O Twitter De Elon Musk legitima ataques a pessoas Queer

O Twitter De Elon Musk legitimará ataques a pessoas Queer

Desde a semana passada, o Twitter pertence oficialmente ao homem mais rico do mundo, Elon Musk. Num turbilhão de avanços e recuos, Musk comprou a rede social com a promessa de restaurar a “liberdade de expressão”. O problema surge quando a sua versão da “liberdade de expressão” é aquela em que comunidades marginalizadas, incluindo pessoas LGBTI+, podem ser abertamente intimidadas sem que haja consequências para quem as ataca.

A história do Twitter está repleta de desafios sobre a forma como a plataforma lida com discursos de ódio, bullying e roubos de identidade. Ao longo dos anos as comunidades mais marginalizadas foram, por regra, as que sofreram mais abusos. O Twitter encontra-se precisamente entre as plataformas que não estão a fazer o suficiente para proteger as pessoas LGBTI+ contra abusos, de acordo com um estudo da GLAAD.

Através do Twitter, comunidades LGBTI+ conseguiram criar grupos de partilha que as empoderou, mas não sem os seus próprios desafios. Por exemplo, em pleno Mês do Orgulho LGBTI+ de 2021, o Twitter decidiu verificar a conta da LGB Alliance, uma organização abertamente transfóbica. Aliás, o próprio Elon Musk tem sido acusado de vários tweets homo e transfóbicos, onde criticou a ideia do uso de pronomes correspondentes ao género da pessoa.

Apesar da lentidão, a verdade é que o Twitter disponibilizava ferramentas de denúncia para que pessoas e comunidades pudessem apontar a quem falhava as diretrizes da plataforma no que toca ao respeito e ao discurso de ódio. Por exemplo, durante o Jogos Olímpicos de 2021, o Twitter removeu vários vídeos que expuseram atletas olímpicos LGBTI em Tóquio que usaram a dating app Grindr. Ora, com o anúncio do despedimento coletivo de 50% das sua equipas, que incluiu a maioria da de moderação da plataforma, todo este trabalho fica fragilizado. E com ele os alvos do discurso de ódio. Elon Musk já garantiu que os despedimentos não vão afetar os processos de denúncia na plataforma. Será?

Elon Musk sempre perpetuou discurso de ódio

No ano passado, a administração do Twitter finalmente levou a sério a homofobia e a transfobia no seu site ao apagar tweets que retratavam drag queens como groomers e ao suspender temporariamente um relato satírico da página Babylon Bee que partilhou discurso de ódio contra pessoas trans. Elon Musk, não ficou satisfeito com a proibição de Babylon Bee, entrou em contacto com o seu CEO sobre a possibilidade de comprar o Twitter e reverter a decisão. Ou seja, a compra do Twitter por Musk começou, pelo menos em parte, porque ele queria defender um tweet transfóbico.

A própria filha de Elon Musk, fruto de uma relação com Justine Wilson, que se divorciou de Musk em 2008, cortou relação com o pai. A filha é uma pessoa trans e o corte na relação deu-se depois de uma série de comentários depreciativos de Musk contra o uso dos pronomes: “Eu apoio absolutamente as pessoas trans, mas todos esses pronomes são um pesadelo estético.

Há o compromisso de restaurar contas de pessoas perigosas

O Twitter de Elon Musk já parece um espaço tão hostil a pessoas LGBTI+ que a Human Rights Campaign emitiu um comunicado: “Musk comprometeu-se a restaurar as contas de pessoas perigosas que fomentam o extremismo e a desinformação. Quando isso acontecer, o Twitter – um lugar onde muitas pessoas marginalizadas, incluindo pessoas LGBTQ+, encontram comunidades que enfrentam ataques de ódio – rapidamente tornar-se-á ainda mais hostil.”

Algumas das contas que podem ser restauradas incluem as de Marjorie Taylor Greene e Steve Bannon, ambas figuras proeminentes que têm sido extremamente vocais contra os direitos e o bem-estar das pessoas queer.

O discurso de ódio contra comunidades marginalizadas não deixa apenas essas pessoas desconfortáveis – é um catalisador perigoso para capacitar a violência contra as nossas comunidades mais vulneráveis. O Twitter de Elon Musk obviamente não é sobre proteger a liberdade de expressão. Se fosse, o seu foco centrar-se-ia na proteção das pessoas se sentirem confortáveis o suficiente para falar na plataforma. Em vez disso, trata-se de permitir que quem agride o faça impunemente. E quando isso acontece numa das redes mais influentes do mundo, o futuro das comunidades LGBTI+ apresenta-se mais hostil e desafiante. Com o alto patrocínio de 44 mil milhões de Elon Musk.