Outing: Quando celebridades são forçadas a sair do armário

Outing: Quando celebridades são forçadas a sair do armário

O outing é uma situação em que a orientação sexual, identidade de género e/ou características sexuais de uma pessoa são reveladas sem o seu próprio consentimento. É, portanto, um ato de agressão, de pressão e de homofobia, bifobia ou transfobia contra uma pessoa.

Em pleno Mês do Orgulho LGBTI aconteceu a tentativa de outing da atriz e produtora Rebel Wilson por parte de um jornal australiano. Felizmente, após pressão do tablóide, Wilson anunciou ao mundo a sua relação com a estilista Ramona Agruma nos seus próprios termos. Ou melhor, nos seus próprios termos após terem-lhe sido concedidos dois dias para o fazer.

Mas se há discussão sobre timings, também é verdade que esta tem sido uma constante ao longo dos anos em que artistas e celebridades vêem a sua orientação sexual exposta contra a sua vontade, contra o seu próprio tempo. O que não deixa de ser curioso é que esse tipo de agressões surgem por vezes de onde menos esperamos: de pessoas aliadas. Daí o especial cuidado que o assunto deve tomar, porque os nossos timings nem sempre são os mesmos de outras pessoas. Eis alguns exemplos:

Ricky Martin

O popular cantor Ricky Martin disse que se sentiu “violado” pela questões da icónica jornalista Barbara Walters. Em 2000 e em plena entrevista, Walters disse a Martin que poderia “parar esses rumores” sobre a sua sexualidade, convidando-o a sair do armário. Martin recusou educadamente: “Barbara, por algum motivo, simplesmente não estou com vontade.”

Dez anos passados, Walters confirmou que se arrependera da maneira como interrogou Martin: “pressionei imenso o Ricky Martin para admitir se ele era gay ou não, e a maneira como ele se recusou a fazê-lo fez com que toda a gente dissesse que ele era“. disse. “Muitas pessoas dizem que isso destruiu a sua carreira, e quando penso nisso agora, sinto que foi uma pergunta inadequada”, confessou a jornalista.

Senti-me violado, porque simplesmente não estava pronto para sair do armário“, disse Martin. “Estava com muito medo”, rematando que “não podemos forçar ninguém a sair do armário.”

Lance Bass

Lance Bass, o cantor da banda *NSYNC foi forçado a fazer uma declaração pública sobre a sua sexualidade em 2006, depois de Perez Hilton, blogger gay, o ter apelidado de “Princess Frosty Locks” e ter entrado numa sucessão de artigos insultuosos contra Bass que forçavam o seu outing.

Em 2007, Bass explicou que “dois anos antes de sair do armário, fui realmente intimidado na internet por bloggers. Foi quando Perez Hilton tinha começado e foi realmente malicioso.

Neil Patrick Harris

O ator Neil Patrick Harris falou igualmente sobre quando ele foi vítima de uma campanha de Perez Hilton em 2006. “[Ele] começou a publicar artigos sobre mim e a pedir às pessoas que apresentassem histórias“, lembrou Harris. “Tornou-se evidente que eu precisava reagir de forma assertiva, mas respeitável.”

O ator acrescentou que a sua maior preocupação era sair do armário com respeito ao seu marido, David Burtka. “Não foi apenas para mim“, disse, “mas tentei representar-me bem“.

Nathan Lane

O icónico ator Nathan Lane apareceu no programa de Oprah em 1996 para promover The Birdcage (Casa de Doidas, em Portugal). Antes da gravação, ele disse que não queria falar sobre a sua sexualidade. Mas quando as câmeras começaram a gravar, Oprah perguntou-lhe sobre o tema. Lane congelou. Felizmente, a sua co-estrela, Robin Williams, interveio rapidamente e salvou a situação com o seu humor.

Lane chamou toda a experiência de “aterrorizante“.

Jonathan Knight

O membro da banda New Kids On The Block, Jonathan Knight, sofreu o outing acidentalmente pela sua antiga namorada, a estrela pop dos anos 1980, Tiffany, que dá espetáculos atualmente em inúmeros Prides. Ela disse a Andy Cohen no programa Watch What Happens Live que ele “tornou-se gay” depois do seu namoro.

Jonathan Knight e Tiffany

No dia seguinte, Knight emitiu um comunicado a explicar que nunca escondeu ser gay e Tiffany pediu desculpa pelo lapso. Knight aceitou o seu pedido de desculpas e disse que não havia ressentimentos. Os dois permanecem próximos até aos dias de hoje.

Denise Richards

Relatos de que Denise Richards, a atriz Wild Things, era bissexual surgiram quando as suas co-estrelas de Real Housewives of Beverly Hills, lançaram rumores de que ela traíra o marido com Brandi Glanville. Lisa Rinna, que alegou ser a melhor amiga de Richards, chegou ao ponto de partilhar mensagens de texto privadas na tentativa de expôr Richards.

Richards, que nunca declarou publicamente como se identifica, não gostou dessa pressão. O público também discordou do programa perpetuar estereótipos sobre pessoas bissexuais serem mentirosas e manipuladoras. Após o fim da temporada, Richards anunciou que não retornaria ao programa. Teddi Mellencamp foi demitida, e Rinna mostrou-se arrependida sobre como lidou com a situação, dizendo que “aprendeu” com ela.

Richards é hoje uma declarada aliada da comunidade LGBTI.

Lee Pace

A estrela da Broadway Lee Pace foi empurrada para fora do armário numa entrevista de 2018 quando o jornalista, gay, Brian Moylan lhe perguntou a sua opinião sobre atores gay a interpretar personagens gay. Pace respondeu: “Namorei homens. Namorei mulheres. Não sei por que alguém o acharia relevante. Eu sou ator e desempenho papéis. Para ser honesto, não sei o que dizer. Acho a sua pergunta intrusiva.

Dias depois, Pace emitiu um comunicado onde afirmava fazer parte da comunidade LGBTQ. Mais tarde recordou que a má experiência acabou por se tornar numa bênção disfarçada, pois atribuiu-lhe uma “oportunidade de participar” na comunidade LGBTQ de uma nova forma.

Clay Aiken

O antigo American Idol substituiu Regis Philbin no programa Live With Regis and Kelly em 2006 e a química entre ele e Kelly Ripa não era a melhor. Num determinado episódio, Aiken, que não estava fora do armário, mas havia rumores de que era gay, colocou a mão sobre a boca de Ripa. Ela respondeu: “Eu não sei onde essa mão esteve, querido!” O comentário pareceu estar a aludir aos rumores na internet que circulavam sobre Aiken ter participado em sessões de fisting.

As coisas só pioraram alguns dias depois, quando Rosie O’Donnell acusou Ripa de ser homofóbica no programa The View, ao afirmar que Ripa nunca teria feito a observação “se fosse um homem hétero“.

Em 2019, Aiken disse ao autor Ramin Setoodeh: “A verdade é que [Rosie] fez o meu outing de certa forma, porque eu ainda não tinha saído do armário. Quando ela disse as palavras: “Se esse fosse um homem hétero”, ela estava a confirmar que sabia que eu não era. Esse foi o pior dia da minha vida.

Outing em Portugal também existe

Em Portugal há casos conhecidos de figuras públicas que sofrem outing. Em 2016, actriz e então protagonista da telenovela da SIC Coração D’Ouro, Mariana Pacheco, foi vítima de perseguição por um tablóide nacional antes de conseguir assumir a sua relação com Filipa Marinho.

Também o político Paulo Rangel foi forçado a assumir-se como homossexual, após o outing de um tablóide nacional. “Ando a ser alvo de umas campanhas negras por causa da minha orientação sexual”, referindo-se à capa do tablóide renascido Tal & Qual.

Quase nunca um outing tem justificação. É ética e moralmente reprovável, podendo inclusive colocar a vítima em perigo, por exemplo, em casos em que não é aceite pela família. Uma rara exceção? Quando uma figura combate ativamente contra a população LGBTI e os seus direitos como o então eurodeputado József Szájer, figura estandarte do ultra-conservador partido Fidesz da Hungria de Victor Orban, que foi detido numa orgia gay ilegal em Bruxelas no pico da pandemia em 2021.

One comment

  1. Concordo que sair do armário é decisão pessoal e que cada pessoa tem seu tempo, mas muitas vezes falta autenticidade, isso é, o (a) artista passa para o público ser o “mais convicto hetero”, já há quem possa interpretar um vilão mas o jeito dos lábios ao falar e o movimento dos olhos, dão “fidelidade” a sexualidade que tem, como aconteceu com dois atores brasileiros, onde um deles, o público chegou a “não acreditar” definindo como “modismo”, assim como atrizes e cantoras, que nem cogitavamos serem bissexuais, de “tão” cisgeneras que se esmeram em se apresentarem! E de todos os países, presumo que os Bissexuais no Brasil enfrentam menos resistências, já que a chamada sexualidade fluida, teve seu marco inicial nos anos 60, chamados de anos dourados e perdura até hoje!

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