Carta Aberta a Pedro Nuno Santos: A luta LGBTI não é “individualismo”, é Pluralidade

Hoje, dia 7 de março, Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação, participou num ciclo de formação da Juventude Socialista (JS) intitulada “Socialismo: Valores, identidade e futuro“, e, acerca das lutas que dividem a esquerda portuguesa, disse o seguinte:

As batalhas que travamos na JS, ainda no tempo em que eu era Secretário Geral, foram batalhas muito importantes pelos direitos, por exemplo, dos cidadãos homossexuais. São batalhas que temos de continuar a travar. O problema surge quando nos focamos excessivamente em cada letra que vamos acrescentando ao LGBTI+. É um contributo ao individualismo. Uma coisa é o direito de todas e todos termos os mesmos direitos, sermos respeitados pela nossa forma de estar na vida, independentemente de quem nós amamos, independentemente da nossa religião, independentemente da nossa cor, independentemente do nosso género. Mas quando reduzimos a política a isso estamos a fazer o serviço da direita.

Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas e da Habitação (Partido Socialista)

Bom, temos aqui um erro gigante na forma como se reduz a luta e batalhas da comunidade LGBTI a “cidadãos homossexuais” e que cada letra adicionada é nada mais que individualismo. Pedro Nuno Santos não podia estar mais equivocado. É extremamente perigoso afunilar os problemas de todas as pessoas LGBTI a questões de semântica e que significam sempre só ligeiras diferenças na abordagem da orientação sexual ou “de quem amamos”. Pois a luta LGBTI é identitária e plural e muito mais que a igualdade de pessoas com orientação sexual não normativa. Estamos a abordar, mais uma vez, exclusivamente as letras LGB da sigla – lésbicas, gay, bissexuais quando, na realidade, o ativismo LGBTI da passada década tenta – ou deveria – focar-se na letra T, das pessoas trans, cujas lutas nada têm que ver com orientação sexual, mas com identidade de género, questões completamente diferentes e que evocam abordagens radicalmente diferentes a nível social, político e, particularmente, no igual acesso à saúde.

Colocar as pessoas trans no mesmo saco dos “cidadãos homossexuais”, cujos direitos o Partido Socialista soube defender – e bem – juntamente com – ou a reboque de – outros partidos à esquerda, é letal. É retirar às pessoas trans a visibilidade que têm lentamente vindo a ganhar na praça pública portuguesa. É também não entender as razões pelas quais as pessoas trans continuam a ser as mais violentadas e discriminadas a nível mundial e em Portugal, muitas vezes com preconceitos assentes na misoginia, racismo e xenofobia. E a adição da letra I, das pessoas intersexo, é também ela para promover a visibilidade de pessoas que viram a sua vida decidida por profissionais de saúde e encarregados de educação que queriam subjugá-las ao que era mais facilmente entendido pela sociedade.

O lapso de Pedro Nuno Santos esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈

Pedro Nuno Santos, decerto um futuro candidato a Primeiro Ministro e que se considera um homem de esquerda, tem muitos pontos positivos a seu favor, nomeadamente na forma como poderá concentrar uma série de pessoas que não se revêem no carácter mais centrista do PS e do seu atual Secretário Geral António Costa nem na esquerda mais “radical e identitária” do Bloco de Esquerda. Mas para isso precisa de perceber que questões identitárias são o ponto fulcral das lutas de todas as minorias que constituem a população portuguesa. Que questões identitárias não são um luxo de promoção do individualismo, mas sim uma forma de mostrar a pluralidade das pessoas que nelas se inserem. E que têm necessidades muito diferentes entre elas e que requerem abordagens políticas também distintas. Não podemos combater a direita e acobardar-nos porque nos acusam de não nos prostrarmos a uma maioria dominante e de nos afastarmos cada vez mais dela, eliminando possíveis pontes. Cabe ao “outro lado” perceber que somos cidadãs e cidadãos com lutas específicas e que não podem ser deturpadas. E isso só acontecerá se não nos invisibilizarmos mais uma vez. Não nos peçam para voltar ao armário para combater a direita. Não o faremos. Nunca.


Ep.159 – Abuso sexual, mitos e factos na primeira pessoa (reedição) Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️‍🌈

O CENTÉSIMO QUINQUAGÉSIMO NONO episódio do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por Pedro Carreira. Sim, este episódio é especial e uma reedição de um episódio anterior dedicado ao abuso sexual, contado na primeira pessoa. Dado os recentes e mediáticos casos de abuso sexual na Igreja Católica a virem à superficie achamos que os conteúdos reeditados deste episódio fazem mais sentido que nunca e, acima de tudo, podem ajudar vítimas de crimes semelhantes de violência sexual a não se sentirem tão sozinhas. Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:- Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)Linha de apoio: 910 846 589 Email: apoio@quebrarosilencio.pt- Associação de Mulheres Contra a Violência – AMCVLinha de apoio: 213 802 165 Email: ca@amcv.org.pt- Emancipação, Igualdade e Recuperação – EIR UMARLinha de apoio: 914 736 078 Email: eir.centro@gmail.com Artigos mencionados no episódio: Sobre abuso sexual, orientação sexual e o silenciamento das vítimas O nosso corpo Quebrar O Silêncio: Vítimas de abusos sexuais estão em crise Abusos sexuais na Igreja: prescrição de crimes deve aumentar para 30 anos da vítima, defende Comissão Jingle por Hélder Baptista 🎧 Este Podcast faz parte do movimento #LGBTPodcasters 🏳️‍🌈 Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Twitter e Instagram (@esqrever) e para o e-mail geral@esqrever.com. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Podem deixar-nos mensagens de voz utilizando o seguinte link, aproveitem para nos fazer questões, contar-nos experiências e histórias de embalar: https://anchor.fm/esqrever/message 🗣 – Até já unicórnios 🦄
  1. Ep.159 – Abuso sexual, mitos e factos na primeira pessoa (reedição)
  2. Ep.158 – Festival da Canção (parte III), Dia Internacional das Mulheres e Portugal contra a LGBTIfobia húngara
  3. Ep.157 – Festival da Canção (parte II), Loreen, Ellie & Riley e Bans Drag outra vez

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