Hungria: Até quando a União Europeia vai permitir a degradação dos direitos LGBTI nos seus Estados Membros?

O Parlamento Húngaro adotou uma série de alterações que discriminam diretamente as pessoas LGBTI. As alterações foram apresentadas pelo partido governante FIDESZ, liderado por Viktor Órban, e introduzem a proibição da “promoção da identidade de género diferente do sexo atribuído à nascença, da mudança de sexo e da homossexualidade” para menores de 18 anos. Esta é uma lei próxima da conhecida lei “anti-propaganda LGBTI” russa de 2013 que, quando foi implementada, causou num aumento dos crimes de ódio contra a população russa LGBTI e que, segundo a ILGA Portugal, deu origem ao reconhecimento de proteção internacional a pessoas LGBTI+ russas em diversos países, incluindo Portugal.

A Associação mostra uma “profunda preocupação e consternação” sobre “o silêncio da Presidência Portuguesa do  Conselho da União Europeia face aos últimos retrocessos civilizacionais na Hungria“, dado considerar estarmos “perante um ataque vil e abusivo, violador de Direitos Humanos e da dignidade das pessoas LGBTI+  e das suas famílias na Hungria, e contrário à Convenção Europeia de Direitos Humanos e à Carta dos Direitos  Fundamentais da União Europeia e respetivas obrigações internacionais.” Como tal, e estando Portugal na reta final da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia e em plena celebração do Mês do  Orgulho LGBTI+, a ILGA Portugal diz esperar “um repúdio imediato de quem assume a liderança e compromisso com os  princípios e valores da União Europeia.

Simultaneamente, a ILGA Europe considera que as alterações violam claramente uma série de leis da União Europeia e violam as normas internacionais de direitos humanos, em particular a jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, do Comité de Direitos Humanos da ONU e da Carta dos Direitos Fundamentais da UE e do Tratado da União Europeia.

Entrando em maior detalhe, esta proibição será introduzida na seguinte legislação húngara:

· A Lei de Proteção à Criança;

· A Lei sobre Atividade de Publicidade Empresarial;

· A Lei da Comunicação Social – todo este conteúdo será qualificado como categoria V (inadequado para menores), e a publicação do mesmo será proibida em anúncios de serviço público;

· A Lei de Proteção à Família e a Lei de Educação Pública – tais tópicos não podem fazer parte da educação sexual, as escolas não podem convidar palestrantes externos ou ONG para educação sobre “cultura sexual, vida sexual, orientação sexual ou desenvolvimento sexual“, a menos que recebam uma licença especial do Estado para fazê-lo. Participar em tal atividade sem licença é classificado como delito.

A linguagem discriminatória que está a ser introduzida na Lei da Comunicação Social constitui uma clara violação da Diretiva de Serviços de Média Audiovisual da UE. A linguagem discriminatória que está a ser introduzida na Lei sobre Atividade de Publicidade Empresarial constitui uma violação da Diretiva de Práticas Comerciais Desleais da UE. A linguagem discriminatória que está a ser introduzida na Lei de Atividade de Publicidade Empresarial e na Lei de Proteção Familiar viola o direito à livre prestação de serviços e à livre circulação de mercadorias, conforme estabelecido no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.

Com esta votação, a Hungria adotou uma lei antipropaganda de estilo russo que proibirá efetivamente a representação ou comunicação sobre diversas orientações sexuais, identidades de género e características sexuais na esfera pública húngara, bem como locais específicos, como nas escolas. Esta lei viola claramente os princípios da UE estabelecidos na Carta dos Direitos Fundamentais e nos Tratados, bem como pelo menos duas diretivas da UE“, comentou a Diretora Executiva da ILGA-Europe, Evelyne Paradis.

A Comissão Europeia não pode continuar a fechar os olhos para os ataques legislativos em curso lançados pela FIDESZ contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas LGBTI na Hungria. A UE precisa usar todos os instrumentos disponíveis para responsabilizar a Hungria no respeito dos direitos fundamentais, incluindo os direitos LGBTI. As condições de habilitação dos Fundos de Coesão afirmam claramente que os Estados-Membros precisam respeitar os direitos fundamentais estabelecidos na Carta. A Hungria está a violar os direitos fundamentais com esta nova lei e, portanto, nenhum fundo da UE deve ser pago à Hungria antes que a lei seja retirada”, explicou.

Evelyne Paradis concluiu: “Com base na Estratégia de Igualdade LGBTIQ 2020-2025 da Comissão Europeia e nos compromissos públicos renovados, as pessoas LGBTI em toda a UE ainda estão à espera que a Comissão tome uma posição clara em relação aos Estados-Membros e use todas as ferramentas disponíveis: negociações, processos por infração, relatórios do Estado de direito, procedimentos em andamento do Artigo 7, bem como instrumentos de financiamento, para garantir que o governo húngaro pare a violação contínua dos direitos humanos LGBTI no seu país.

É esperada assim uma tomada de posição e uma resposta imediatas das instituições nacionais e europeias perante um ataque tão descarado por um membro da União Europeia contra as liberdades e direitos das pessoas LGBTI no seu país, porque a degradação dos direitos humanos é contagiosa e precisa ser travada de imediato antes que seja tarde demais.

Atualização 7 de julho:

Bruxelas, “enquanto guardiã dos Tratados”, prometeu defender os “princípios fundamentais europeus” e usar “todos os instrumentos disponíveis” se a Hungria não “corrigir” lei anti-LGBTIQ. Perante os aplausos de eurodeputados e eurodeputadas, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, reiterou que a legislação húngara é uma “vergonha”. Membros do Parlamento Europeu defendem suspensão de fundos europeus para a Hungria.


Ep.251 – Festival da Canção e da Eurovisão em rutura, resistência em Budapeste & Come See Me In The Good Light Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBT 🎙🏳️‍🌈

O DUCENTÉSIMO QUINQUAGÉSIMO PRIMEIRO EPISÓDIO do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves.Neste episódio de Dar Voz A esQrever, olhamos para a contestação inédita no Festival da Canção 2026, com a maioria das pessoas concorrentes a rejeitar a participação na Eurovisão e a criticar diretamente a posição da RTP face à permanência de Israel no concurso. Seguimos até Budapeste, onde o presidente da câmara, Gergely Karácsony, arrisca uma acusação criminal por ter permitido a Marcha do Orgulho LGBTQ+, num caso que expõe o conflito entre o poder central autoritário e a autonomia municipal. No segmento Dar Voz A…, destacamos o documentário Come See Me in the Good Light, um retrato íntimo de amor, criação e mortalidade com a pessoa não-binária e poetisa Andrea Gibson como protagonista, bem como com a sua esposa Megan Falley.Artigos Mencionados no Episódio:Festival da Canção 2026: maioria de concorrentes rejeita Eurovisão e critica posição da RTPEspanha, Irlanda, Países Baixos e Eslovénia saem da Eurovisão. Portugal mantém-se num festival cada vez mais divididoGergely Karácsony, Presidente da Câmara de Budapeste, arrisca acusação criminal por permitir a Marcha do Orgulho LGBTQO Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈 está disponível nas seguintes plataformas:👉 ⁠⁠Spotify⁠⁠ 👉 ⁠⁠Apple Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Youtube Podcasts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Pocket Casts⁠⁠ 👉 ⁠⁠Anchor⁠⁠ 👉 ⁠⁠RadioPublic⁠⁠ 👉 ⁠⁠Overcast⁠⁠ 👉 ⁠⁠Breaker⁠⁠ 👉 ⁠⁠Podcast Addict⁠⁠ 👉 ⁠⁠PodBean⁠⁠ 👉 ⁠⁠Castbox⁠⁠ 👉 ⁠⁠Deezer⁠⁠Se nos quiserem pagar um café, ⁠⁠⁠⁠⁠aceitamos doações aqui⁠⁠⁠⁠⁠ ❤️🦄Jingle por Hélder Baptista 🎧Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Bluesky ( ⁠⁠@esqrever.com⁠⁠ ) e Instagram ( ⁠⁠@esqrever⁠⁠ ) ou para o e-mail ⁠⁠geral@esqrever.com⁠⁠. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Até já, unicórnios 🦄#LGBT #LGBTQ #FestivalDaCanção #Eurovisão #BudapestPride #ComeSeeMeintheGoodLight
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  2. Ep.250 – Educação Inclusiva, Eurovisão em ruptura & "Oh, Mary!"
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Respostas de 8 a “Hungria: Até quando a União Europeia vai permitir a degradação dos direitos LGBTI nos seus Estados Membros?”

  1. […] que discriminam diretamente as pessoas LGBTI, nomeadamente através da proibição da “promoção da identidade de género diferente do sexo atribuído à nascença, da mudança de sexo e…” para menores de 18 […]

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  2. […] Em plena reta final deste Mês do Orgulho LGBTI, sabemos que o Parlamento Húngaro adotou uma série de alterações que discriminam diretamente as pessoas LGBTI? Sabemos! […]

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  3. […] das cores da bandeira LGBTI na partida contra a Hungria. E também na falta de posicionamento de Portugal na condenação da lei húngara que visa discriminar as pessoas LGBTI. Ainda temos o Dar Voz […]

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  4. […] A Hungria entra assim neste processo devido à introdução de uma lei anti-LGBTI, aprovada em 15 de junho, onde é proibida qualquer pseudo-promoção da homossexualidade junto de menores de 18 anos. […]

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  5. […] No dia 1 de agosto, decorreu na Hungria o Grande Prémio de Fórmula 1. Este país tem estado debaixo de fogo da comunidade LGBTI+ e de várias organizações por causa da conhecida lei “anti-propaganda LGBTI”, a qual já foi abordada várias vezes por aqui. […]

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  6. […] contra a Hungria por alegada violação dos Direitos LGBTI+. Em causa está a proibição da “promoção da identidade de género diferente do sexo atribuído à nascença, da mudança de sexo e…” para menores de 18 […]

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  7. […] A Hungria aprovou lei que permite a denúncia anónima contra famílias homoparentais. Este é mais um passo do Governo de Viktor Orbán na escalada da ostracização contra a comunidade LGBTI. […]

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  8. […] Hungria introduziu uma lei em 2021 onde é proibida qualquer pseudo-promoção da homossexualidade junto de menores de 18 anos. O modelo foi retirado do governo russo, em que a chamada “lei de propaganda anti-gay” foi […]

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