
Numa altura em que Portugal regista 710 e o Brasil 1.721 casos de infeção por Monkeypox, o vírus continua a espalhar-se no mundo com especial foco, mas não só, em homens que têm sexo com homens. Importa assim conhecer medidas concretas de prevenção que diminuam o risco de transmissão.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a redução de parceiros sexuais no combate ao surto. Têm surgido também debates com especialistas e ativistas que procuram dar resposta às questões de combate e prevenção à doença e ao estigma que ainda lhe é associado. Este artigo serve assim de reforço dessas mensagens.
Deteção de sintomas é essencial
Uma das maneiras pelas quais as pessoas podem minimizar o risco de transmissão do Monkeypox é fazer uma simples deteção dos sintomas. Quem o afirma é Mateo Prochazka, epidemiologista de doenças infecciosas da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido. Recomenda que as pessoas examinem de perto a sua pele em busca de novas erupções cutâneas. Muitas pessoas que contraíram o vírus tiveram lesões nos órgãos genitais ou em redor do ânus.
“É muito importante que as pessoas saibam que às vezes a erupção cutânea pode ser pequena”, explica, “especialmente porque são encontradas na área genital, púbica e anal”. Cortar os pêlos púbicos pode ajudar a identificar e garantir que não há lesões. “Essa primeira deteção é um passo à frente para garantir que não tenhamos infecção.”
Prochazka também recomenda que as pessoas tenham conversas abertas com novos parceiros sexuais sobre os sintomas antes de fazer sexo. Pequenas medidas, como serem usados espaços iluminados, também podem facilitar a deteção de lesões ou erupções cutâneas na pele.
“As pessoas podem optar por fazer uma pausa ou diminuir o número de novos parceiros. Podem apenas focar-se nos parceiros com quem fazem sexo com mais regularidade para minimizar o risco”, explica. O epidemiologista sugere também que as pessoas troquem detalhes de contacto com novos parceiros sexuais caso os sintomas se desenvolvam após o sexo.
Monkeypox não é ainda considerada uma doença sexualmente transmissível
Existem outras medidas que as pessoas podem tomar, mas a sua eficácia ainda não está comprovada atualmente. Os preservativos, por exemplo, podem desempenhar um papel na redução da transmissão, mas especialistas ainda estão a procurar evidências concretas para esse efeito.
“O vírus foi isolado do sémen e da zona anal, como tal, sabemos que potencialmente poderá ser transmitido durante o sexo penetrante ou durante o contacto com o sémen”, diz. “Mas ainda não temos evidências fortes para o apoiar e é por isso que o Monkeypox não é considerada uma doença sexualmente transmissível.”
Ainda assim, como os preservativos podem desempenhar um papel na proteção das pessoas, é atualmente recomendando que as pessoas os usem por 12 semanas após a infecção por Monkeypox.
“É aconselhável usar preservativos porque outras infeções sexualmente transmissíveis também estão em circulação e têm aumentado após o relaxamento dos bloqueios para a COVID-19. Os preservativos são definitivamente uma boa ideia, assim como a PrEP do VIH. Mas especificamente para o vírus do Monkeypox, nenhuma delas poderá necessariamente proteger”, explica Prochazka.
A mensagem de abstinência não é solução contra a Monkeypox
Tal como a OMS defendeu, a melhor maneira de retardar a transmissão de Monkeypox passaria pela redução temporária do número de parceiros sexuais. Mas as autoridades de saúde tendem a fugir deste tipo de mensagens contundentes, dado que isso pode levar a um maior estigma – especialmente para uma comunidade que viveu a epidemia do VIH/SIDA.
“Como comunidade, aprendemos tantas lições com o VIH/SIDA e com as mensagens que nos foram dadas”, diz Prochazka. “Sabemos que a abstinência como uma declaração geral não funciona – não é viável ou aceitável. Mas o que é verdade é que pequenas mudanças nas nossas práticas podem ajudar no controlo deste surto. Poderá passar por fazer uma pausa se tivermos sintomas, apenas fazer sexo com pessoas que conhecemos, ou talvez minimizar ou diminuir o nosso número de parceiros sexuais.”
O epidemologista também sugere que as pessoas em relacionamentos abertos podem querer fechá-los temporariamente, mas enfatiza que cada pessoa deve tomar de forma informada as suas próprias decisões sobre o que é certo para elas.
“Algumas pessoas estão interessadas em continuar essas práticas, mesmo que informadas dos seus riscos e essa será a escolha delas”, diz.
“Ao entrevistar centenas de casos, sabemos que as pessoas estão a adquirir a infecção principalmente através de contacto sexual, não necessariamente através de eventos sociais”, refere. “Geralmente é contacto direto e próximo, como o tipo de contacto que temos durante o sexo que facilita a transmissão da infecção.”
A vacina é a chave
Quem está em maior risco de contrair o Monkeypox – especificamente quem faz sexo com novos parceiros ou com várias pessoas – deve tentar tomar uma vacina o mais rápido possível. As vacinas estão a ser usadas na prevenção e no combate à propagação do vírus, apesar da sua quantidade ainda ser bastante limitada.
“Não posso dizer às pessoas para mudar as suas práticas, mas a mensagem que quero transmitir é que as pessoas devem cuidar de si mesmas. É realmente uma infecção desagradável, pode ser bastante dolorosa, pode levar a experiências muito desagradáveis e a muito estigma e vergonha também”.
“Acho que é muito importante que consideremos essas coisas e talvez pensemos em pequenas mudanças nas nossas práticas que possam diminuir o risco à medida que a vacinação avança.”
Em Portugal o plano de vacinação contra o Monkeypox dá-se apenas pós-exposição
Em Portugal foram confirmados esta semana 710 casos de infeção, sendo 4 deles em pessoas do sexo feminino. Ainda não foram verificadas mortes no país.
A norma lançada a 12 de julho pela Direção-Geral da Saúde recomenda que a vacina contra a infeção humana por vírus Monkeypox seja dada apenas após a exposição ao mesmo:
- Recomenda-se, à data, que a vacina JYNNEOS® seja utilizada como profilaxia pós-exposição a casos de infeção humana por VMPX.
- Critérios de elegibilidade para vacinação contra infeção humana por VMPX.
- Pessoas, assintomáticas, que sejam contactos próximos de casos.
- A vacinação deve ocorrer idealmente nos primeiros 4 dias após o último contacto.
- A vacinação poderá ainda ocorrer até 14 dias após a última exposição, se a pessoa se mantiver assintomática e se o caso a que a pessoa foi exposta for provável ou confirmado.
- As pessoas com infeção humana por VMPX prévia confirmada não são elegíveis para vacinação.
Medidas de prevenção da DGS para o Monkeypox
São estas as recomendações da Direção-Geral da Saúde de combate ao surto em Portugal:




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