Quem o afirma é a CNN, os filmes da época natalícia são uma tradição consagrada e esta temporada pode ser a concretização de termos casais do mesmo género finalmente sentados à mesa… pelo menos nos ecrãs. A Hulu e a Hallmark Channel lançaram filmes de Natal que apresentam casais LGBTI no enredo principal. E há pelo menos sete novos filmes neste mês de dezembro que também têm algum tipo de representação. “Em comparação com os anos anteriores e a quantidade de filmes com inclusão LGBTQ que são lançados, é como noite e dia“, disse a CEO e presidente da GLAAD, Sarah Kate Ellis. “Passámos de zero a 100.”
Este ano marca o maior número de personagens LGBTI
No ano passado, um anúncio de Natal com um casal de lésbicas foi retirado pela Hallmark, um gigante norte-americano no que toca a filmes de fim de ano. Depois das críticas que recebeu, o anúncio foi colocado novamente no ar. Este foi um momento que Ellis considera um alerta para os estúdios.
“Hollywood entendeu que o modelo de negócio funciona e isso deu-lhes uma enorme oportunidade“, explicou Ellis. Este ano viu a maior percentagem de personagens LGBTI na televisão e no cinema desde que a GLAAD começou a verificar esses números há mais de 20 anos. “The Christmas House” e “Happiest Season” da Hulu apresentam casais LGBTI no enredo principal, por exemplo. E outros filmes recém-lançados com personagens LGBTI em papéis principais ou de destaque, como “The Christmas Setup” da Lifetime, “Dashing in December” da Paramount Network, “Dash and Lily” da Netflix, “Friendsgiving” da Amazon Prime ou “I Hate New Year’s” da Tello.
Ainda há um caminho a percorrer
Mas os números, ainda que promissores, ainda são insignificantes. Das cerca de 879 personagens regulares na programação em horário nobre, apenas cerca de 10% – 90 personagens no total — são explicitamente LGBTI. Havia outras 30 personagens que tinham apenas papéis secundários.
Os números são ainda mais surpreendentes quando se considera que esta é apenas a primeira vez que personagens LGBTI mulheres e pessoas não brancas superam – por pouco – aquelas que não o eram. “Em termos de visibilidade, foi muito limitado“, disse Ellis. “Hollywood reconhece que a demografia deste país mudou e por isso há uma necessidade de mudança.”
Em 2016 estimou-se que 20% das pessoas norte-americanas com idades entre os 18 e os 34 anos fazem parte da população LGBTIQ. Dados do Williams Institute da UCLA School of Law estimam que a população LGBTI nos Estados Unidos é de 4,5%. Ellis também aponta como o cinema fica atrás da televisão quando se trata de representação. “O cinema é a maior exportação cultural dos EUA, têm uma audiência global. E são especialmente importantes quando ainda temos 70 países onde ser LGBTQ é ilegal“.

Para artistas que interpretam personagens LGBTI, há pressão adicional
Quando os atores Ben Lewis e Blake Lee, que são casados na vida real, decidiram participar em “The Christmas Setup” da Lifetime, eles sabiam que estavam a quebrar barreiras. Mesmo que o canal tenha exibido o seu primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo num filme de Natal no ano passado, este é o seu primeiro filme da época a apresentar um casal gay no enredo principal.
“Foi algo enorme para nós“, disse Lee. “Seremos os primeiros a abrir esta porta.” O canal está à procura de seguir as etapas do serviço de streaming Hulu e do seu filme, “Happiest Season” [acima]. O filme, que conta com Kristen Stewart e Mackenzie Davis, quebrou recordes para o serviço de streaming. Ele teve os maiores números de audiência de qualquer série original do Hulu e atraiu uma quantidade significativa de novas pessoas assinantes. Ellis disse que não se surpreende com o sucesso do filme: “Durante muito tempo, estas histórias foram entendidas como um risco para os lucros das empresas, mas nunca foi um risco real“, disse Ellis. “A oposição de pessoas LGBTIfóbicas também tiveram maior impacto no passado, mas isso mudou.“
Filmes de férias com inclusão LGBTQ vieram para ficar
Considerando o sucesso que alguns destes filmes já obtiveram, fica claro que não irão desaparecer tão cedo. Paul e Alicia Schneider afirmaram já estar a trabalhar no seu próximo grande projeto, na produção de “A Holiday I Do”. “Em 2019, quando começámos a trabalhar neste projeto, 70 novos filmes de Natal estrearam nos principais canais de filmes de Natal no cabo e nenhum deles continha personagens principais ou histórias LGBTI“, disse Paul Schneider .Em “A Holiday I Do”, uma divorciada lésbica é a madrinha de casamento do seu ex-marido — e acaba num romance turbulento com a linda mulher que é a organizadora de casamentos. “Eu mesma faço parte da comunidade LGBTI, ver-nos no ecrã é um sentimento raro, mas incrível!“, disse Alicia. “Isso pode ajudar a abrir o diálogo para pessoas que não entendem ou aceitam totalmente as nossas vidas. Talvez ao verem-nos nos ecrãs num ambiente dito ‘normal’ traga clareza e aceitação.“
Filmes de Natal não são conhecidos pela sua inovação ou criatividade. Os seus argumentos estereotipados – quase sempre previsíveis – são sempre rematados com um final feliz que os tornam em momentos reconfortantes. Mas há muitas pessoas que veem o aumento da representação de personagens LGBTI como uma indicação de inclusão. “Estas histórias oferecem conforto e escape“, disse Lewis. “É algo que o público queer não teve acesso. Lewis quer ter certeza de que este não é um momento passageiro.”Até a palavra ‘tendência’ sugere que isto é algo passageiro, como se as pessoas dissessem ‘vamos dar às pessoas LGBTI o que elas querem e isso irá eventualmente acabar’. Mas não pode ser assim, este tem que ser o começo de algo mais inclusivo e familiar.“