Amigas Improváveis?

Estreou este ano na SIC o programa “Amigos Improváveis”, um programa que tinha como objetivo principal ser uma experiência social que promoveria o convívio entre jovens maioritariamente pertencentes à chamada geração Z (nascido após o aparecimento da internet) e Baby Boomers (idosos nascidos após o boom de crianças durante o pós-segunda guerra mundial).

Neste programa, os idosos escolhem um dos jovens concorrentes para partilharem estadia na sua casa durante um mês. Ora, os idosos são naturalmente vistos pelas populações mais jovens como sendo pessoas muito ligadas à tradição, ao senso-comum, com mente fechada e com conceitos muito definidos sobre aquilo que pensam em relação a pessoas com pensamentos e orientações sexuais/identidades de género diferentes da norma imposta pela sociedade.

Num dos episódios do programa, Catarina Ramos, uma jovem que estava hospedada na casa da “Dona” Fernanda, uma idosa que se assumia como uma forte defensora dos valores tradicionais da cultura portuguesa,  lembra-se de abrir um debate de ideias em relação ao tema da homossexualidade, no sentido de tentar perceber qual seria a posição da “Dona” Fernanda em relação a esta matéria – considerada fraturante – na sociedade portuguesa. A jovem fica muito surpreendida quando a idosa lhe responde que não vê nenhum mal no amor entre pessoas do mesmo sexo e que receberia a jovem na sua casa, mesmo se soubesse que ela fosse lésbica.

Este momento ternurento entre uma jovem que ainda questiona a sua sexualidade e uma idosa assumidamente conservadora que demonstra abertura para aceitar pessoas LGBT, sem as discriminar, assume extrema importância nos tempos atuais, nos quais os discursos demagógicos anti-LGBTI circulam pelas redes sociais e pelas televisões, através da boca de um deputado de extrema-direita que conseguiu o seu lugar na Assembleia da República.

Mensagens como esta, de que não há qualquer problema em amar pessoas do mesmo sexo, podem trazer uma outra abertura para algumas pessoas que vêem o programa e que até aqui tinham uma visão mais deturpada sobre o que significava pertencer à comunidade LGBTI+ e, por outro lado, jovens que se encontram “dentro do armário” podem sentir uma maior liberdade/motivação para se assumirem como naturalmente são para o seus familiares e amigos.

Parabéns à SIC, por apostarem neste tipo de programas, que assumem um papel de serviço público ao educarem as gerações mais velhas para a diversidade sexual.

João Figueiredo


Amigos Improváveis esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈:

Deixa uma resposta