Cancel Culture? Fruto de Privilégio, diz Alexandria Ocasio-Cortez

Muitos rios de tinta têm corrido online sobre a cancel culture (em português cultura de cancelamento), definida por uma massiva retirada de apoio a pessoas célebres cujas palavras e ações são postas em causa pelo público em geral através, maioritariamente, das redes sociais. A última “vítima” desta cultura de cancelamento foi J.K. Rowling, a escritora milionária britânica que nos passados meses tem vindo a incorrer em tiradas incessantes sobre as diferenças entre mulheres cis e mulheres trans e como estas últimas ameaçam a evolução dos movimentos feministas. Um exemplo do que é ser TERF, uma feminista radical trans-exclusionária. Nem mesmo depois de várias chamadas à razão por parte de organizações de direitos humanos e pessoas com quem trabalhou, ela parou de regurgitar ódio sobre a forma de preocupação pelos direitos das mulheres. A última aconteceu ao partilhar reportagens de homens trans que quiseram reverter a sua transição, tentando novamente desvirtuar as razões pelas quais foi criticada. 

Eis que surge uma carta aberta publicada na revista americana Harper’s contra esta cancel culture e é assinada por personalidades (quase todas problemáticas) como Margaret Atwood, Salman Rushdie, Gloria Steinem. E J.K. Rowling. Obviamente. Felizmente existem pessoas com plataformas que as usam para espalhar um pouco de razão e bom senso. É o caso da incansável Alexandria Ocasio-Cortez, jovem congressista democrata da Casa de Representantes do governo dos Estados Unidos da América. Ocasio-Cortez, que teve a jornada até à sua eleição retratada no incrível documentário Knock Down the House, da Netflix, respondeu a esta carta aberta da seguinte forma:

Não podia concordar mais. Como é que é possível assumir a posição de vítima de cultura de cancelamento quando essa afirmação é publicada numa revista de prestígio e secundada por tantas outras “vítimas” desse mesmo preconceito? “Pessoas que são efetivamente ‘canceladas’ não têm os seus pensamentos publicados e ampliados por todos os meios de comunicação” diz Ocasio-Cortez. “O termo cancel culture vem do privilégio – como se a pessoa que se queixa tivesse direito a uma grande audiência cativa e é-se vítima se as pessoas a criticam.”


A cancel culture esteve em discussão no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam:


Sem dúvida, o privilégio muitas vezes leva ao hábito de manutenção numa posição em que não se é mais desafiado ou pedido para tomar responsabilidade e esclarecer publicamente os seus atos e as suas palavras. E quando este “ajuste de contas” é feito é cancelamento? Não, é apenas uma forma de as massas anónimas e silenciadas ganharem uma voz e um púlpito que anteriormente só aos poderosos e célebres pertencia. Esta normalização de opiniões e vozes graças às redes sociais é ainda muito imberbe, mas já existe quem se sinta ameaçado porque a sua plataforma já não tem tanto poder e valor. Cries in gay.

É por isso que Rowling & Co. podem continuar a queixar-se de cancel culture, que estamos prontos e prontas para ripostar. E não podia haver melhor aliada que Alexandria Ocasio-Cortez, que, no mesmo dia, responde ao jornalista gay Evan Ross Katz sobre a quinta temporada de RuPaul’s Drag Race: All Stars afirmando que Shea Couleé e Jujubee são descaradamente as suas favoritas. Rainha da Luz e da Verdade.

Fonte: PinkNews

Nota: Texto revisto pela Ana Teresa.


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