Elliot Page em entrevista à revista Time: “Sou totalmente quem sou”

Passaram 3 meses desde que, numa publicação no seu Instagram, o celebrado ator Elliot Page partilhou com o mundo a sua identidade trans. A notícia correu o mundo e, entre mensagens de apoio e de Orgulho, tornou, mais uma vez, claro que os meios de comunicação não sabem ainda como abordar este tipo de eventos. Mas Elliot diz estar hoje pronto para falar sobre a sua viagem. 7 anos depois de Laverne Cox ter sido a primeira pessoa trans na capa da revista Time, Elliot Page releva-se em entrevista à revista Time [capa abaixo].

Elliot Page não se lembra exatamente há quanto tempo se questionava, mas lembra-se da sensação de triunfo quando, por volta dos 9 anos, finalmente foi autorizado a cortar o cabelo curto. “Senti-me como um menino,” disse Page. “Queria ser um menino e perguntei à minha mãe se poderia sê-lo algum dia.

Em Halifax, na Nova Escócia, Page via-se como um menino em jogos imaginários, livre do desconforto de como outras pessoas o viam. Após o corte de cabelo, as pessoas começaram a vê-lo do jeito que ele se via, e para Elliot isso parecia-lhe certo e emocionante. A alegria foi, no entanto, de curta duração. Meses depois, Page conseguiu um papel como filha de uma família no filme Pit Pony. Ele usava uma peruca para o filme, e quando o filme se tornou num programa de TV, ele deixou o cabelo crescer novamente. “Tornei-me um ator profissional aos 10 anos,” disse Page. E perseguir essa paixão veio com um compromisso difícil. “Claro que eu tinha que ter um determinado aspecto”, confessou.

Passados estes anos, é-lhe difícil falar sobre os dias que levaram ao seu coming out público. “É um sentimento de verdadeira excitação e profunda gratidão por estar neste ponto da minha vida”, disse, “misturado com muito medo e ansiedade.”

Atualmente a filmar a terceira temporada da série da Netflix The Umbrella Academy, Page antecipava apenas “muito apoio e amor e uma enorme quantidade de ódio e transfobia”. E foi essencialmente isso que aconteceu, o que Page não previu foi o quão grande seria a sua história. O anúncio de Page, que o tornou uma das pessoas trans mais famosas do mundo, começou por ser tendência no Twitter em mais de 20 países e ganhou mais de 400.000 novos seguidores e seguidoras no Instagram apenas naquele dia. Milhares de artigos foram publicados, nem todos da melhor forma, é certo, como explicado aqui.

O processo de autoconhecimento, em todas as suas especificidades, continua a ser um trabalho em progresso. Enfatizar o género, uma identidade inata e realizada, pessoal e social, fixa e em evolução, é complicado o suficiente sem estar sob um holofote que nunca parece desligar, mas tendo chegado a um momento crítico, Page diz sentir uma profunda responsabilidade em compartilhar a sua verdade. “Há pessoas extremamente influentes que estão a espalhar mitos e retórica prejudicial—todos os dias vemos a nossa existência debatida”, afirmou Page. “As pessoas trans são muito reais.

Nunca me reconheci,” revelou Page sobre muitos dos seus papéis mais famosos no grande ecrã. “Durante muito tempo não conseguia nem olhar para uma foto minha.” Foi difícil assistir aos seus próprios filmes, especialmente aqueles em que ele desempenhou papéis considerados mais femininos. “Existem estereótipos generalizados sobre masculinidade e feminilidade que definem como todas as pessoas devem agir, vestir e falar e eles não servem a ninguém”, recordou num discurso de 2014.

Elliot Page encontrou o amor, casando-se com a coreógrafa Emma Portner em 2018. Começou a produzir os seus próprios filmes com protagonistas LGBTQ como Freeheld My Days of Mercy e fez de um guarda-roupa masculino uma condição para assumir papéis. No entanto, a discórdia diária estava a tornar-se insuportável. “A diferença em como eu me sentia antes de sair do armário como pessoa gay para depois desse momento foi enorme,” disse. “Mas o desconforto no meu corpo alguma vez desapareceu? Não, não, não, não.”

Em parte, foi o isolamento forçado pela pandemia que trouxe à tona a luta de Page com o género. Page e Portner separaram-se no verão passado e divorciaram-se efetivamente no início de 2021, apesar de manterem a proximidade. “Tive muito tempo sozinho para realmente me concentrar em coisas que acho, de muitas maneiras e inconscientemente, estava a evitar,” disse ele.

Esse tempo solitário levou-o a uma série de decisões. Uma delas passou por ser tratado com um nome diferente, Elliot, que ele disse ter sempre gostado. Page tem uma tatuagem que diz E.P. PHONE HOME, uma referência ao clássico filme de Spielberg sobre um extraterrestre e um rapaz chamado precisamente Elliot. “Amava E.T. quando era criança e sempre quis parecer-me com os rapazes nos filmes”. A outra decisão foi usar pronome diferente: “Ele”.

A entrevista a Elliot Page esteve em discussão no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈

Outra decisão, contou Page, foi fazer uma cirurgia de resignação. No momento em que publicou a sua divulgação no Instagram, ele estava a recuperar em Toronto. Como muitas pessoas trans, Page enfatizou que ser trans não tem necessariamente a ver com cirurgia. Para algumas pessoas é desnecessário, para outras é inacessível. Para o mundo em geral, o foco dos meios de comunicação na operação sensacionalizou os corpos trans, convidando a perguntas invasivas e inadequadas. Mas Page descreveu a cirurgia como algo que, para ele, tornou possível finalmente reconhecer-se quando se olha ao espelho, proporcionando catarse que ele esperava encontrar desde o “inferno” da puberdade. “A cirurgia transformou completamente a minha vida,” disse ele. Tanta parte da sua energia foi gasta pelo tremendo desconforto em relação ao seu corpo que agora Elliot Page tem diz ter essa energia de volta.

Como uma pessoa trans branca, milionária e famosa, Page tem um tipo único de privilégio e, com isso, uma oportunidade de defender aquelas com menos. “O meu privilégio permitiu-me ter recursos para estar onde estou hoje e é claro que quero usar esse privilégio e plataforma para ajudar da maneira que posso.”


Ep.186 – Renaissance: A Film by Beyoncé (hmmm, yummy, yummy, yummy, make a bummy heated) Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️‍🌈

O CENTÉSIMO OCTAGÉSIMO SEXTO episódio do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves. Antes de darmos por terminada esta temporada do podcast, não podemos ficar indiferentes ao lançamento do incrível filme concerto Renaissance. Usamos os vários momentos documentais do backstage do concerto para falar um pouco da carreira de Beyoncé, focados, claro, no último álbum, Renaissance, inspirado na cena ballroom queer de Nova Iorque e no seu tio gay Johnny que morreu com VIH/SIDA. Voltamos em janeiro para mais uma temporada, que pode ser ligeiramente diferente a nível de periodicidade. Mas mais detalhes só em 2024. Boas festas a todes! 🎄 Artigos mencionados no episódio: Beyoncé lança trailer do filme da celebrada The Renaissance World Tour Beyoncé homenageia O’Shae Sibley, homem gay assassinado por dançar a sua música numa estação de serviço Beyoncé lança remix surpresa de ‘Break My Soul’ com icónica ‘Vogue’ de Madonna Beyoncé dedica álbum Renaissance ao seu tio gay Johnny O Amor (Inclusivo) de Beyoncé O “Chamamento às Armas” de Beyoncé Jingle por Hélder Baptista 🎧 Este Podcast faz parte do movimento #LGBTPodcasters 🏳️‍🌈 Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Twitter e Instagram (@esqrever) e para o e-mail geral@esqrever.com. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Podem deixar-nos mensagens de voz utilizando o seguinte link, aproveitem para nos fazer questões, contar-nos experiências e histórias de embalar: https://anchor.fm/esqrever/message 🗣 – Até já unicórnios  — Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/esqrever/message
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