
Mais de 31.000 casos de Monkeypox foram relatados em todo o mundo desde 10 de janeiro, mais de 16.000 deles em países da União Europeia. Portugal conta com 810 casos registados e o Brasil 3.788. A maioria das pessoas recuperou em casa sem problemas duradouros. Mas as equipas médicas estão a trabalhar para entender por que o vírus do Monkeypox pode ser grave e, embora raramente, pode levar à morte.
De acordo com os últimos números da Organização Mundial da Saúde (OMS) – que recomendou a redução de parceiros sexuais no combate ao surto – houve duas mortes por Monkeypox em Espanha, uma no Brasil, uma no Equador e outra na Índia – países considerados não endémicos da doença.
Rosamund Lewis, líder técnico na resposta do Monkeypox da OMS, disse que a falta de uma compreensão clara sobre a gravidade da doença é uma das razões pelas quais as doenças infecciosas são tão desafiadoras.
“Quando as pessoas são expostas a agentes infecciosos, elas respondem de maneiras diferentes”, disse. Algumass não desenvolverão nenhum sintoma ou apenas problemas leves, como febre baixa. Elas melhoram e seguem em frente com suas vidas. Outras, no entanto, desenvolvem complicações muito graves. “Estamos a ver isso agora”, confirmou o especialista.
Lewis diz que a OMS pediu a todos os países mais informações sobre as circunstâncias em torno de qualquer morte por Monkeypox.
Dois homens anteriormente saudáveis morreram em Espanha após infeção por Monkeypox
Dois casos recentes soaram o alarme.
Um relatório de Isabel Jado, diretora do Instituto Nacional de Microbiologia da Espanha, diz que as duas mortes naquele país ocorreram em homens de 44 e 31 anos. Os seus casos parecem não estar relacionados. Os homens não se conheciam e não eram sequer da mesma área. Antes da infeção, eles eram saudáveis, sem factores de risco subjacentes para doenças graves, como por exemplo um sistema imunológico enfraquecido.
Ambos os homens desenvolveram encefalite, um inchaço do cérebro que pode ser desencadeado por infecções virais. Acabaram por entrar em coma e morreram.
Andrea McCollum, epidemiologista e especialista em vírus da varíola dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América, disse que a encefalite é uma condição muito rara conhecida por estar associada à varíola. Foi relatado em pessoas com Monkeypox na África Ocidental e em um paciente nos EUA em 2003, durante um surto ligado à importação de cães da pradaria.
“Por que alguns desses pacientes têm encefalite é algo que não sabemos”, disse McCollum.
A gravidade da doença da varíola provavelmente depende da saúde subjacente de uma pessoa, dos recursos de saúde aos quais ela tem acesso e da variante do vírus com o qual está infectada.
Na Bacia do Congo da África Central, diz McCollum, cerca de 11% dos casos de varíola são fatais, em grande parte porque a população não foi vacinada nem mesmo contra o vírus da varíola, que protegeria contra o Monkeypox (“varíola dos macacos”).
Na África Ocidental, o Monkeypox provoca a morte a cerca de 1% das pessoas infetadas, de acordo com dados que vêm principalmente da Nigéria. Também mostra que as pessoas que morrem geralmente têm fatores de risco que diminuem sua função imunológica, como o VIH mal controlado.
Bebés correm também maior risco dado que não têm um sistema imunológico totalmente funcional, disse McCollum. Grávidas também têm imunidade reduzida e podem estar em maior risco de uma infecção por Monkeypox.
Acredita-se que a variante do vírus que circula na África Ocidental – a mesma que circula agora em países não endémicos – cause uma doença mais leve do que a da variante da Bacia do Congo.
Fora dessas configurações endémicas, não se sabe muito sobre como e por que os casos podem tornar-se graves. As autoridades de saúde pública estão a aprender com os dados em tempo real.
Monkeypox pode desenvolver doença grave, mas ainda sem mortes em Portugal
Até 17 de agosto de 2022, foram reportados 729 casos de Monkeypox em Portugal, sendo que a maior parte pertence ao grupo etário entre os 30 e 39 anos. A maioria dos casos são do sexo masculino (99,2%), havendo 6 casos (0,8%) reportados no sexo feminino.
A Direção-Geral da Saúde considera a infeção por vírus Monkeypox uma doença que na maioria das pessoas evolui para a recuperação total em algumas semanas. Pode ser um processo desconfortável devido aos sintomas gerais iniciais (febre, dor de garganta e dores musculares, dor de cabeça) e aos sinais (lesões da pele e mucosas e adenopatias). Em alguns casos, podem ocorrer doença grave, especialmente em crianças, grávidas e pessoas imunocomprometidas, que podem necessitar de cuidados hospitalares.
Em Portugal o plano de vacinação dá-se apenas pós-exposição do Monkeypox
Quem está em maior risco de contrair o Monkeypox – especificamente quem faz sexo com novos parceiros ou com várias pessoas – deve tentar tomar uma vacina o mais rápido possível. Quem o defende é Mateo Prochazka, epidemiologista de doenças infecciosas da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido. As vacinas estão a ser usadas na prevenção e no combate à propagação do vírus, apesar da sua quantidade ainda ser bastante limitada.
Ao contrário de outros países que começam, ainda que lentamente, a ter vacinação aberta, a norma lançada a 12 de julho pela Direção-Geral da Saúde recomenda que a vacina contra a infeção humana por vírus Monkeypox seja dada apenas após a exposição ao mesmo:
- Recomenda-se, à data, que a vacina JYNNEOS® seja utilizada como profilaxia pós-exposição a casos de infeção humana por VMPX.
- Critérios de elegibilidade para vacinação contra infeção humana por VMPX.
- Pessoas, assintomáticas, que sejam contactos próximos de casos.
- A vacinação deve ocorrer idealmente nos primeiros 4 dias após o último contacto.
- A vacinação poderá ainda ocorrer até 14 dias após a última exposição, se a pessoa se mantiver assintomática e se o caso a que a pessoa foi exposta for provável ou confirmado.
- As pessoas com infeção humana por VMPX prévia confirmada não são elegíveis para vacinação.