Fui chamado à atenção pelo Diogo Pereira [ver abaixo] pelo surgimento de um movimento online que se apelida “Super Straight” (ou ‘Super Hétero’). O nome, desde logo, disparou sirenes de aviso. Super Hétero? Quão mais hétero precisa alguém ser quando inserido na população maioritária? Quão frágil é a sua heterossexualidade que precisa ser super?
Nos últimos dias, um grupo de pessoas tem-se referido abertamente a si mesmo como “super heterossexual”, viralizando a expressão em várias redes sociais como o Tik Tok e contando com o apoio de fóruns “ninhos de ódio” como o #4chan. O termo refere-se a uma preferência cuja pessoa mostra atração exclusiva pelo género oposto, com exclusão das pessoas trans. Repito, com exclusão das pessoas trans. Este parece ser, aliás, o ponto de todo este grupo cujos membros afirmam viver uma nova orientação sexual. Ou seja, sentem-se atraídos unicamente por mulheres cisgénero e, ao mesmo tempo, invalidam as mulheres trans. E isso é problemático.
Problemático que é como quem diz transfóbico, porque é a afirmação de uma pseudo-orientação sexual que descarta, minora e ataca a população trans, uma população que já é amplamente descartada, minorada e atacada. Tal como o falhado pseudo orgulho hétero, não há aqui qualquer orgulho. Há apenas a tentativa de inverter uma narrativa em que é a população cis e hétero a que é perseguida e discriminada no mundo, quando sabemos muito bem que é precisamente o contrário que acontece.
E é por isso que esta tentativa de reescrever a história não pega e é perigosa. Porque o ódio tem consequências reais e, em último caso, mata. Importa, pois, percebermos a diferença entre escolha e orientação. Importa percebermos o que nos leva a sentir atração por alguém e desconstruir quaisquer preconceitos que nos condicionem. Importa ainda percebermos a necessidade de afirmarmos algo em detrimento de um grupo já de si marginalizado. Porque, no fim de contas, importa percebermos as consequências desses atos e o alvo dos mesmos.
Neste caso e noutros similares que de tempos a tempos surgem, não nos enganemos, o seu alvo são as pessoas LGBTI no geral e, neste caso em particular, as pessoas trans. Quando o alvo é tão claro, não há forma de esconder tão clara transfobia. E não há nada, absolutamente nada, de super nisso.

Ep.186 – Renaissance: A Film by Beyoncé (hmmm, yummy, yummy, yummy, make a bummy heated) – Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️🌈
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Então a minoria pode ser o que quiser e não respeitam a opinião dos outros. Cadê o respeito a liberdade que vocês tanto pregam?