
Esta semana, durante as celebrações dos 76 anos da Revolta de Varsóvia que marcou a luta do povo polaco contra a ocupação da Alemanha nazi e onde morreram mais de 15.000 pessoas integrantes na resistência polaca, nacionalistas marcharam, queimaram uma bandeira arco-íris, símbolo do Orgulho LGBTI, e gritaram insultos homofóbicos.
Este é o resultado de meses de discurso de ódio contra a população LGBTI polaca, nomeadamente pelo próprio presidente reeleito, Andrzej Duda, e que tem visto uma reação da União Europeia ainda tímida e branda.
Não deixa de ser irónico que a Revolta de Varsóvia seja um dos símbolos da luta contra o nazismo, tudo aquilo que representa e, 76 anos passados, voltarmos a cometer os mesmos erros que outrora, unidos e unidas, combatemos. Não esqueçamos que a população LGBTI foi precisamente um dos grupos perseguidos pelo regime nazi, tendo morrido 9.000 nos campos de concentração. Ironias das ironias, após a libertação dos campos, muitos deles foram novamente presos, dadas as políticas homofóbicas que os consideravam criminosos sexuais, políticas estas que permaneceram ativas na Europa durante longos anos.
Ora, é precisamente com esta preocupação que duas sobreviventes da Revolta de Varsóvia vieram a público falar, na primeira pessoa, sobre os ataques recentes contra as pessoas LGBTI na Polónia:
Nós, combatentes da Revolta de Varsóvia, protestamos porque nos lembramos. De início havia um triângulo rosa [usado nos campos de concentração nazis para distinguir pessoas LGBTI], depois uma estrela [usada por pessoas prisioneiras judias] e, finalmente, o símbolo que nos denotava, os membros da resistência clandestina polaca. O fascismo levou milhões de vidas. Agora, quando dizem que as pessoas LGBTI não são humanas, querem repetir o processo de exclusão. Durante a Revolta de Varsóvia lutámos pelo respeito e dignidade de todas as pessoas. Todas elas. Não sejam indiferentes!
Portugal não está imune a este tipo de manifestações de ódio, com o populismo político a alimentar-se, tal como na Polónia e outros países, do racismo, da xenofobia ou da LGBTIfobia. Já sabemos onde este caminho nos leva, já sabemos o preço que a humanidade pagou – e continua a pagar nos dias de hoje – quando o ódio chega ao poder. Hoje, mais que nunca, não podemos desarmar. Não fiquemos, pois, indiferentes!
Não deixa de ser estranho que, para comemorar um episódio histórico (e heróico) ocorrido no contexto do nazismo, manifestantes achem ocasião para manifestar o seu ódio homofóbico e o propósito de exclusão e perseguição de outrem, por razões de orientação sexual. Não só é completamente despropositado, como semelha uma obsessão de contornos psicóticos.
Exato, é ir contra aquilo que simboliza o evento comemorado e é uma tristeza.