Tiger King é o desastre que não conseguimos parar de ver

O mundo lá fora pode estar um caos e talvez não por acaso a série documental Tiger King, da Netflix, possa ser o guilty pleasure perfeito nestes tempos conturbados. Joe Exotic, o protagonista excêntrico, over the top, amante de armas, dono de centenas de animais exóticos, gay e poliamoroso é a receita perfeita para este desastre que não conseguimos parar de ver.

O documentário começa desde logo com uma chamada telefónica de Joe Exotic (Joe Schreibvogel é o seu verdadeiro nome) vinda da prisão. É nessa questão, como lá foi ele parar, que recuamos uns anos para entender a vida deste peculiar homem gay que casou com outros dois, prendendo-os na relação pelo consumo de drogas. Com eles manteve um jardim zoológico dedicado a animais exóticos, nomeadamente tigres. Aquilo que começou por ser um santuário, rapidamente passou a ser um tremendo negócio com cada cria de tigre a lucrar-lhes largos milhares de dólares… enquanto fossem pequenas. Todo este turbilhão é bem espelhado quando, em plenas filmagens, uma das pessoas responsáveis pelo jardim é atacada por um tigre e vê o seu braço amputado. Dias depois da operação regressou ao local de trabalho como se nada fosse, mostrando orgulhosamente a cicatriz para as câmaras.

A juntar a esta premissa, surge o ódio de estimação de Joe, Carole Baskin, uma milionária cujo marido desapareceu misteriosamente há uns anos e ficou ela a cargo de um outro santuário de animais exóticos e o acusa de maltratar os animais. Joe acusa-a de estar a denegrir o seu nome e repete até à exaustão que só a quer ver morta, filmando-se a disparar contra um boneco com a cara de Carole.

Sedento de protagonismo, Joe chega a candidatar-se à Presidência norte-americana e, com isso, perde centenas de milhares de dólares, o que só o afunda mais em dívidas. É neste ambiente explosivo que Joe perde ambos os maridos, um deles teve um filho com uma das funcionárias do zoo e casou-se com ela, e o outro suicidou-se diante do seu diretor da campanha presidencial. Lágrimas diante das câmaras e um funeral onde mostrou os seus dotes de vocalista – que afinal nem a sua voz era -, umas semanas depois estava já casado com outro jovem.

Bem sei que o algoritmo da Netflix saberá muito de mim, mas a verdade é que este já é o quarto documentário que me sugere em que os protagonistas são pessoas LGBTI. Depois de The Staircase (que já discutimos num episódio do podcast Dar Voz a esQrever, abaixo), de Killer Inside: The Mind of Aaron Hernandez e ainda Don’t F**k with Cats, este Tiger King é a quarta série documental em que, sem dar conta, estou a assistir a mais um vilão queer. Já não me bastava a Hollywood para isso.

Entre campanhas de difamação mútua, resta saber como Joe Exotic foi parar à prisão, por fim enjaulado como os seus tigres, que por diversas vezes o atacaram. É esse o momento zero do desastre. Enquanto esperamos por um Mundo melhor lá fora, este pode ser o épico embate que podemos ver cá dentro.

Nota: Texto revisto pela Ana Teresa.


Tiger King esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam:


A esQrever no teu email

Subscreve e recebe os artigos mais recentes na tua caixa de email

Respostas de 2 a “Tiger King é o desastre que não conseguimos parar de ver”

  1. […] está a ser muito aplaudido, Retrato de uma Jovem em Chamas, e uma série documental puro-trash, Tiger King. Também falamos dos podcasts que nos têm ajudado a #Queerentena e respondemos a perguntas […]

    Gostar

  2. […] Tiger King é um dos programas do momento. Joe Exotic, o seu protagonista “excêntrico, over the top, amante de armas, dono de centenas de animais exóticos, gay e poliam…“ […]

    Gostar

Deixe uma resposta para Saff, o tratador de Tiger King, é trans e foi incorretamente nomeado no programa – esQrever Cancelar resposta

Apoia a esQrever

Este é um projeto comunitário, voluntário e sem fins lucrativos, criado em 2014, e nunca vamos cobrar pelo conteúdo produzido, nem aceitar patrocínios que nos possam condicionar de alguma forma. Mas este é também um projeto que tem um custo financeiro pelas várias ferramentas que precisa usar – como o site, o domínio ou equipamento para a gravação do Podcast. Por isso, e caso possas, ajuda-nos a colmatar parte desses custos. Oferece-nos um café, um chá, ou outro valor que te faça sentido. Estes apoios são sempre bem-vindos 🌈

Buy Me a Coffee at ko-fi.com