Eureka O’Hara assume-se mulher trans: Não quero perder mais tempo, quero ser feliz

Eureka O'Hara assume-se mulher trans: Não quero perder mais tempo, quero ser feliz

Depois de anos de descobertas e desafios em relação à sua identidade de género, Eureka O’Hara revela-se uma mulher trans.

Sinto-me abençoada agora, porque sei quem sou sem dúvida“, disse em entrevista.

Foi por causa do seu programa da HBO, We’re Here – no qual ela e suas colegas drag queens Shangela e Bob the Drag Queen visitam pequenas cidades nos Estados Unidos da América – que ela decidiu fazer a transição. Sete meses depois de tomar a decisão de fazer a transição, Eureka tem orgulho de partilhar agora a sua história publicamente pela primeira vez.

Tem sido realmente mágico e provavelmente o caminho de transição e de saída de armário mais fácil que já fiz“, diz ela. “Espero que a minha história ensine às pessoas que o género é um percurso e que somos pessoas em constante evolução.”

Simplesmente fez sentido

Durante as gravações de um episódio de We’re Here, Eureka conheceu Mandy que fez a sua transição aos 70 anos de vida para ser feliz.

Ouvir a história de Mandy que se arrependeu de ter perdido todo aquele tempo – e a dor que ela passou enquanto não pôde ser ela mesma – foi muito importante para mim“, explica Eureka. Quando saiu da casa de Mandy a mente da apresentadora do programa entrou em espiral. “O que está a acontecer?!“, questionou-se. “Então apenas respondia a mim mesma: ‘Sou trans. Sou uma mulher trans.’ Apenas clicou“, diz Eureka.

Agora estou com 31 anos e não quero perder 40 anos – eu quero passar esses 40 anos feliz.”

Eureka O’Hara sofreu pressão familiar e de profissionais de saúde, mas as razões já são bem conhecidas

Nos primeiros dias da sua transição, Eureka O’Hara teve um forte sistema de apoio, incluindo a sua drag mother Jacqueline St. James e as suas irmãs Shangela e Bob.

Eureka sentiu-se fortalecida para partilhar e retomar a sua própria narrativa no programa, já que ela teve vários momentos desafiantes na sua vida. Antes desta transição, Eureka identificou-se como um homem gay cis, depois viveu como uma mulher trans dos 18 aos 22 anos antes de se identificar como não-binária.

Sempre fui chamada de gay antes mesmo de saber o que era gay; quando quis fazer a transição antes, outras pessoas disseram-me que era trans antes de realmente entender o que era ser trans. Desta vez posso fazer da minha maneira.”

A jornada da identidade de género de Eureka começou quando ela era criança. “Só me lembro de ir dormir, chorar e rezar para acordar uma menina“, lembra Eureka.

Havia uma pergunta no fundo da minha mente: ‘Será que me dei a chance de ser um jovem gay?‘”, questionou-se entre dos 18 aos 22 anos. Eram muitas as perguntas da sua família e de terapeutas, muitas opiniões de outras pessoas.

Este tipo de dúvidas, alimentadas por pessoas familiares ou equipas clínicas mal formadas, pode levar a casos de destransição. É hoje sabido que 13,1% das pessoas trans fizeram uma destransição nalgum momento da suas vidas. Destas, 82,5% atribuem a sua decisão a pelo menos um fator externo. A pressão da família, ambientes escolares não afirmativos ou aumento da vulnerabilidade à violência, incluindo a agressão sexual são os mais usuais.

Eureka e a parte mais difícil de ser-se trans

É difícil ser-se mulher – essa é a verdade! É ainda mais difícil ser uma mulher trans, porque temos de nos esforçar 10 vezes mais para nos apresentarmos como mulher. Não surge tão naturalmente“, diz. “Há tantas coisas que temos que fazer para nos prepararmos para o visual feminino ideal que a sociedade deseja ver, para que possamos sentir-nos aceites na sociedade ou em público. Essa é provavelmente a parte mais difícil de ser trans.”

Mas, por fim, Eureka está a receber o apoio dos seus pares e é esse apoio que lhe dá otimismo. Não só por ela, mas pelo momento sensível que se vive nos EUA, onde drag queens estão a sofrer protestos e ataques pelos seus espetáculos.

O que me dá esperança é que quanto mais intolerância e discriminação encontramos, mais alto as pessoas lutam, se erguem e se manifestam“, diz ela. “As pessoas estão a torcer por nós.”

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