, tendo como consequência a diminuição da autoestima, aumento da depressão e isolamento – apontando para uma maior propensão de jovens LGBTI se encontrarem em situação de sem-abrigo ou em instituições de acolhimento

Estes fatores são amplificados no caso de jovens LGBTI sem-abrigo/expulsos de casa, de acordo com estudos internacionais, sendo encontradas diferenças significativas quando comparados com os jovens heterossexuais ou cisgénero, como mais violência física e sexual familiar. Quando já nas ruas, são vítimas de maior discriminação por parte da polícia e dos próprios colegas de rua; recorrem mais frequentemente à troca de atividade sexual por alimentos, abrigo, dinheiro ou substância ilícitas; e ficam mais expostos à infeção pelo VIH. 

Relatórios nacionais indicam números muito baixos de pedidos de ajuda por parte de jovens  LGBTI às instituições oficiais e uma avaliação negativa muito significativa das intervenções por parte dos/as jovens que pediram ajuda. Muito frequentemente, a razão para não pedirem ajuda é o medo de vitimização secundária.
 
Com esta resposta, pretendemos apresentar uma solução para as dificuldades sentidas por parte de jovens acompanhados e acompanhadas pela Casa Qui relativamente ao acolhimento, relação com as equipas técnicas e com os seus pares em espaços de resposta generalista, que têm levado ao abandono precoce desses apoios e o regresso à situação de violência ou de vulnerabilidade.

Intitulado ReAJo – Resposta de Autonomização para Jovens LGBTI, este novo serviço da Casa Qui conta com o apoio da Vereação da Habitação e Desenvolvimento Local e da Vereação dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa.

Fotografia por Jon Tyson.